LIFT Learning do BC encerra 1ª edição; confira entrevista

O LIFT Learning é um laboratório de inovação que reúne fintechs e universitários na elaboração de soluções tecnológicas para o setor financeiro. A iniciativa almeja fomentar o ecossistema de inovação para o setor preparando novos profissionais. O Instituto ProPague conversou sobre a primeira edição com dois coordenadores do projeto, Ricardo Paixão e João Benício Aguiar.
LIFT Learning do BC encerra 1ª edição; confira entrevista
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Por Joana Vaccarezza, pesquisadora do Instituto ProPague
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O LIFT Learning encerrou sua edição piloto no final de 2020, com a finalização de quatro projetos de tecnologia e um na área regulatória. Programa do Banco Central em conjunto com a Federação Nacional dos Servidores do Banco Central (Fenasbac), o LIFT Learning é um laboratório de inovação que conecta reguladores, universidades e instituições financeiras para desenvolver soluções de tecnologia financeira. Ele faz parte do eixo de Competitividade da Agenda BC# do Banco Central.

A edição piloto foi realizada no Distrito Federal, em parceria com a Universidade de Brasília (UNB) e com a Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF). Durante 5 meses, equipes multidisciplinares de alunos universitários se reuniram a 4 empresas do setor financeiro para desenvolver soluções tecnológicas. Três projetos se voltaram à criação de soluções para pessoa jurídica usando o Pix:

• Um aplicativo de gestão para pessoa jurídica com o Banco de Brasília (BRB);
• Um sistema para gestão de benefícios com a fintech PagueVeloz;
• Um sistema de automação de pagamentos parceláveis de tributos com a fintech VamosParcelar.

O quarto projeto resultou na criação de um sistema de vídeo-contrato com reconhecimento facial por machine learning para fazer o cadastramento de clientes da fintech Bxblue de acordo com as normas do Open Banking.

Em entrevista concedida ao Instituto ProPague, Ricardo Fernandes Paixão, coordenador geral do LIFT Learning, e João Benício Aguiar, coordenador da área regulatória do programa, comentaram os principais resultados desta primeira edição.

LIFT Learning avança agenda de competitividade do BCB com laboratórios de inovação

O precursor do LIFT Learning é o Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (LIFT Lab), lançado em 2018 pela área de tecnologia da informação do Banco Central. No projeto original do LIFT Lab, que está indo para sua quarta edição em 2021, o Banco Central seleciona em torno de 20 fintechs para receberem mentoria dos servidores sobre assuntos regulatórios, no que se entende como “aceleração regulatória”.

Na visão do coordenador geral do LIFT Learning, Ricardo Paixão, esse projeto inicial do LIFT Lab foi muito importante, especialmente por ter uma estrutura aberta, contando com a participação do setor privado e da academia junto com a figura do regulador.

O Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas foi a primeira iniciativa do Banco Central para fomentar a inovação e a competitividade do setor financeiro. Ricardo Paixão destacou a importância desse movimento inicial, quando iniciativas como o Pix, o Open Banking e o Sandbox Regulatório ainda não existiam, e o BCB precisava sinalizar para o mercado a intenção de promover a inovação.

Contudo, os organizadores do LIFT Lab perceberam que o programa tinha um alcance limitado, devido à restrição de pessoal do DEINF, o departamento responsável pelo programa no Banco Central. “Você só tem uma quantidade de servidores. Eles conseguem atender umas 20, 30 empresas por ano. É pouco. Se você quer ter um efeito de base, isso é pouco”, explicou Ricardo.

Assim, surgiu a ideia de um programa destinado à formação da base do ecossistema, preparando estudantes para as demandas do mercado de trabalho do setor financeiro. Ao contrário do LIFT original, voltado para projetos de startups, o LIFT Learning é centrado nas universidades, com foco na formação de universitários.

