No estágio atual da tecnologia financeira, pilares tradicionais como comodidade, rapidez e inovação estão se conectando a uma nova demanda: a sustentabilidade, representada pelos princípios ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança).
É nesse contexto que as fintechs, grandes diferenciais nesse mercado por conta de seus produtos e serviços originalmente digitais, parecem estar aquém de uma resposta a essa nova necessidade.
Essa lacuna insiste em se perpetuar mesmo diante da busca crescente por investimentos que promovam a sustentabilidade, pois, a infraestrutura tecnológica do segmento de fintechs não vem acompanhando essa tendência, afirma Gihan Hyde, CEO da CommUnique, startup de comunicação ESG.
O que se observa, explica a especialista, é que embora os consumidores, sobretudo os millennials e a geração Z, busquem cada vez mais por investimentos alinhados com valores como sustentabilidade, as plataformas e ferramentas tecnológicas das fintechs não se mostram adequadamente preparadas para suportar essa demanda do novo perfil de consumo.
As soluções existentes ainda se concentram principalmente em métricas de desempenho, perfis de risco e diversificação de portfólio, deixando de lado as métricas ESG, quesito que cresce em importância entre os investidores.
Por que as fintechs precisam se atentar mais às métricas ESG?
A resposta para essa questão, argumenta Hyde, está primeiramente ligada às oportunidades que podem estar sendo perdidas pelas startups financeiras. Afinal, ao se descuidarem da integração de métricas ESG às suas soluções, as fintechs correm o risco de se tornarem obsoletas.
Isso porque não se pode ignorar um segmento de mercado em rápida expansão e que busca por opções de investimento responsável.
Em segundo lugar, está a potencial barreira ao crescimento sustentável dos investimentos. Sem a existência de plataformas de investimento ESG intuitivas e tecnologicamente orientadas, os investidores podem se voltar para as vias de investimentos tradicionais em detrimento das fintechs, acrescenta.
Em seguida, pode ser citada a falta de comunicação e de alinhamento com o mercado, pois sem métricas ESG que sigam um padrão entre as soluções disponibilizadas pelas fintechs, a desinformação se torna algo premente. Em outras palavras, afirma Hyde, diferentes plataformas podem avaliar os critérios ESG de maneiras distintas, trazendo desorganização e desconfiança dos investidores.
Como resolver a questão?
Para criar uma sólida interseção entre o investimento sustentável e o segmento de fintechs, destaca a especialista, a solução consiste na integração das métricas ESG às soluções disponibilizadas. Isso pode ser alcançado por meio de:
- Colaboração e conexão entre fintechs e fornecedores de dados ESG, garantindo que os investidores recebam informações precisas e atualizadas sobre oportunidades de investimento sustentável;
- Desenvolvimento de interfaces fáceis de usar, destacando visualmente as métricas ESG por meio de tabelas, gráficos e classificações codificadas por cores para melhorar a compreensão; e
- Incorporação de recursos educacionais às plataformas, disponibilizando ferramentas como webinars, artigos e tutoriais sobre investimentos ESG para orientar tanto investidores iniciantes quanto os experientes.
Contudo, para que esses objetivos sejam atingidos, Hyde aponta para a necessidade de todas as fontes de dados e metodologias ESG serem transparentes, deixando claro a origem dos dados e como eles são analisados.
Ao mesmo tempo, as plataformas devem criar canais para feedback dos usuários, a fim de melhorar continuamente as ofertas ESG, bem como assegurar a consistência nas mensagens das notificações de aplicativos, e-mails e conteúdo de sites, gerando confiança nos investidores.
Por fim, ela destaca a importância da formação de parcerias com especialistas em ESG, com o intuito de aumentar ainda mais a credibilidade do conteúdo apresentado.
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