Mercado de câmbio: como reduzir dependência do dólar?

Apesar do domínio internacional da moeda norte-americana, o reflexo da política monetária está levando à procura por moedas alternativas e pagamentos transfronteiriços por meio das tecnologias blockchain. Diversas iniciativas recentes comprovam essa tendência.
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Equipe Propague
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Embora o dólar ainda reine absoluto como meio de troca do sistema financeiro internacional, diversos países estão abrindo espaço para explorar alternativas no mercado de câmbio. A ideia principal é reduzir a dependência da moeda norte-americana e do sistema Swift, principais mecanismos que sustentam os pagamentos globais.

Esse movimento tem como fundamento as atuais condições macroeconômicas, primeiramente desencadeadas pela pandemia da Covid-19 e, em seguida, pelos reflexos na conjuntura internacional das sanções impostas pelos Estados Unidos e outras economias ocidentais à Rússia em resposta à guerra com a Ucrânia, o que também impactou o mercado de câmbio.

Para os analistas, isso não significa que o domínio sistêmico do dólar esteja ameaçado. Porém, fatores como o enfraquecimento de suas máximas no fim de 2022, um euro mais forte, um iene potencialmente fortalecido, as tentativas da China para aumentar o uso do yuan internacionalmente e a exploração de moedas e commodities alternativas por vários países emergentes devem marcar o panorama cambial em 2023 e nos anos que seguem.

Somado à esse cenário, também não se pode deixar de acrescentar a promoção de pagamentos transfronteiriços por meio de tecnologias blockchain e o desenvolvimento de pagamentos instantâneos internacionais utilizando moedas locais dos pagadores e beneficiários, sem a intermediação de uma moeda forte como o dólar.

Cenário macroeconômico e o mercado de câmbio

Para se ter uma ideia de como as peças estão se movimentando no mercado de câmbio, em janeiro de 2023, em uma mesa redonda promovida pelo OMFIF para discutir as perspectivas para o ano, no centro das discussões estavam se as condições na macroeconomia mundial poderiam estar melhorando e como as políticas macroeconômicas incertas e os eventos geopolíticos estariam moldando esse mercado.

Segundo Julian Jacobs, economista do OMFIF, os participantes observaram a dificuldade em decifrar esse cenário. No entanto, pontuaram que a aparente desaceleração da inflação poderia ser um sinal positivo, encorajando o Federal Reserve (FED), o banco central dos Estados Unidos, a reduzir o ritmo de suas taxas de juros, aliviando o aperto da política monetária na economia.

Nesse sentido, em artigo publicado pelo OMFIF, ele expõe que vários painelistas indicaram que com o FED se aproximando de sua taxa terminal e diminuindo o ritmo de alta dos juros, o dólar sairia de suas máximas e teria espaço para mais flexibilização.

Ao mesmo tempo, existe a expectativa de que o euro se valorize ligeiramente ante o dólar até o fim de 2023, devido, em grande parte, à melhoria das condições nas previsões macroeconômicas europeias.

Enquanto isso, Jacobs destaca que outros integrantes do painel previram que o iene também se valorize sobre o dólar devido variações de taxas mais favoráveis. Contudo, alegaram, ainda, que a força do iene e o aperto do Banco Central japonês dependeriam da inflação doméstica.

Por outro lado, dentro do atual cenário do mercado de câmbio, há mais incerteza em relação à libra. Para os participantes, uma valorização da moeda britânica dependeria, em última análise, da capacidade da economia do país superar algumas feridas, como sua saída da União Europeia, uma resposta fraca à pandemia e a perda de credibilidade internacional provocada pela dificuldade de liderança do partido conservador.

O que isso representa para o domínio do dólar?

Conforme o economista chefe do OMFIF, apesar de todos esses elementos, o painel sustentou que o papel de longo prazo do dólar no sistema monetário e financeiro global continuará persistindo.

Porém, os participantes observaram que os bancos centrais podem estar se movendo em direção a vários ativos alternativos dentro do mercado de câmbio – como os dólares australiano e canadense -, mas que essas alocações de moeda permaneceriam em grande parte nas margens.

Eles projetaram ainda que as tentativas chinesas de melhorar a posição global do yuan continuariam, mas tenderiam a ser prejudicadas pelas preocupações geopolíticas dos países e pelos problemas econômicos da China.

Contudo, enquanto isso, Jacobs deixa claro que muitos mercados emergentes parecem estar aumentando sua alocação em ouro, que não tem a liquidez dos títulos do tesouro dos Estados Unidos, mas, por outro lado, oferece às economias em desenvolvimento e à China uma oportunidade de obter alguma diversificação modesta em suas reservas e nas movimentações no mercado de câmbio, incluindo proteção contra sanções ocidentais.

Iniciativas recentes para contornar o dólar no mercado de câmbio

Entre os movimentos mais recentes no mercado de câmbio a fim de diminuir a dependência dos países em relação ao dólar, destacam-se:

  • Acordo bilateral entre Índia e Emirados Árabes Unidos para liquidar operações por meio de suas moedas locais, ao mesmo tempo que existe um esforço em promover a internacionalização da rupia;
  • Recorde de pouco mais de 49% nos pagamentos e recebimentos transfronteiriços realizados em yuan chinês, no primeiro semestre de 2022;
  • Expansão de liquidação em moeda local da Indonésia com os bancos centrais australiano e sul-coreano;
  • Emissores do Sudeste Asiático comercializando dívidas em moedas domésticas em um ritmo inédito no primeiro trimestre de 2023;
  • Suposta limitação da autoridade monetária do Laos aos bancos comerciais no país que operavam vendas em moedas estrangeiras;
  • Fortalecimento do diálogo de Bangladesh e Cazaquistão com a China para utilizar mais o yuan;
  • Tailândia, Malásia, Indonésia e Singapura desenvolveram sistemas para transações entre eles usando suas moedas domésticas, em vez do dólar;
  • Em Taiwan, a população já pode pagar por meio de sistema de código QR Code vinculado ao Japão;
  • Brasil e Argentina anunciaram que devem estudar a criação de uma moeda comum para uso em exclusivo em transações comerciais.

Com tantos exemplos, afirmam alguns especialistas, há uma forte tendência de que, a fim de reduzir a dependência ao dólar, a procura por métodos e moedas alternativas no mercado de câmbio não deve diminuir.

 

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