Ásia investe em títulos verdes e se torna referência para o mercado

Nos últimos anos, os títulos verdes se tornaram importantes mecanismos para o financiamento de projetos sustentáveis. Nesse período, a Ásia e, em especial, a China se consolidaram como importantes emissores.
Ásia investe em títulos verdes e se torna referência para o mercado
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Equipe Propague
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De acordo com a ONU, a origem dos títulos verdes se deu em 2007, quando o Banco Europeu de Investimentos anunciou o primeiro ativo dessa categoria. Desde então, o mercado de títulos verdes cresceu consideravelmente, impulsionado pela preocupação global em relação às crises climáticas e por acordos internacionais como o Acordo de Paris.

Essa popularização fez com que títulos verdes passassem a ter grande demanda nos mercados financeiros globais, abrindo um leque de oportunidades para a utilização desses ativos, principalmente, quando usados para financiar projetos de infraestrutura sustentável. Entre os principais destaques, são encontrados projetos como turbinas eólicas, criação de parques fotovoltaicos, desenvolvimento de instalações geotérmicas e de biomassa, a modernização de instalações industriais e implantação de estações de tratamento de águas.

Os títulos verdes são usados para financiar projetos desse tipo, principalmente, nas regiões desenvolvidas. Na Europa ocidental, por exemplo, cerca de 55% de todas as emissões de títulos verdes foram destinadas para projetos de infraestrutura entre os anos 2015 e 2020, sendo que no ano de 2020 este percentual atingiu o valor de 60%, de acordo com o Global Infrastructure Hub.

Já na América do Norte, a emissão de títulos verdes para investimento privado representou 6% de todo o investimento privado em infraestrutura, o que equivale a 24% do total de títulos verdes emitidos em 2020.

Dessa forma, o movimento de consolidação dos títulos verdes em diferentes economias do mundo chegou até a Ásia de forma transformadora. No continente asiático, 7% de todo financiamento de investimentos privados em infraestrutura teve como origem os títulos verdes que, em 2020, corresponderam a 14% de toda a emissão de ativos, geralmente voltado para energias limpas.

Pacífico-asiático desponta como importante mercado para títulos verdes

Vale destacar, entretanto, que dentro da Ásia pacífico-asiático despontou como um dos principais atores do mercado de títulos sustentáveis global, puxado, entre outros fatores, pelo envolvimento da economia chinesa com os títulos verdes.

No período de 2007 a 2018, o montante acumulado de títulos verdes emitidos nas esferas doméstica e internacional pelas economias da Ásia-Pacífico atingiu US$ 120 bilhões, de acordo com dados de um documento da ONU. No mesmo período,  por exemplo, Europa e América do Norte emitiram, respectivamente, US$ 190 bilhões e US$ 137 bilhões em títulos.

Apesar disso, o pacífico-asiático foi a região com o maior número de emissores de títulos verde.  Ao considerar apenas 2018, a Ásia e o Pacífico representaram cerca de 35% do valor global de emissão de títulos verdes, dos quais a China representou cerca de 25% da participação global, emitindo US$ 31 bilhões em títulos verdes. Outros grandes países emissores na Ásia e no Pacífico durante 2018 foram:  Austrália, Índia, Indonésia e Japão.

Perfil dos títulos verdes emitidos no pacífico-asiático e na China

Nesse cenário, a China vem liderando as iniciativas de financiamento por meio de títulos verdes na região. Essa liderança é consequência dos esforços empreendidos pelas autoridades que formaram um mercado de títulos compatível com as práticas internacionais, subsidiando até 12% da taxa de juros e permitindo a utilização dos títulos verdes como garantia por parte das empresas.

Outro exemplo da liderança chinesa na região é de que a China foi o primeiro país do pacífico asiático a emitir regras oficiais sobre a emissão de títulos verdes.

Como resultado dessas iniciativas, a China foi responsável pela emissão de 67% do volume total de emissão de títulos verdes no período 2018-2019 no pacífico asiático, seguida pelo Japão (9%), Austrália (9%) e Coréia do Sul (4%). O sistema financeiro chinês tem liderado o mercado, sendo que, bancos e instituições financeiras foram os principais responsáveis pelas emissões no período de 2018-19, respondendo por 62% do total.

Excluindo as emissões de títulos verdes por instituições financeiras, os setores que mais emitiram títulos verdes foram os setores de energia (12%) – impulsionado pelo aumento dos projetos de energia solar, hídrica e nuclear -, seguido do setor de transporte (12%).

Além disso, um destaque positivo se dá ao observar como a participação de setores de construção e infraestrutura vêm aumentando constantemente. Serviços de construção responderam por até 3% do total de emissões nesse mesmo período. Esse aumento das emissões do setor imobiliário na Ásia e no Pacífico também se deve, em parte, ao envolvimento com a construção de edifícios ecológicos, que incluem casas verdes e inteligentes.

Mas o que tem motivado as autoridades locais?

Dado o aumento pela demanda entre instituições financeiras e as possibilidades de retorno de investimento na infraestrutura sustentável, o mercado de títulos verdes vem se consolidando na Ásia muito também graças ao envolvimento do setor privado e das autoridades locais que agiram motivadas pela crescente conscientização sobre a necessidade de um crescimento econômico mais verde.

Nesse sentido, as autoridades monetárias cumprem um papel fundamental, pois são capazes de auxiliar e atrair o setor privado a investir em iniciativas sustentáveis, utilizando diversos instrumentos, como os títulos verdes, para mobilizar capital.

Tal mobilização pode explicar o fenômeno de crescimento na China, que ascendeu como um importante centro para esse tipo de título, se tornando uma das lideranças globais. Essa ascensão abriu espaço também para que os países vizinhos aproveitassem as oportunidades de investimentos criadas pela China e usassem a experiência prévia como parâmetro para desenvolverem seus próprios mercados.

Além do potencial de mercado derivado dos títulos verdes visto pela China e por toda a região vizinha, esse envolvimento das autoridades chinesas com a redução das emissões de carbono também se justifica pela posição do país como principal emissor de gases do efeito estufa global. Atualmente a economia chinesa é responsável por cerca de 30% de toda emissão de gases do efeito estufa, mas, o comprometimento das autoridades e o investimento em novas infraestruturas sustentáveis e de energia limpa apontam o posicionamento da China e, consequentemente, de toda a região pacífico asiática em contribuir ativamente com os objetivos de transição para uma economia mais sustentável e com baixas emissões de gases poluentes.

 

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