Um movimento que ganhou força durante a pandemia de Covid-19 e continua crescendo mesmo com o retorno das transações presenciais é o pagamento digital. Neste cenário, uma modalidade à qual os consumidores têm aderido cada vez mais são as carteiras móveis.
A expectativa é que dentro dos próximos oito anos o tamanho desse mercado alcance US$ 970 bilhões mundialmente, representando acréscimo de 17% na taxa de crescimento anual composta entre 2022 e 2030, segundo pesquisa da Global Market Insights Inc.
E se engana quem aponta a ascensão do comércio eletrônico como o maior destaque para o aumento das transações com carteiras móveis. De acordo com a pesquisa, à medida que a tendência digital se expande, a quantidade de clientes que fazem compras por meio de smartphones, substituindo métodos tradicionais como o dinheiro em espécie, se amplia consideravelmente.
Além disso, a taxa de penetração da internet cresceu tremendamente em todo o mundo. Para se ter uma ideia, com base em dados do Eurostat, a proporção de famílias com acesso à internet na União Europeia, por exemplo, aumentou de 72%, em 2011, para 92% em 2021.
Já no Brasil, conforme a Statista, o país lidera, atualmente, o ranking de usuários na América Latina, sendo mais de 165 milhões de internautas, enquanto em escala mundial, ocupa a 5ª posição, perdendo para a Indonésia (204 milhões), Estados Unidos (307 milhões), Índia (658 milhões) e China (1 bilhão).
Portanto, o cenário aponta um terreno fértil para o avanço das carteiras móveis tanto em número de usuários como em valor de mercado, conforme prevê o estudo da Global Market Insights.
Ademais, segundo outros estudos, há de se considerar ainda o impacto para além do econômico. Vantagens associadas à desintermediação das finanças através das carteiras móveis registraram um grande impacto social, gerando inclusão e conveniência e justificando, assim, uma a maior adesão.
Como o mercado de carteiras móveis está estruturado
Para fundamentar o estudo, a Global Market Insights dedicou um capítulo inteiro para caracterizar a estrutura do mercado de carteiras móveis, as quais define como uma espécie de serviço de pagamento por meio do qual os usuários, sejam indivíduos ou empresas, podem receber e enviar dinheiro utilizando dispositivos móveis.
Esse mercado pode ser segmentado em carteiras móveis abertas, carteira semifechadas e fechadas:
- As carteiras abertas são emitidas apenas por bancos. Assim, elas permitem que o usuário compre bens e serviços, saque dinheiro em caixas eletrônicos e transfira fundos;
- Já as carteiras semifechadas, por sua vez, possuem contrato específico com o emissor para aceitar instrumentos de pagamento, permitindo que os consumidores comprem bens e serviços; e
- Por fim, as carteiras fechadas são contas emitidas por uma empresa para um consumidor para compra de bens e serviços exclusivamente com ela.
Ao mesmo tempo, as carteiras móveis também podem ser segmentadas por tipo de tecnologia, como NFC, QR Code e baseadas em texto. Neste último caso, elas usam uma plataforma de pagamento baseada em SMS com o dispositivo móvel funcionando tanto para envio de dados bem como terminal POS (maquinha de cartão).
Já entre os proprietários estão os bancos, operadoras de telecomunicações, fabricantes de dispositivos móveis e empresas de tecnologia.
Tendências regionais
Quando se olha para as tendências no mercado de carteiras móveis regionalmente, a pesquisa revela alguns pontos interessantes referentes aos grandes mercados globais.
Olhando para a América do Norte, o estudo aponta que a região deverá crescer significativamente no mercado global de carteiras móveis até 2030 devido à ampla penetração das tendências de pagamento móvel e infraestrutura de pagamento digital bem estabelecida.
Já na Europa, o mercado de carteiras móveis também crescerá de forma constante, com ganhos acima de 16% no período. Afinal, o cenário europeu de mobile banking evoluiu significativamente nos últimos cinco anos. Isso pode ser atribuído ao aumento de várias carteiras móveis concorrentes (internacionais e domésticas). Além disso, o esforço colaborativo entre bancos e players de tecnologia está acelerando esse crescimento, assim como a ampla adoção da tecnologia NFC em todo o varejo.
Enquanto isso, os clientes dos países da região Ásia-Pacífico são os maiores usuários de canais de pagamento móvel do mundo, pois a ampla adoção dessa tecnologia nos mercados emergentes oferece aos bancos uma nova maneira de alcançar os não-bancarizados e carentes em áreas remotas.
