CBDC desperta interesse de países africanos, que apostam no desenvolvimento do dinheiro digital

Depois de a Nigéria lançar oficialmente a primeira CBDC do continente, outros governos miram na criação de versões digitais de suas moedas com vistas a beneficiar o seu sistema financeiro e de pagamentos.
CBDC desperta interesse de países africanos, que apostam no desenvolvimento do dinheiro digital
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Equipe Propague
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A cada dia, mais governos estudam a criação de uma moeda digital emitida pelo banco central em seus territórios, a chamada CBDC na sigla em inglês. No continente africano esse movimento não é diferente e gradualmente suas nações confirmam o interesse na tecnologia. Nesse contexto, a Nigéria foi o primeiro país africano a lançar oficialmente a sua CBDC. Agora, é a vez da Tanzânia, que embora ainda não tenha informado uma data para o lançamento, há planejamento para tal de acordo com seu banco central.

Contudo, as iniciativas não param por aí! Na verdade, antes mesmo da Nigéria e da Tanzânia, o Banco de Gana (o banco central do país) já havia dito que, em breve, também teria a sua CBDC, restando aguardar. Enquanto isso, outros países da região seguem na mesma direção: África do Sul, Zimbábue, Namíbia, Tunísia, Ruanda, Marrocos, Egito e Quênia, entre outros, também avisaram que estudam a viabilidade de introduzir versões digitais de suas moedas.

De acordo com os analistas de mercado, o movimento ganhou corpo depois da experiência chinesa com os pilotos do e-Yuan, mas principalmente por conta do caso da Nigéria, que desde outubro de 2021 disponibiliza a e-Naira, CBDC pioneira na África. Aliás, uma das poucas nações do mundo a fazê-lo.

Na época do lançamento, o Banco Central da Nigéria (BCN) disse que e-Naira é fruto de vários anos de trabalho e pesquisa no sentido de modernizar o seu sistema de pagamentos. Como resultado, o BCN espera tornar as transações financeiras mais fáceis e ágeis para toda a população do país. Contudo, esclarece que a CBDC não chegou para substituir o seu dinheiro físico.

“As duas formas da moeda vão coexistir nas mesmas condições, tendo, inclusive, o mesmo valor. Diferenciam-se apenas na sua natureza, possibilitando mais formas de uso. Dada a sua natureza digital, a e-Naira vai viabilizar, por exemplo, pagamentos P2P, assim como pagamentos com uma carteira eletrônica por meio da leitura de um QR Code”, explicou.

Leia também: CBDC: o que são as moedas digitais dos bancos centrais

Nigéria: produtos financeiros com base em CBDC

Em suas declarações o presidente do BCN, Godwin Emefiele, tem afirmado que a CBDC nigeriana trará inúmeros benefícios para o seu país, sobretudo para o seu sistema financeiro. Na sua avaliação, a moeda digital poderá ajudar a Nigéria no comércio internacional, possibilitando mais inclusão financeira e auxiliando a gerar remessas mais acessíveis e rápidas.

Além disso, de acordo com o BCN, a proposta não é tirar os bancos comerciais do meio de campo. “Mas sim melhorar, entre outras questões, a forma como eles lidam com a moeda oficial do país, facilitando pagamentos e a arrecadação de tributos”, justifica Emefiele.

Nesse sentido, o BCN também disse, recentemente, que deseja que os provedores de serviços de pagamentos, instituições financeiras e fintechs desenvolvam e ajudem a introduzir produtos baseados em sua CBDC. Conforme noticiado na imprensa local, a diretora do Departamento de Tecnologia da Informação da autoridade monetária, Rakyia Mohammed, disse que “o banco está aberto a sugestões ou ideias que agreguem valor à e-Naira ou que melhorem a experiência do usuário”.

Ela pediu ainda que os prestadores de serviços de pagamentos do país encontrem formas mais inovadoras de apoiar o público no processo de integração, assim como os incentivou a desenvolver soluções que suportem funções offline da CBDC, incluindo cartões, wearables, entre outros.

Moeda digital da Tanzânia

Depois do lançamento da e-Naira foi a vez da Tanzânia seguir os mesmos passos. No início de dezembro, seu Banco Central (Banco da Tanzânia) anunciou que o país está se preparando para criar uma versão virtual do xelim da Tanzânia, moeda oficial do país desde 1966.

O anúncio foi seguido de uma declaração do presidente do banco, Florens Luoga, confirmando a iniciativa. “O movimento a fim de lançar uma CBDC é para garantir que a Tanzânia não fique de lado nessa tendência e não seja pega despreparada. Nesse sentido o Banco da Tanzânia já começou os preparativos”, afirmou durante a 20ª Conferência de Instituições Financeiras (COFI), na capital do país, Dodoma.

Para lançar a CBDC, ele disse que o Banco da Tanzânia fez uma parceria com uma fintech de Barbados. Além disso, adiantou que o banco também planeja expandir a pesquisa sobre moedas digitais em geral e fortalecer o conhecimento dos funcionários sobre o tema.

Ao mesmo tempo, contou que a autoridade monetária pretende diversificar as suas reservas cambiais e que o banco continua cauteloso com as criptomoedas, lembrando que elas são ilegais no país, “embora isso possa mudar em breve”, emendou. A afirmação vai ao encontro do desejo da presidente da Tanzânia, Samia Suluhu Hassan, que disse, em junho de 2021, que o país deveria estar preparado para criptoativos.

Desenvolvimento de CBDC pelo mundo

Em outubro de 2021, a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva disse, durante um encontro organizado pela Universidade Bocconi e pelo Instituto Italiano de Estudos Políticos Internacionais (ISPI), que “mais da metade dos bancos centrais em todo o mundo, o que envolve cerca de 110 países, estão em algum estágio de análise de criação de uma CBDC”.

De acordo com ela, “o FMI está olhando para as moedas digitais como um todo, tendo em vista a perspectiva de estabilidade macroeconômica e financeira global”. Nesse sentido, ela vê entre as oportunidades a possibilidade de transferência de dinheiro entre países de forma integrada e a um custo menor, embora afirme que é preciso deixar claro o que se entende como dinheiro digital. Afinal, ela já chegou a considerar as criptomoedas como uma ameaça potencial à estabilidade financeira, ao passo que acredita que a CBDC é a forma mais confiável de moeda digital, tendo em vista que tem o respaldo do governo e está integrada à política monetária de cada país.

No Brasil, o Banco Central (BC) ainda se debruça sobre a questão tendo promovido uma série de seminários para subsidiar o debate sobre a criação do real digital. Ao passo que, recentemente, anunciou o lançamento de um laboratório de tecnologias voltadas para moeda digital. A previsão é de que os testes da sua CBDC incluindo consumidores ocorram até 2023. Inicialmente, isso contemplará apenas segmentos limitados de clientes das instituições financeiras.

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