Um novo estudo divulgado em conjunto pelo Instituto Datafolha e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública confirma que, a cada dia, mais e mais brasileiros são vítimas de fraudes financeiras.
Segundo a publicação, nos últimos 12 meses, as perdas chegaram a somar quase R$ 44 bilhões. Destes, a maior parcela, R$ 25,5 bilhões ou cerca de 58%, corresponderam a fraudes através de boletos falsos e transferências via Pix.
Enquanto isso, os golpes envolvendo cartões totalizaram um prejuízo de R$ 18,3 bilhões aos bolsos dos brasileiros.
Ainda de acordo com o estudo, em média, as perdas financeiras observando cada tipo de golpe corresponderam a R$ 1.700 por transação no caso dos cartões, ao passo que para boletos falsos e Pix o valor ficou em aproximadamente R$ 1.550 por operação.
Ao mesmo tempo, também foram relatadas mais de 4.600 ocorrências em consumidores que pagaram por um produto que nunca receberam.
E mais: apesar da preferência dos consumidores por pagamentos digitais, a pesquisa também identificou perdas através de golpes realizados presencialmente, com aproximadamente 1.700 pessoas recebendo dinheiro falso e 480 casos utilizando maquininhas de cartão.
Para chegar a esses números, foram ouvidas 2.508 pessoas em todas as regiões do Brasil, entre 11 e 17 de junho de 2024. Além disso, a fim de estimar a quantidade de casos, os cálculos levaram em conta a proporção de indivíduos que sofreram cada tipo de fraude nos 12 meses anteriores às entrevistas e a população total do país.
Quase 4.700 ocorrências de fraudes por hora
Os dados da pesquisa revelam ainda que, em média, foram praticamente 4.700 tentativas de fraudes por hora em todo o Brasil no período analisado, efetuadas via chamadas telefônicas e aplicativos de mensagens.
Em meio a essas investidas, pouco mais de 4.500 envolveram transações por meio de Pix e pagamentos de boletos falsos.
Conforme a publicação, grande parte dos golpes ocorre quando os criminosos se passam por funcionários de uma empresa ou instituição financeira e procuram confirmar uma tentativa de transferência de dinheiro ou a realização de uma determinada compra, comumente de valor alto, para gerar o interesse no contato.
Com isso, eles esperam fazer com que as vítimas informem seus dados bancários, podendo, dessa forma, levar à perda do seu dinheiro.
Ademais, paralelamente às tentativas de golpes por chamada telefônica e ou mensagens de aplicativos, a publicação indica que também foram contabilizados, em média, 1.220 casos por hora através de publicidade digital.
Pix errado é a mais nova prática dos fraudadores
Diante da enorme aceitação do Pix pelos brasileiros, ficou evidente como esse método de pagamento instantâneo também atraiu a atenção dos fraudadores. Afinal, como se observou, juntamente com os boletos, as perdas financeiras por conta de fraudes com a modalidade superou as registradas envolvendo os cartões.
Nesse cenário, um tipo de golpe que vem crescendo é o chamado “Pix errado”. Na prática, ele acontece quando os alvos recebem uma transferência de alguém mal-intencionado, que posteriormente pede o estorno da transação.
Contudo, além desse pedido de devolução, paralelamente, o fraudador também aciona uma ferramenta criada pelo Banco Central (BC), a fim de facilitar o retorno do dinheiro nas ocorrências de fraudes, no caso o Mecanismo Especial de Devolução (MED).
Desse modo, se for bem-sucedido, o fraudador recebe tanto o dinheiro devolvido pela vítima, que fica no prejuízo, bem como a quantia obtida através do MED.
Entidades e reguladores tentam inibir casos de fraudes
Com as constantes tentativas e casos concretos de fraudes envolvendo esses métodos de pagamento, entidades representativas do setor e reguladores, como o Banco Central, vêm adotando medidas e intensificando esforços para coibir a prática de atividades ilícitas e que prejudiquem o consumidor.
Recentemente, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) anunciou a implementação de três propostas visando incrementar a segurança das transações com cartões.
Essas iniciativas abrangem a averiguação de uso indevido, controle de fraudes e inspeção de auditorias. Segundo a Abecs, tem sido comum, por exemplo, o uso irregular de cartões para conceção de empréstimos usando o limite do cliente.
Nesse sentido, um dos projetos anunciados contempla o desenvolvimento de um sistema unificado para o compartilhamento de informações sobre fraudes com cartões, enquanto outro prevê que haja uma padronização e a homologação, por meio da Abecs, dos serviços de fiscalização e auditoria prestados por empresas que atendem o setor com esses propósitos.
Assim como o de cartões, o setor bancário também tem investido em ações para impedir as fraudes praticadas contra as instituições e seus clientes. Ainda em 2023, para tentar elevar a segurança das operações e diminuir as perdas financeiras, os bancos começaram a pôr em prática o que estabelece a Resolução Conjunta Nº 6 do BC, ou seja, a adoção de um sistema eletrônico para partilhar informações entre eles ao se depararem com transações suspeitas.
E, mais especificamente por conta do aumento de fraudes via Pix, o BC publicou ainda a Resolução Nº 403, que passa a vigorar em novembro de 2024, orientando as instituições financeiras sobre o funcionamento do sistema, no sentido de aprimorar a segurança das operações por meio do compartilhamento de informações, prevenção a golpes de dispositivos e adoção de padrões de proteção.
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