Como fortalecer o mercado de FinTechs diante da crise econômica

O boom das FinTechs estagnou diante da crise econômica? Entenda como as autoridades podem estimular o contínuo crescimento desse mercado.
Como fortalecer o mercado de FinTechs diante da crise econômica
Data
Autor
Morgana Tolentino
Produto
Compartilhar

Nos últimos anos, as FinTechs têm democratizado o acesso a produtos financeiros, promovendo a inclusão financeira e digitalização do setor. A entrada desses players ainda tem impactado positivamente a eficiência do sistema, estimulando modelos de negócios inovadores, desburocratizando serviços e aumentando alcance via soluções digitais. Além disso, há um empenho especial em atingir nichos com dificuldade histórica de acessar produtos financeiros, como pequenas empresas. 

Reconhecendo essa importância, diversos países já vinham apresentando projetos específicos para desenvolver o mercado de FinTechs. Entre eles, se destacam Singapura e Austrália, famosos hubs de tecnologia financeira, e Índia, com uma série de projetos governamentais para o setor. 

Iniciativas desse tipo ganham ainda mais relevância em 2022, quando, após um 2021 de forte crescimento, o setor vive uma queda nos investimentos diante da crise econômica global. Considerando a importância que as FinTechs têm tido na evolução do sistema financeiro, é importante que as autoridades se inspirem nessas iniciativas internacionais e estejam atentas para que o segmento chegue forte do outro lado da crise.

FinTechs no olho do furacão da crise econômica

Devido a todo o seu potencial inovador para o sistema financeiro, o segmento de FinTechs vinha de consecutivos anos de crescimento, com diversos IPOs em bolsas como a Nasdaq. Com a crise da COVID-19 e os movimentos de isolamento social, as soluções digitais ganharam ainda mais relevância e, só as FinTechs brasileiras, por exemplo, receberam mais de USD 1,4 bilhões em aportes. Mesmo com a reabertura econômica, havia uma expectativa de crescimento forte para o setor. 

Contudo, diante do aumento global da inflação, os principais bancos centrais do mundo aumentaram suas taxas de juros, com especial destaque para o aumento do FED, que elevou a taxa de juros dos EUA para o seu maior patamar desde 2008. Como o aumento dos juros reduz a disposição dos investidores com projetos inovadores (e mais arriscados), isso se refletiu nos resultados de aportes para FinTechs. 

Segundo a Distrito, os resultados do primeiro semestre de 2022 mostram uma queda de mais de 44% nos aportes para startups brasileiras em relação ao mesmo período do ano anterior, por exemplo. A esses números, soma-se ainda a redução no valor médio de mercado das FinTechs já listadas em bolsa e os diversos casos de demissão em massa que sucederam essa queda. 

Assim, apesar da crise atual ter impactado a economia global, as FinTechs parecem ter sido especialmente afetadas dentro do sistema financeiro. Tal cenário, no entanto, precisa ser superado, uma vez que as empresas são de grande relevância para o setor. É interessante, portanto, que as autoridades intensifiquem projetos que estimulem o mercado de FinTechs.

Como fortalecer FinTechs? Índia aposta em regulação e infraestrutura 

Um destaque recente de sucesso em programas de incentivos às FinTechs é o caso da Índia. Em primeiro lugar, o país tem uma regulação considerada fundamental para o desenvolvimento do setor, com esforços para o reconhecimento de novos tipos de instituições financeiras, desenvolvimento de sandboxes regulatórios, entre outros. 

O país também possui acordos internacionais para a promoção de padrões de interoperabilidade e novas soluções para FinTechs, e também criou uma nova autoridade (IFSCA, na sigla em inglês) para desenvolver e regulamentar novos produtos, serviços e instituições financeiras no âmbito do International Financial Services Centres (IFSC), ou seja, centros de fluxo de produtos e serviços financeiros transfronteiriços, buscando fortalecer a inovação financeira na economia global. 

Essa criação de um ambiente institucional seguro para FinTechs já tende a estimular mais investimentos, uma vez que reduz parte dos riscos associados a ele. Mas, para ir além, as autoridades indianas ainda estão comprometidas com uma infraestrutura digital pública robusta e com a oferta de sistemas financeiros digitais seguros e interoperáveis. 

Os reguladores locais também desenvolveram diversos programas para estimular diretamente o setor, como o Digital India Program, India Stack, IRDAI for Fintech, entre outros. 

É interessante notar que benefícios de projetos para melhorar infraestrutura e capacitação digital transbordam para além do ecossistema de FinTechs.

É interessante notar que benefícios de projetos para melhorar infraestrutura e capacitação digital transbordam para além do ecossistema de FinTechs. Essa é a expectativa não só na Índia, mas também em Hong Kong, que tem iniciativas semelhantes. Uma, lançada em julho de 2022 pela autoridade monetária, visa qualificar mão de obra para FinTechs. Tal iniciativa, estimula sim o desenvolvimento do setor, mas transborda para o mercado de trabalho como todo.

Singapura e Austrália apostam em parcerias para desenvolver FinTechs

Também em 2022, Singapura e Austrália selaram o acordo FinTech Bridge, por meio do qual os dois países se comprometeram a desenvolver e inovar no setor de FinTechs através de um ecossistema interoperável com suporte de autoridades de ambas as partes. A integração visa facilitar o investimento e o desenvolvimento das FinTechs, apoiar mutuamente o setor nos dois países, reduzir barreiras à entrada, promover grupos de estudo e trabalho entre especialistas dos dois países, e explorar projetos conjuntos para inovação.

As duas jurisdições são conhecidas pelo esforço local para o desenvolvimento de ambientes altamente tecnológicos e institucionalmente seguros, com foco em soluções para a digitalização do sistema financeiro. São consideradas exemplos no desenvolvimento do mercado de FinTechs, constantemente ranqueadas entre as 10 melhores nos rankings globais. Dessa forma, a integração de ambas no esforço de desenvolver o setor demonstra a importância do segmento para um sistema financeiro altamente digitalizado, o que reforça a necessidade de projetos para estimular o setor durante a crise. 

Ao se movimentar para garantir a robustez do ambiente de FinTechs em meio à crise, esses países reconhecem o quão relevante o setor é para o desenvolvimento do mercado financeiro. Essa é uma postura que vale ser acompanhada e reforçada, pois fortalece a importância de projetos para estimular o segmento de FinTechs nos dias atuais.

 

Morgana Tolentino é pesquisadora do Instituto Propague e mestra em Economia pela UERJ.

 

Veja mais:

Tarifas de pagamentos em cartão: como o cenário atual do Reino Unido pode influenciar o Brasil?

A Índia é líder no mercado de pagamentos? Qual a posição do mercado que inspirou o Pix no cenário global

Fintechs: entenda quais são as suas fases estruturantes

Todos os produtos

Quer se
aprofundar mais?

Com uma linguagem simples de entender, as análises do Instituto Propague vão te deixar por dentro dos principais temas do mercado.

Leia agora!