CBDCs em 2022: os planos dos bancos centrais para consolidar suas moedas digitais

A concorrência das criptomoedas está no centro das atenções e das ações das autoridades monetárias em todo o mundo, a fim de manter o controle do suprimento monetário e garantir a estabilidade financeira global.
CBDCs em 2022: os planos dos bancos centrais para consolidar suas moedas digitais
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Equipe Propague
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Nos últimos anos, em especial em 2021, a indústria cripto registrou crescimento exponencial com o surgimento de um número cada vez maior de moedas digitais privadas. Nesse sentido, no centro da revolução do dinheiro digital, tais ativos desencadearam um movimento global de autoridades monetárias e agentes governamentais a fim de regular o setor e, principalmente, tentar recuperar o atraso, buscando desenvolver e implementar moedas digitais de banco central, as CBDCs, na sigla em inglês. Como resultado, uma movimentação ainda maior poderá ser testemunhada em se tratando de CBDCs em 2022.

Para os analistas de mercado, a avaliação é de que ao caminhar nessa direção, bancos centrais em todo o mundo atuam na defesa contra a crescente popularidade das criptomoedas. Em outras palavras, entram em campo na tentativa de manter o controle do suprimento monetário e de garantir a estabilidade financeira global. Porém, esta não é a única motivação para o desenvolvimento dos projetos, que também buscam inclusão financeira e aumento da eficiência do mercado, por exemplo. O monitoramento mais recente do BIS sobre o tema chega a indicar que não é o principal para muitos países. Ainda assim, a velocidade do desenvolvimento do mercado de criptoativos chama a atenção e contribui para o andamento mais rápido das iniciativas.

Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) apresentados em outubro de 2021 pela diretora-geral Kristalina Georgieva mostraram que, até então, cerca de 110 países estão em “algum estágio de análise de criação de uma CBDC”.

No entanto, em todo o mundo, apenas 12 nações lançaram, de fato, o ativo. Nenhuma delas no eixo Europa-América do Norte. A saber, Antígua e Barbuda, Bahamas, Dominica, Granada, Monteserrat, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis e ainda São Vicente e Granadinas, no Caribe; Venezuela (América do Sul); e Nigéria (África).

Alguns países, no entanto, afirmam já estar em estágio final de implementação e com tudo pronto para lançar as suas CBDCs. Ainda há aqueles que fazem projeções para que isso aconteça até 2024. Assim, há razões suficientes para estar de olho nas CBDCs em 2022. Será esse finalmente o ano das moedas digitais de banco central?

Leia também: Moedas digitais: entenda o que são criptomoedas, stablecoins e CBDCs

China avança com lançamento de uma carteira digital

Entre as grandes economias mundiais, a China é, sem dúvida, o país com o projeto mais avançado e é um dos lançamentos mais esperados em se tratando de CBDCs em 2022 com o yuan digital. Em setembro do ano passado, o Banco Popular da China (PBOC) realizou pilotos da moeda em cidades como Changsha, Dalian, Hainan, Shenzhen e Shangai.

Segundo o PBOC, a versão digital do yuan pode ser usada tanto para comprar mercadorias, bem como para pagar por serviços como energia elétrica, pedágios e tarifas de transporte, seja online ou offline. Ainda de acordo com a autoridade monetária, a versão piloto da sua CBDC revelou o quão amplamente ela foi utilizada pelos cidadãos, tendo contabilizado 62 bilhões de yuans (cerca de US$ 9,7 bilhões) em transações até o final de outubro de 2021.

Além disso, a CBDC chinesa almeja alcance além do território continental. A maior evidência foram os testes de integração com o Sistema de Pagamento Rápido de Hong Kong, concluídos com sucesso em dezembro de 2021.

Agora, o país acaba de liberar a RMB Digital, versão piloto de uma carteira digital para transacionar o yuan digital, já disponível para ser baixada em lojas de aplicativos liberadas no país. A plataforma de serviço da moeda digital oficial chinesa funciona nos sistemas operacionais Android e iOS. Com mais esse passo, a expectativa do mercado é de que já em fevereiro de 2022 a CBDC chinesa finalmente será lançada.

Jamaica acena entre os lançamentos de CBDCs em 2022

Outro país que também está com o lançamento de sua CBDC praticamente confirmado para o primeiro trimestre de 2022 é a Jamaica. Segundo o Banco da Jamaica (BOJ, na sigla em inglês), o país finalizou um piloto “bem-sucedido” concluído em 31 de dezembro de 2021, depois de oito meses.

