O sistema de pagamentos indiano é, sem dúvidas, um dos principais destaques do setor financeiro na Ásia e do mundo. Em 2016, o país lançava sua plataforma de pagamentos instantâneo, o Unified Payment Interface (UPI) que, não só revolucionou o mercado de pagamentos instantâneos e acelerou a pauta de inclusão financeira, como também colocou a Índia em uma posição de referência global em pagamentos, servindo de inspiração, inclusive, para o pix.

Desde então, o sistema indiano avançou bastante, se consolidando como um dos centros mais promissores no mundo. A Agência Nacional de Promoção e Facilitação do Investimento (Invest India), por exemplo, destacou que os pagamentos instantâneos na Índia ultrapassaram os 48 bilhões em 2021, o que representa 6,5 vezes o volume acumulado das principais economias do mundo: EUA, Canadá, Reino Unido, França e Alemanha.

De acordo com um relatório do Boston Consulting Group e da Phone Pe, a expectativa para os próximos anos é de expansão, com o mercado de pagamentos digitais triplicando o volume de transações de US$ 3 trilhões para US$ 10 trilhões até 2026. Com isso, os pagamentos digitais responderiam por 65% do total realizado.

Os resultados expressivos são fruto da introdução de novos sistemas no mercado de pagamento, como o Unified Payments Interface (UPI) e o RuPay. O UPI é um sistema que agrega várias contas bancárias em um único aplicativo móvel (de qualquer banco participante), oferecendo recursos bancários variados. Já a RuPay é a primeira rede de pagamentos de cartões domésticos da Índia, com ampla aceitação em caixas eletrônicos e sites de comércio eletrônico.

Índia adota colaboração internacional como estratégia para expandir seu sistema de pagamentos

As autoridades locais, entretanto, não estão focando apenas no mercado doméstico e, nos últimos anos, tem trabalhado para expandir as possibilidades de pagamentos para além das suas fronteiras, colocando em prática estratégias que permitam aos cidadãos e empresas acessarem mercados estrangeiros.

Entre as iniciativas de maior destaque, o Banco Central da Índia (RBI) instituiu um novo mecanismo para permitir a liquidação de transações internacionais em Rupia Indiana (INR). Além disso, em 2022, foi lançado o Portal de Negócios, uma plataforma B2B para conectar exportadores indianos com compradores estrangeiros. O portal permite que pequenas e médias empresas (PMEs), artesãos e agricultores identifiquem novos mercados para seus produtos e aumentem suas vendas globais.

Além de lançar novos sistemas e plataformas nacionais, o RBI,  tanto diretamente quanto por meio de suas agências, tem buscando estabelecer parcerias estratégicas com importantes players de infraestrutura de pagamentos para expandir o alcance dos seus sistemas domésticos.

Um exemplo notável é a parceria estabelecida entre a TerraPay, um dos principais grupos globais de infraestrutura de pagamentos, e a NPCI International Payments Limited (NIPL), o braço internacional da National Payments Corporation of India (NPCI), para criar soluções de pagamentos transfronteiriços.

Vale lembrar que a NPCI é uma organização “guarda-chuva”, criada em 2007, para pagamentos e sistemas de liquidação, sendo uma iniciativa do Reserve Bank of India (RBI) e da Indian Banks’s Association (IBA). A NPCI foi justamente umas das organizações responsáveis por criar o UPI e o RuPay.

NIPL firma acordo para explorar o sistema de pagamentos da TerraPay

A associação entre a TerraPay e a NIPL permitirá que clientes e comerciantes indianos que possuam uma ID ativa da UPI façam e aceitem pagamentos transfronteiriços, aproveitando a infraestrutura ágil do TerraPay integrada a rede UPI. Nesta colaboração, as transações serão feitas em locais que contém com pagamento via QR habilitado para a TerraPay. Com isso, as instituições pretendem aumentar ainda mais o uso da UPI e do QR para pagamentos transfronteiriços. Vale lembrar que a TerraPay está presente em mais de 200 países na África, Europa, Pacífico Asiático, Américas e no Golfo.

A expectativa, por parte da NIPL, é que a parceria acelere o uso de aplicativos UPI em diferentes regiões, aumentando a preferência por transações sem dinheiro físico. Já a TerraPay, aponta interesse em construir a interoperabilidade entre diferentes instrumentos financeiros e sistemas de pagamentos, além de buscar acesso à um mercado marginalizado, fora do mainstream dos pagamentos digitais.

NPCI firma primeiro acordo com empresa europeia para conectar o seu sistema de pagamentos

Dando sequência a sua estratégia, a NPCI International Payments Limited (NIPL), fez uma parceria com a empresa francesa de pagamentos digitais, Worldline, para lançar a Interface de Pagamentos Unificada (UPI) e os pagamentos RuPay na Europa, dando mais um passo para integrar o sistema de pagamentos indianos a outras plataformas.

Com isso, a Worldline se tornou a primeira empresa europeia a oferecer UPI e RuPay para comerciantes europeus e nativos indianos que viajam na Europa. Sua proposta é, além de diversificar os meios de pagamento disponíveis, trazer mais comodidade e praticidade aos clientes indianos que viajam para países europeus, permitindo que transações feitas diretamente via UPI e RuPay, sem necessidade de conversão.

De acordo com a empresa, os pagamentos digitais serão baseados em QR da própria Worldline e oferecerão a possibilidade de pagamentos digitais em diversos países da Europa, como Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo e na Suíça. A Worldline informou ainda que considera a parceria uma ação estratégica e inovadora, pois, com o comportamento de consumo e pagamento mudando rapidamente, foi identificado em seus clientes internacionais um padrão de afastamento dos esquemas tradicionais de cartões de crédito e uma preferência por qualquer sistema de pagamento móvel.

Próximos passos para o alcance global

Assim, o sistema de pagamentos da India, além de ser um dos mais sofisticados do mundo, caminha para se tornar um sistema global. O UPI, por exemplo, já é aceito em países da Ásia, como Nepal, Singapura, Bhutan e Malásia e países europeus como França e Reino Unido.

O NPCI deve seguir com a estratégia do Banco Central de internacionalização do sistema de pagamentos indiano, explorando a expansão de outros dos seus sistemas, como o RuPay, e novas parcerias estratégicas focadas no mercado internacional.

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