Formação de profissionais para fomentar o ecossistema

No LIFT Learning, o coordenador do programa vinculado à universidade parceira escolhe junto com o Banco Central alguns projetos enviados pelas instituições financeiras interessadas (entre fintechs e bancos tradicionais). Na sequência, o coordenador faz um pareamento entre equipes de alunos e cada projeto de tecnologia selecionado.

Na perspectiva de João Benício, coordenador de Direito do programa, “o grande diferencial do Lift Learning em relação a outros de inovação é você permitir que estudantes tenham a oportunidade de ter aquela experiência profissional diretamente com uma instituição financeira”.

Mais do que a criação de soluções de programação específicas a cada projeto, a experiência do laboratório de inovação LIFT Learning permite preparar estudantes da área de tecnologia, direito e negócios para as demandas do mercado de trabalho no setor financeiro. Essa formação não consiste simplesmente em direcionar os alunos para trabalharem em alguma empresa na área, mas também pode motivá-los a tornarem-se eles próprios empreendedores no ecossistema.

“A ideia é que esses alunos desenvolvam [os projetos] durante 5 meses e que, ao fim disso, pelo menos esse pessoal possa estar capacitado para trabalhar no mercado financeiro, na parte tecnológica, e na melhor das hipóteses que eles possam abrir as próprias empresas”, explicou o coordenador geral, Ricardo Paixão. 

“A partir do momento que você tem a mão de obra especializada e com condições de desenvolver projetos ambiciosos, o mercado se desenvolve, o mercado amadurece, o mercado ganha corpo”, acrescentou João Benício.

A avaliação dos alunos sobre a contribuição do LIFT Learning para sua carreira de desenvolvedores e para seu conhecimento sobre o ecossistema financeiro foi positiva. 95% afirmaram que gostariam de participar do programa novamente.

Gráfico - Em uma escala de 0 a 10, marque o quanto o Lift Learning contribuiu para o seu entendimento sobre o ecossistema financeiroGráfico - Se houvesse uma segunda edição do projeto Lift Learning, você teria interesse em participar novamente? 95% Sim; 5% Não Fonte: LIFT Learning, Apresentação dos Resultados 2020.

Inovação no setor financeiro exige esforço multidisciplinar

O caráter multidisciplinar do programa também ganhou destaque. As equipes não tratam apenas de questões sobre tecnologia, mas também sobre o funcionamento do mercado e a regulação do setor financeiro, que é extremamente dinâmica.

“O setor financeiro é um setor que, ao mesmo tempo, é muito específico e requer uma pessoa muito especialista na sua função e também uma equipe multidisciplinar, porque é uma área que envolve a franja de várias áreas do conhecimento. A ideia do LIFT Learning é pegar alunos que normalmente têm uma formação genérica, que não tem uma formação específica e especializada como o setor requer, e inseri-los nesse ambiente”, explicou  João Benício.

Segundo os coordenadores, a ideia do programa é incentivar debates e formar pessoas qualificadas em diversas áreas – não só programadores, mas também advogados, administradores e economistas, por exemplo – que consigam discutir em alto nível as questões do setor financeiro e suas transformações.

Essa multidisciplinaridade vem dos próprios desafios de implantar tecnologias inovadoras no setor financeiro. “Ninguém monta uma startup financeira, uma fintech, apenas com programadores, sem a visão do todo. Uma fintech tem muitos desafios operacionais: como você vai conceder um crédito, como você vai realizar um câmbio, como você vai realizar um pagamento sem saber como é que funciona a logística, o arranjo de pagamento, sem saber as questões todas que tem por trás daquele modelo de negócio?”, questionou João Benício.

LIFT Learning e a descentralização do ecossistema de fintechs

Um dos objetivos do programa é a descentralização do ecossistema de inovação financeira no Brasil, ponto destacado pelo Presidente do Banco Central, Roberto Campos, no lançamento do programa em 2019. A primeira edição foi realizada na UNB, em caráter piloto, mas os coordenadores do programa querem levá-lo para outras universidades no futuro.

