Criptomoedas: brasileiros não conseguem passar em avaliação básica de conhecimento

Além das moedas digitais, o Brasil ainda enfrenta sérios problemas de conhecimento sobre finanças em geral, apontando para a necessidade de promover a educação financeira de forma mais ampla, sobretudo ante outras inovações como o open banking.
Criptomoedas: brasileiros não conseguem passar em avaliação básica de conhecimento
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Equipe Propague
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Pesquisa recente sobre criptomoedas revelou que 99% dos brasileiros não conseguem passar em um questionário que avalia seu conhecimento básico acerca do tema. O levantamento, realizado pela a YouGov, multinacional líder em pesquisa de mercado, e divulgado pela CryptoLiteracy.org, plataforma que promove a educação do consumidor sobre moedas digitais também constatou igual índice de desconhecimento entre mexicanos e norte-americanos, mesmo havendo a ciência sobre a existência desses ativos, principalmente, o bitcoin.

Ao comentar o resultado da pesquisa, o CEO e cofundador da Coinme, Neil Bergquist, avaliou que “o setor precisa se esforçar mais para espalhar o conhecimento de criptomoedas em todo o mundo”. Conforme disse, a coalização estabelecida pelos principais parceiros do setor “defende o acesso justo e simples às criptomoedas”.

De fato, emenda o editor de aprendizagem da CoinDesk, Ollie Leech, empresa que integra a CryptoLiteracy.org junto da Coinme e outras empresas do setor, “há uma necessidade real de disseminação do conhecimento da criptomoeda que seja acessível e que todos possam entender, independentemente da sua renda, gênero, raça ou status educacional”.

Conhecimento sobre criptomoedas

O questionário que fundamentou a pesquisa abrange 17 questões a fim de avaliar o conhecimento das pessoas sobre o universo dos criptoativos. Nesse rol entram perguntas envolvendo criptomoedas; o bitcoin, em específico; Finanças Descentralizadas (DeFi); Blockchain; mineração, tipos de carteiras digitais e Tokens Não Fungíveis (NFTs). Ao mesmo tempo, também pede uma opinião geral dos respondentes sobre as moedas digitais.

Segundo a YouGov, foram analisadas as respostas de uma população de 1.000 usuários de internet com algum conhecimento sobre criptomoedas nos três países citados, ou seja, Brasil, Estados Unidos e México. A saber, como critérios de balanceamento desse grupo foram considerados a idade, o gênero e o nível educacional. No caso dos EUA também foi incluído o fator raça/etnia.

De acordo com a empresa de pesquisa, o índice de aprovação alcançado com a aplicação do questionário deixa clara a lacuna relevante no conhecimento sobre esses criptoativos nos territórios pesquisados. Nos EUA, por exemplo, quatro em cada dez pessoas entrevistadas não conseguiram responder a mais da metade das perguntas, optando pela resposta “não sei”. Porém, os norte-americanos demonstraram um desempenho melhor do que os brasileiros, com três em cada dez respondendo corretamente a um terço das questões.

Leia também: O que é criptomoeda: como funciona e por que alcançou popularidade nas finanças

Brasil e México lideram intenção de compra e venda de criptomoedas

Com base nos dados e informações compilados, a pesquisa conseguiu traçar um panorama que esclarece o atual momento vivido pelas criptomoedas nos países onde o questionário foi aplicado. Primeiramente, descobriu-se que o Brasil e o México são líderes na intenção de compra e venda de criptomoedas. Nos próximos seis meses, aponta o estudo, cerca de 30% dos brasileiros e 28% dos mexicanos disseram que pretendem transacionar essas moedas digitais.

Ao mesmo tempo, apesar de os especialistas do setor reforçarem que a missão das criptomoedas é promover a inclusão financeira, a pesquisa da YouGov, afirma que elas apresentam falhas nessa direção. Isso porque, em média, quem possui criptomoedas nesses três países são pessoas mais jovens, de maior poder aquisitivo e predominantemente do sexo masculino na comparação com a população em geral. “Embora a visão da criptomoeda e do bitcoin seja criar maior inclusão econômica, os resultados mostram que a adoção não está equalizada”, atesta o levantamento.

Vale destacar ainda que, entre as conclusões apresentadas, é notório que a compreensão sobre os fundamentos da mais famosa criptomoeda, o bitcoin, é baixa. De acordo com o estudo, nove em cada dez entrevistados não tinham conhecimento de que o suprimento de bitcoins, por exemplo, está limitado a 21 milhões de unidades dessa moeda. Ao passo que somente quatro em cada dez respondentes tinham uma compreensão clara dos fatores que impactam e determinam o seu preço.

Além disso, a utilização de criptomoedas varia de acordo com a área geográfica e a geração dos usuários. Segundo os números divulgados, 25% dos brasileiros e um terço dos mexicanos consultados usariam criptomoedas para pagar por bens e serviços. Por outro lado, 50% dos americanos relataram que utilizariam criptomoedas como reserva financeira para o futuro.

Enquanto isso, as gerações mais jovens de estadunidenses são quase três vezes mais inclinadas a usar criptomoedas como meio de pagamento do que as de idade mais avançada, que veem essas moedas digitais mais como investimento do que como forma de pagamento.

Desconhecimento financeiro: no Brasil, problema vai além das criptomoedas

Em artigo publicado no Boletim Econômico Capixaba, produzido pelo Sistema Findes, os autores Carlos Ragazzo, professor da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV-Rio) e presidente do Conselho Consultivo do Instituto Propague, e Bruna Cataldo, pesquisadora do Instituto, chamam a atenção para a necessidade de capacitação dos consumidores e empreendedores brasileiros a fim de que possam fazer escolhas mais adequadas e conscientes em se tratando de finanças.