Seguindo para a América Latina, a penetração móvel cresceu significativamente nos últimos cinco anos e as conexões de banda larga rapidamente se tornaram um meio dominante para acesso à internet, impulsionando o uso de carteiras móveis. Ademais, os bancos estão acelerando a transformação digital. Mais de 60% estão implementando ou testando computação em nuvem, chatbots e big data em suas soluções.
Falando de Brasil, especificamente, o país possui um grande número de fintechs, impulsionando o crescimento do mercado. Aproximadamente 40% dos consumidores digitalmente ativos usam algum tipo de serviço ligados a elas, demonstrando o anseio do mercado em adotar carteiras móveis.
Finalmente, os países do Oriente Médio, especialmente os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita, são impulsionados pela adoção antecipada de vários instrumentos de pagamento digital e pelo aumento dos gastos governamentais para desenvolver infraestrutura digital avançada.
Projeções para os negócios
Juntamente com as tendências por região, a pesquisa indica algumas projeções para a condução dos negócios no mercado de carteiras móveis. São elas:
- Espera-se que as carteiras móveis fechadas venham representar quase 20% dos pagamentos de ecommerce até 2030, a nível mundial. A intenção das empresas de ecommerce é aumentar a fidelidade do cliente e incentivar compras contínuas, mediante descontos lucrativos e cashback impulsionando os clientes a guardar dinheiro nessas carteiras; Diante do crescimento das carteiras móveis fechadas, existem esforços de investimento de empresas bancárias e de telecomunicações a fim de promover uma maior adoção de carteiras móveis abertas;
- Já o segmento baseado em texto está pronto para registrar aumento de cerca de 5% até 2030;
- A crescente penetração de smartphones também continuará impulsionando o crescimento do mercado de carteiras móveis. Estima-se que até 2025, os smartphones serão responsáveis por mais de 77% de dispositivos habilitados para internet. Para atender a esses clientes, os dois maiores fabricantes estão introduzindo cada vez mais uma gama de carteiras móveis nesses dispositivos;
- Adicionalmente, a ascensão de várias plataformas de comércio eletrônico também contribuirá para o crescimento do mercado;
- Ultimamente, os provedores de serviços de rede móvel vêm firmando acordos de parceria estratégica com emissores de cartões para desenvolver carteiras virtuais. Essas ofertas de produtos tendem a crescer e destinam-se aos clientes tanto pessoa física como jurídica de olho em transações B2C e B2B; e
- Além disso, o cenário competitivo do mercado de carteiras móveis está programado para testemunhar alianças estratégicas entre os participantes do setor.
Carteiras móveis como instrumento de inclusão financeira
Ao lado da pesquisa da Global Market Insights, um estudo da Boku, baseado em dados da Juniper Research, confirma a importância das carteiras móveis globalmente e a tendência de crescimento desse mercado nos próximos anos. Nesse sentido, a pesquisa considera o poder dessas carteiras de incluir financeiramente quem não tem acesso a bancos ou está em áreas remotas onde não existem redes de atendimento.
Enquanto em 2021 estimava-se em 2,8 bilhões o número de usuários globais de carteiras móveis, em 2025, o estudo projeta em 4,8 bilhões de pessoas ou 60% da população mundial. A publicação contém informações de 19 países, entre eles o Brasil, e analisa os métodos de pagamento realizados através de smartphones, apontando esse movimento como de grande impacto e inclusão para populações em países fora do eixo desenvolvido.
De acordo com o estudo, na maior parte desses mercados, o pagamento em dinheiro ainda é bastante popular e as carteiras móveis têm sido desenvolvidas fora do ecossistema de cartões de pagamento, substituindo cada vez mais o pagamento em espécie.
Além disso, apesar dos percentuais de pessoas desbancarizadas continuarem altos nessas regiões, a penetração dos smartphones já se sobrepõe à quantidade de contas bancárias, dando, dessa maneira, a chance de mais pessoas acessarem serviços financeiros digitais.
Ainda conforme a pesquisa, a implementação de iniciativas como o Open Banking e Open Finance também são aliados importantes das carteiras móveis para o processo de inclusão digital e financeira.
A importância das carteiras móveis para os países em desenvolvimento não se resume à inclusão financeira, conclui a publicação. Amplia-se com o aumento da segurança, pois o uso de dinheiro para pagamentos traz riscos tanto para quem paga e recebe. Assim, esse tipo de carteira, que contempla soluções de impacto como o Pix, é fundamental nesse aspecto.
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