CBDCs e stablecoins podem trazer riscos para países em desenvolvimento, argumentam especialistas

Para autores de estudo divulgado pelo BIS, as moedas digitais podem ser adotadas em alguns desses mercados, mas não foram testadas em larga escala, podendo apresentar desafios.
CBDCs e stablecoins podem trazer riscos para países em desenvolvimento, argumentam especialistas
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Equipe Propague
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Ativo na discussão sobre moedas digitais, tendo proposto recentemente que stablecoins devem observar padrões internacionais de pagamentos, compensação e liquidação, o Banco Internacional de Compensações (BIS, na sigla em inglês) divulgou um relatório em que os autores questionam se, juntas, CBDCs e stablecoins podem trazer riscos para países em desenvolvimento. Eles argumentam que embora essas moedas digitais possam ser adotadas em alguns desses mercados, elas também podem apresentar riscos e grandes desafios, até porque ainda não foram testadas em larga escala.

Conforme o documento, tais desafios seriam:

  • De desenvolvimento, a exemplo da ausência de uma solução robusta de entrada e saída de dinheiro;
  • Macroeconômicos, com a volatilidade e perda de controle;
  • Transfronteiriços, com restrições da capacidade de coordenação e supervisão de pagamentos internacionais.

Segundo exposto no relatório “What does digital money mean for emerging market and developing economies?” (O que o dinheiro digital significa para os mercados emergentes e economias em desenvolvimento? traduzindo livremente para o português), vários mercados emergentes e economias em desenvolvimento têm olhado para CBDCs e stablecoins como solução para as deficiências de seus sistemas financeiros. Entretanto, tais moedas digitais podem criar situações preocupantes nesses mercados e não resolver os problemas que outras inovações, como as fintechs, estão enfrentando.

“Os arranjos em stablecoins pretendem melhorar a inclusão financeira e as transferências internacionais, mas não são necessários e nem suficientes para atender a esses objetivos”, afirmam Erik Feyen, Jon Frost, Harish Natarajan e Tara Rice, que assinam o relatório.

De acordo com eles, os mercados emergentes e os países em desenvolvimento na América Latina, bem como em outras regiões, recorrem cada vez mais às stablecoins como reserva de valor. “Porém, stablecoins são atraentes em países onde as moedas locais tendem a ser menos estáveis ​​e possivelmente sujeitas a controles de capital por conta da inflação”, falam.

Além disso, várias autoridades nos mercados emergentes e países em desenvolvimento estão avaliando os potenciais custos e benefícios das moedas digitais como as CBDCs. “Porém, argumentamos que, nesse momento, a distinção entre dinheiro baseado em token e baseado em conta importa menos do que a distinção entre moeda do banco central e moeda não pertencente ao banco central. As rápidas inovações promovidas pelas fintechs, que visam melhorar o sistema financeiro existente, podem melhor abordar grande parte dos problemas nesses mercados do que CBDCs e stablecoins pretendem solucionar”, afirmam.

Leia ainda: Moedas digitais: entenda o que são criptomoedas, stablecoins e CBDCs

Há vantagens competitivas com CBDCS e stablecoins?

Ao mesmo tempo, o relatório questiona se essas moedas poderiam, de fato, “oferecer vantagens competitivas duradouras em relação aos serviços de pagamento digital em rápido desenvolvimento e evolução”, incluindo nesse rol Inovações como o ID digital, mobile banking, open banking e sistemas de pagamento instantâneos, que podem ser adequados em um ambiente doméstico. “Já o desenvolvimento do SWIFT gpi (novo padrão em pagamentos globais) e a integração transfronteiriça de sistemas de pagamento mais céleres podem ajudar a melhorar as transferências internacionais, apesar de ser claramente necessário mais trabalho”, completa a publicação.

Na verdade, os autores avaliam que stablecoins podem vir a gerar novos riscos relacionados a questões como governança, eficiência nos processos de pagamento, proteção ao consumidor e privacidade de dados. Já com relação às CBDCs, eles expõem que “há o risco de que em períodos de estresse sistêmico, as famílias e outros agentes do mercado mudem de depósitos bancários ou de outros instrumentos para o CBDC, estimulando uma espécie de corrida digital em velocidade e escala sem precedentes”. “Será que as CBDCs são necessárias ou desejáveis ​​para todos os países?”, indagam.

Por outro lado, conclui o relatório, a maior contribuição das CBDCs e stablecoins, até agora, “tem sido chamar a atenção, por sinal muito necessária, para os desafios da inclusão financeira e dos pagamentos e remessas internacionais”. “Esse desenvolvimento tem enfatizado os esforços para promover um ambiente regulatório menos restritivo para as fintechs, melhorar os quadros de estabilidade monetária e financeira e as infraestruturas de pagamento, particularmente além-fronteiras, e garantir uma regulamentação global em condições de igualdade por meio da colaboração”, afirmam os especialistas.

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