Blockchain é aposta do BIS para novo tipo de título verde

Além da tecnologia, o ativo traz como conceito um produto fundamentado em uma garantia vinculada, dando titular o direito de receber créditos de carbono gerados pela redução das emissões de CO2 obtida pelos projetos financiados.
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Equipe Propague
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Desde 2019, o Banco de Compensações Internacionais (BIS) adotou como estratégia a emissão de títulos verdes. A saber, já são três modalidades em carteira, que juntas somam US$ 3,5 bilhões. Contudo, o banco prepara-se agora para mais uma investida. Apesar da blockchain, graças ao mecanismo de consenso de prova de trabalho do bitcoin, não ter a melhor reputação na proteção do meio ambiente, o Hub de Inovação do BIS trabalha em uma nova estrutura para títulos verdes que faz uso dessa tecnologia.

O motivo é mais do que suficiente para atrair a atenção do mercado, não só por ter a blockchain em sua base tecnológica, mas também pelo conceito por trás do projeto. É o que argumenta Lewis McLellan, editor do Instituto Monetário Digital do OMFIF, em artigo recentemente publicado na plataforma.

Conforme disse, a ideia baseia-se em um produto fundamentado no que está sendo chamado de “interesse no resultado de mitigação”. Em outras palavras, explica McLellan, este assumiria a forma de uma garantia vinculada ao título verde, que daria ao titular o direito de receber créditos de carbono gerados pela redução das emissões de gases de efeito estufa obtida pelos projetos financiados por meio do referido título.

Além disso, emenda, essa garantia seria negociável separadamente do título verde, mas quem a detiver no vencimento do título receberia os créditos produzidos por esse ativo. A blockchain seria usada para acompanhar a propriedade da garantia correspondente e serviria, ainda, para verificar se os créditos são gerados pelo projeto de títulos verdes.

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O uso da blockchain para a tokenização de títulos verdes

O novo tipo de título verde a que se refere o editor do Instituto Monetário Digital do OMFIF vem sendo testado através do Projeto Genesis 2.0. Trata-se do primeiro projeto de finanças verdes do Hub de Inovação do BIS em execução juntamente com a Autoridade Monetária de Hong Kong (HKMA na sigla em inglês), que explora o rótulo verde por meio da blockchain combinada com contratos inteligentes, internet das coisas e ativos digitais.

No âmbito do projeto, um conjunto de três relatórios publicados pelo BIS oferece uma visão para as finanças verdes orientadas pelo uso dessas tecnologias. O primeiro desses documentos traz uma ampla perspectiva de especialistas globais sobre como as finanças podem impulsionar a transição para um futuro verde e sustentável.

A sustentabilidade, argumentam, pode ser melhor alcançada integrando blockchain e outras tecnologias nos processos que trazem produtos financeiros ao mercado. Além disso, as oportunidades para produtos de greenwashing – maquiados para passar a ideia de que são ecoeficientes, ambientalmente corretos e provêm de processos sustentáveis – serão bastante reduzidas. Ademais, afirmam, a tecnologia pode ser utilizada para controlar o risco para emissores e investidores, ajudando assim a tornar o investimento verdadeiramente verde.

Já os outros relatórios detalham dois protótipos que trazem para o investidor a proposta de baixar um aplicativo e investir qualquer valor em títulos públicos seguros, que, de fato, desenvolverão projetos verdes. Enquanto isso, ao longo da vida do título, o investidor poderá não apenas ver os juros acumulados, mas também acompanhar em tempo real a quantidade de energia limpa que está sendo gerada e a consequente redução das emissões de CO2 vinculadas ao investimento. Complementarmente, o investidor pode vender os títulos em um mercado transparente.

O custo do ativo

Embora as finanças possam ajudar a impulsionar a transição para um futuro verde e sustentável, no artigo publicado pelo OMFIF, McLellan também chama a atenção para o custo que os títulos verdes têm para o investidor. Segundo ele, esses ativos geralmente carregam uma espécie de adicional sobre o preço ao qual ele se refere como “greenium”.

Ou seja, os títulos verdes custam aos investidores mais do que títulos equivalentes sem o rótulo verde. No entanto, esse adicional incentiva os emissores a se envolverem em atividades ecologicamente corretas e os compensa pelos custos de criação e atendimento a uma estrutura de normas e à confecção de relatórios. Porém, destaca, como os títulos verdes têm a mesma proposta de crédito dos títulos convencionais, muitos investidores relutam em pagar mais por eles.

Aliás, ele menciona um painel do OMFIF sobre o futuro dos mercados de capitais, onde Massamba Thioye, executivo de projetos do Secretariado de Mudanças Climáticas da ONU, disse: “muitas pessoas dizem que um título verde não pode ser verde se o dinheiro for fornecido nos mesmos termos de um título convencional. E minha resposta sempre foi sim, isso está certo, o atributo verde da atividade não é conferido ao investidor, então por que ele pagaria por isso?”

Porém, McLellan argumenta que com o “interesse no resultado de mitigação”, garantia presente no novo tipo de título verde do BIS, que dá ao titular o direito de receber créditos de carbono gerados pela redução das emissões CO2 obtida pelos projetos financiados, o investidor pode comprar e negociar o resultado verde do projeto.

No entanto, ressalva, o conceito é muito novo e há um alerta dos bancos que pode ser difícil obter o envolvimento dos investidores, embora essa inovação nos títulos verdes tenha recebido elogios de alguns banqueiros.

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