Fintechs encontram campo fértil no Brasil e país lidera uso de produtos financeiros na América Latina

Motivos não faltam para justificar o avanço das startups de finanças no país. São centenas de empresas promovendo a desintermediação de um sistema bancário ainda muito concentrado, chamando a atenção no cenário latino-americano.
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Equipe Propague
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Não é de agora que as inovações tecnológicas vêm revolucionando o setor de finanças e pagamentos no Brasil. Como resultado, a cena das startups financeiras, as chamadas fintechs, é um exemplo clássico desse movimento no país. Atualmente, são centenas de empresas mudando a forma como os brasileiros compram, poupam, investem e acessam uma infinidade de serviços financeiros.

Elas desembarcaram por aqui há poucos anos e embora, inicialmente, tenham incomodado as instituições financeiras já estabelecidas no setor, notadamente os bancos, as fintechs rapidamente cresceram e, hoje, naturalmente fazem parte do Sistema Financeiro Nacional (SFN).

Para se ter uma ideia, somente entre 2016 e 2022, mais de 500 novas fintechs passaram a funcionar no Brasil. Com isso, já são quase 1.300 empresas do gênero em território nacional, de acordo com o estudo “Inside Fintech” (Por dentro das Fintechs, na tradução direta) divulgado pela consultoria em inovação Distrito.

Motivos para essa expansão não faltam. É o que explica Kate Jaquet, co-gerente de portfólio da Seafarer Capital Partners, consultoria focada em mercados emergentes, em um artigo publicado pelo OMFIF. Segundo a executiva, é impressionante como as fintechs estão promovendo a desintermediação de um sistema bancário ainda muito concentrado como se vê no Brasil.

Além disso, o forte crescimento das fintechs também trouxe como o resultado a liderança do país no uso de produtos financeiros na América Latina (AL), conforme um estudo da Mambu, plataforma de SaaS (sigla em inglês para Software como Serviço).

Na avaliação da empresa, a principal razão é justamente a maturidade tecnológica encontrada no mercado financeiro brasileiro. Não é à toa, aponta, que o Brasil é o único país da América Latina em que mais da metade da população jovem usa bancos digitais como instituição financeira principal em detrimento dos bancos tradicionais.

Por que o Brasil é um país vantajoso para as fintechs?

Em seu artigo no OMFIF, Jaquet defende que o Brasil é um mercado fértil para as fintechs por três razões em especial. A primeira delas, afirma, é que o sistema bancário brasileiro é pequeno em relação ao tamanho do país, sendo fortemente dominado por apenas alguns bancos.

Essa concentração bancária, diz, está há bastante tempo em torno de 80%, enquanto nos Estados Unidos esse número é de cerca de 50%. Dessa forma, para ela, a rigidez e a natureza oligopolista do setor bancário nacional restringiram a economia, deixando muitos brasileiros sem acesso a banco e consumidores em busca de opções melhores e mais convenientes.

Nesse contexto, as fintechs passaram a atender os brasileiros de uma forma que os bancos tradicionais não faziam, chegando a oferecer para milhões de pessoas suas primeiras contas bancárias.

Em segundo lugar, afirma, as preferências dos consumidores estão mudando e as fintechs nacionais identificaram uma ampla frustração dos clientes com as instituições financeiras previamente estabelecidas. A partir daí, se movimentaram para rapidamente oferecer um conjunto de produtos e serviços financeiros na palma da mão do cliente, por meio de um smartphone, a poucos cliques e sem burocracia.

Ao mesmo tempo, emenda, existe uma cultura bem arraigada de parcelamento no Brasil. De modo que esse cenário se encaixa perfeitamente no aumento do financiamento digital, resultando em uma proliferação de fintechs orientadas para pagamentos operando no país.

Finalmente, em terceiro lugar, Jaquet lembra que o governo brasileiro criou várias iniciativas destinadas a promover uma maior concorrência nos setores bancário e de pagamentos. Entre elas, o encerramento do duopólio das principais adquirentes de cartões de crédito no país e o lançamento de programas para aumentar a cidadania financeira e oferecer crédito mais acessível.

Inovação leva brasileiros a usarem mais produtos financeiros entre latino-americanos

Esse cenário favorável para a inovação e o consequente surgimento de fintechs no Brasil deixa o país em vantagem na comparação com outras nações latino-americanas quando o assunto é o uso de produtos e serviços financeiros.

Segundo a pesquisa “Parta para a ação! Quais produtos e serviços são usados pelos jovens da América Latina?”, divulgado pela Mambu, a população local com idade entre 18 e 35 anos é a que mais utiliza produtos financeiros na região.

Em média, aponta a publicação, são 3,09 produtos por pessoa, um número superior ao registrado na Argentina (3,06), no Peru (2,83), na Colômbia (2,45), no Chile (2,38) e no México (2,2).

Nesse contexto, os produtos mais acessados nesses países são cartões de débito (74%), contas poupança (57%) e cartões de crédito (35%).

Quando se olha especificamente para o Brasil, a ordem de preferência é cartões de débito (69%), conta corrente (55%) e conta poupança (52%).

O que chama a atenção, destaca o estudo, é que quanto maior o acesso a bancos, menor a necessidade de procurar por outras instituições financeiras como as fintechs. E o Brasil, na comparação com esses países é o que tem uma das populações mais bancarizadas.

Contudo, devido à excelência tecnologia encontrada no mercado financeiro nacional, os cidadãos mais jovens aderiram em sua maioria aos bancos digitais. Aproximadamente 54% deles tem essas fintechs como principal instituição financeira. A saber, uma taxa bem acima de países como a Argentina, que ocupa a segunda posição nesse comparativo, com 21% dos jovens priorizando os bancos digitais.

Já quando se olha para os serviços financeiros, os pagamentos saem na frente (62%), seguidos de aplicativos de bancos (55%) e recebimento de folha de pagamento (51%). Enquanto isso, no Brasil, os mais populares são pagamentos de contas (69%), pagamentos em geral (67%) e aplicativos bancários (67%).

 

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