“A ideia é que depois esse desenho evolua de maneira que isso seja uma política nacional do Banco Central, que isso apareça em outros lugares.”, afirmou o coordenador geral, Ricardo Paixão.

Segundo Paixão, o LIFT Learning ambiciona fomentar o ecossistema de fintechs em regiões do Brasil onde ele ainda não existe ou é incipiente, mas onde já existe um potencial, especialmente pela presença de polos tecnológicos.

Na visão de João Benício, o LIFT Learning contribui para essa descentralização por três mecanismos:

A própria disseminação do conhecimento, a partir da formação de pessoas com conhecimento sobre o mercado de fintechs onde esse mercado é incipiente;
• A criação de redes de talentos, colocando os interessados em contato para que possam trocar ideias e propor negócios entre si;
• O exemplo do LIFT Learning para outros estudantes, incentivando o interesse em conhecer mais sobre o tema.

Segundo Ricardo Paixão, ao considerar que o setor financeiro está passando por um processo de digitalização, cada vez tem menos sentido as empresas estarem concentradas em algum lugar específico, como o eixo Rio – São Paulo, por exemplo.

No entanto, a digitalização sozinha não é suficiente para descentralizar o ecossistema de inovação. É necessário que existam talentos preparados para empreender na área de fintechs nas diferentes regiões do país. Nesse sentido, o LIFT Learning é uma iniciativa que se soma à própria digitalização do setor financeiro para o avanço da inovação em novas cidades.

| Confira também o vídeo do evento Inovações da Agenda BC#, com a participação de Ricardo Paixão, coordenador do LIFT Learning

Resultados superaram expectativas

O coordenador geral do programa destacou que os projetos do LIFT Learning superaram expectativas. A previsão era que os quatro produtos da área de tecnologia chegassem à etapa de prova de conceito, com a apresentação de protótipos. Todas as equipes chegaram à produção de protótipos funcionais, e há perspectiva de que três produtos sejam introduzidos ao mercado.

O projeto realizado com a Bxblue está em fase de testes para produção e será o sistema de KYC (know your customer) da fintech, que recebeu recentemente um aporte de R$ 38 milhões na sua rodada série A de investimentos. Os projetos em parceria com o BRB e com a PagueVeloz também chegaram num estágio avançado e estão em fase de internalização do negócio.

O sucesso da primeira edição chamou a atenção do mercado. Segundo os coordenadores, grandes empresas de tecnologia e do setor financeiro já manifestaram interesse em participar do programa em edições futuras.

Livro sobre regulação de pagamentos instantâneos traz insights para o desenvolvimento do setor

Além dos quatro projetos voltados à criação de tecnologias, o LIFT Learning também contou com um projeto de estudo regulatório, coordenado por João Benício Aguiar. Esse projeto resultou na produção de um livro que traz uma visão multidisciplinar e internacional sobre a regulação de pagamentos instantâneos.

Segundo João Benício, o livro surgiu a partir de um desafio, que era a falta de material acadêmico sobre regulação e inovações tecnológicas no setor financeiro, especialmente no Brasil. “Era uma lacuna gigantesca”, comentou. “Como nós vamos formar os profissionais se não tem conteúdo escrito sobre isso? Só tem uma maneira: vamos escrever sobre.”

A equipe de alunos e professores buscaram as respostas em pesquisas publicadas em outros países, em relatórios e apresentações do Banco Central, bem como em entrevistas com as empresas participantes do programa e com os alunos da área de tecnologia do LIFT Learning.

O que inicialmente seria um conjunto de artigos escritos pelos alunos da área regulatória se transformou em um livro de mais de 200 páginas, que deve ser lançado ainda no primeiro semestre de 2021, com o apoio da FAPDF. Os coordenadores destacaram que a publicação tem o objetivo de disseminar o conhecimento e deve ser disponibilizada gratuitamente para o público.

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