De acordo com o BOJ, o experimento incluiu uma série de serviços a exemplo da emissão de CBDCs tanto para fornecedores de carteiras digitais como para clientes de varejo. Nesse sentido, o banco informou que foram cunhados 230 milhões de dólares jamaicanos na versão digital (aproximadamente US$ 1,5 milhão) em agosto de 2021. Estes foram emitidos pelo BOJ e distribuídos para instituições financeiras e provedores de serviços de pagamento autorizados.

Em seguida, outro 1 milhão foi emitido para o departamento bancário para que este destinasse aos funcionários. Já em outubro de 2021, cinco milhões de dólares jamaicanos digitais foram emitidos para a NCB, o primeiro provedor de uma carteira piloto para a CBDC jamaicana, para que este fizesse teste com um grupo de usuários em transações rotineiras em pequenos comércios.

México confirma CBDC para 2024

Embora não seja para agora, 2022 marca o ano do anúncio oficial de que o México lançará uma CBDC, o que está previsto para 2024. Por meio do Twitter, ao divulgar seus planos de uma moeda digital de banco central, o governo mexicano destacou que “as novas tecnologias e infraestrutura de pagamento de próxima geração ajudarão o país a se tornar mais inclusivo financeiramente”.

Ademais, os planos de lançar uma CBDC estão em consonância com o que já andou declarando o presidente da república, Andrés Manuel López Obrador, de que seu país “dificilmente seguirá os passos de El Salvador e se valerá criptomoedas a exemplo do bitcoin como moeda digital oficial”.

Ainda no radar das CBDCs em 2022

Além dos exemplos citados, já se tem notícias de que a Rússia pretende, nos primeiros meses de 2022, iniciar um piloto do rublo digital com vistas a também lançar sua CBDC. Ao mesmo tempo, o Cazaquistão, uma das nações líderes na mineração de bitcoin, anunciou que concluiu um protótipo de uma plataforma digital e avalia se lançará uma CBDC até o fim deste ano.

Nesse ínterim, outros países e regiões seguem fortemente pesquisando sobre o tema. Entre eles merecem destaque Austrália, Bahrein, Brasil, Camboja, Canadá, Chile, Haiti, Ilhas Maurício, Israel, Japão, Líbano, Palau, Peru, Rússia, Suíça, Turquia e União Europeia, com o euro digital.

No caso do Brasil, o Banco Central tem planos de lançar o real digital até 2024, segundo a Agência Senado. Contudo, uma primeira versão da CBDC nacional poderá vir a público antes.

No cenário das CBDCs em 2022, chama atenção ainda o interesse dos países africanos em também lançar suas versões. Aqui, vale destacar Gana, Tanzânia, África do Sul, Zimbábue Namíbia, Tunísia, Ruanda, Marrocos, Egito e Quênia.

Nos Estados Unidos (EUA), por sua vez, ainda não existe nada de concreto em termos de um cronograma ainda que o Federal Reserve (FED) sinalize com estudos a possibilidade de emissão do dólar digital. Vale destacar que, recentemente, o país ganhou um centro de inovação do FED em Nova York em uma parceria estratégica com o Banco de Compensações Internacionais (BIS). Estima-se que a iniciativa seja capaz de ajudar os EUA a avançar no processo de implementação de sua CBDC.

Tendência para o futuro das moedas digitais

A expectativa de que cada vez mais países lancem moedas digitais de banco central não é de agora. No ano passado, artigo assinado por Philip Middleton, presidente do Instituto Monetário Digital do OMFIF (sigla em inglês para Fórum Oficial de Instituições Monetárias e Financeiras), já apontava esse movimento como uma das cinco tendências que moldariam o futuro das moedas digitais.

Juntamente com as CBDCs, Middleton também identificou a rápida mudança da economia física para a digital, sobretudo nos serviços financeiros e métodos de pagamento, com um declínio acentuado no uso do dinheiro. Assim como disse que as criptomoedas continuariam a crescer em número e seguir operando de modo que um bom número delas irá florescer e perecer com igual rapidez; que haveria uma competição cada vez maior dentro das fronteiras nacionais entre os instrumentos de pagamento públicos e privados e ainda uma concorrência crescente entre estados-nação e áreas monetárias. Por fim, ressaltou como inevitável a parceria e cooperação entre os setores público e privado na concepção, pilotagem, lançamento, e funcionamento das CBDCs.

Além dessas cinco tendências, outros especialistas também apontam para a regulação estruturada do mercado de cripto e para a integração dos criptoativos com as finanças e métodos de pagamentos tradicionais.

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