O tema é ainda mais relevante tendo em vista a implementação do Open Banking no Brasil, que tem como um dos objetivos incentivar a criação de produtos e serviços financeiros mais adequados a diferentes perfis de usuários do Sistema Financeiro Nacional, com destaque para oferta mais personalizada e diversificada de crédito, no sentido de incluir consumidores e micro e pequenos empreendedores ainda à margem da bancarização.

No entanto, na avaliação de ambos, para que o Open Banking alcance o seu real potencial de transformação e inclusão financeira, é necessário que os usuários sejam capazes de usá-lo, podendo tomar decisões conscientes. “No caso dos micro e pequenos empreendedores, capacitar financeiramente é um princípio fundamental para que eles prosperem, o que envolve a combinação de conhecimento, habilidades, atitudes e comportamentos que permitam tomar decisões eficazes para iniciar, administrar e garantir a sustentabilidade e crescimento do negócio”, destacam.

Nesse sentido, emendam, o desenvolvimento da capacidade financeira desses e dos demais consumidores, o que também deve incluir as pessoas físicas, será essencial nos anos que seguem, dada a pluralização de produtos que o Open banking irá trazer. “Parte desse trabalho será feito pelos próprios ofertantes, mesmo porque a necessidade de uma melhor experiência com o produto será fundamental para o engajamento dos consumidores”, justificam, assim, a afirmação.

Cidadania financeira em foco

Ainda de acordo com os autores do artigo, a questão é mais abrangente e se estende ao que se compreende como cidadania financeira. A saber, explicam, “pessoas que não conseguem transitar pelo sistema financeiro de forma adequada podem ter perdas de bem-estar, por não conseguirem poupar para o futuro, usufruir de oportunidades de financiamento, gastar excessivamente por dificuldades com gestão orçamentária, dentre outros problemas”.

Por essa razão, eles chamam a atenção para o fato de os indicadores de capacidade financeira no Brasil ainda mostrarem um cenário repleto de desafios diante das oportunidades que porventura venham a surgir por movimentos como o Open Banking, além das demais inovações financeiras que tendem a aparecer motivadas pelo acelerado processo de digitalização da economia. O que, certamente, abrange o uso das moedas digitais, como as criptomoedas.

Um desses indicadores, apontam, é uma pesquisa realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) com o intuito de medir a capacidade financeira dos países que fazem parte do G20, grupo formado pelas 20 maiores economias do planeta. Nesse estudo, a pontuação do Brasil ficou abaixo da média não só do grupo como um todo, mas também dos países latino-americanos.

Para chegar no resultado, foram analisados conhecimentos, habilidades e atitudes básicas relacionadas a vida financeira do cidadão, a exemplo da tomada de decisões relativas a dinheiro para si e para sua residência, comportamentos orçamentários, formas de poupança, resiliência financeira a choques externos, planejamento para a aposentadoria, conhecimento de produtos financeiros – o que influencia as escolhas -, conhecimentos básicos de aritmética e juros, assim como sobre inflação, dentre outros aspectos.

Olhando para alguns indicadores específicos do Brasil, expõem os autores do artigo, apenas 63% dos brasileiros tentam tomar decisões financeiras bem-informados, o que envolve certo grau de resolução de problemas, análise crítica e conhecimento sobre conceitos chaves em finanças, áreas em que o Brasil tem problemas.

Eles também acrescentam dados que apontam que dois em cada cinco brasileiros não conseguiram responder o que é inflação, apenas 50% conseguem calcular um montante de principal mais juros, somente 30% têm capacidade de calcular juros compostos para um período de cinco anos e só 18% acertaram perguntas relacionadas a juros simples e compostos.

Desse modo, combinando todos os resultados apresentados, o cálculo a que se chega, é que o indicador de conhecimento financeiro do Brasil atinge uma taxa 48%. Isso significa, afirmam os autores do artigo, que mais da metade dos cidadãos brasileiros não atinge o score básico de conhecimento nessa área. Além disso, 50% da população não atinge scores mínimos de atitude financeira. A saber, esse indicador mede as preferências de curto prazo que podem dificultar o desenvolvimento de melhorias de resiliência financeira e bem-estar.

Saúde financeira do brasileiro

Diante desse contexto, um dos principais reflexos do baixo nível de conhecimento sobre finanças no país é a saúde financeira do cidadão. De acordo com uma pesquisa realizada a partir do Índice de Saúde Financeira do Brasileiro (ISFB), calculado pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), 69,4% das pessoas gastam exatamente o que ganham ou até mesmo mais do que recebem. Ao mesmo tempo, 64,7% dizem não estarem seguros sobre o seu futuro financeiro, razão pela qual as finanças são motivos de estresse para mais de 58% das pessoas.

Ainda de acordo com a mesma pesquisa, independentemente de classe social, faixa etária ou qualquer outra variável socioeconômica, o que se observa é a existência de oportunidades e benefícios na promoção da educação financeira para todos os brasileiros. Aliás, concluiu o estudo, a necessidade de uma educação financeira mais ampla se mostrou ainda mais importante durante a pandemia de Covid-19, quando inúmeras famílias se depararam com impactos severos sobre os seus orçamentos.

Veja ainda:

Confira também o Ebook: Inclusão financeira e o perfil dos excluídos no Brasil, pesquisa realizada por professores da UFRJ em parceria com o Propague.

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