Os impactos negativos dos riscos climáticos, sociais e ambientais na estabilidade do sistema financeiro são um alerta constante para governos e reguladores em todo o mundo. Nesse contexto, a dúvida que fica é: o que fazer rumo a uma economia mais sustentável e inclusiva? E como lidar com os custos envolvidos nesse processo de transição? O debate em torno do esverdeamento das finanças ganha força nos diferentes setores da economia e parece começar a ser incorporado ao mercado de pagamentos.
Até então, a maioria dos analistas e estudiosos vinham se debruçando em torno de produtos e serviços voltados para gerar um resultado mais sustentável ou financiar a transição para uma economia mais verde. Incluem-se aí, empréstimos, mecanismos de dívida e investimentos a fim de promover o desenvolvimento de projetos alinhados com as metas sustentáveis, o que ficou conhecido como finanças verdes.
Mas assim como se discute como e onde o dinheiro deve ser investido no âmbito da sustentabilidade por parte das instituições financeiras e demais investidores, será que o mesmo raciocínio não pode ser aplicado considerando o lado do consumidor? Ou seja, além da escolha de quais organizações comprar e quais produtos consumir, o cliente passa a repensar se a forma como ele realiza a compra e adquire seus serviços também está em conformidade com o meio ambiente. É aí onde o mercado de pagamentos pode ajudar a salvar o planeta.
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A sustentabilidade no mercado de pagamentos
Segundo Gihan Hyde, fundadora e CEO da Communique, consultoria de comunicação em ESG (sigla em inglês para social, ambiental e governança), o papel do mercado de pagamentos, ou por assim dizer, como ele pode contribuir para uma economia mais sustentável e inclusiva, também deve pautar o debate em torno do esverdeamento da economia.
Em artigo publicado pela Fintech Futures, ela argumenta que o dinheiro e os cartões físicos tradicionais são extremamente insustentáveis. Isto porque, explica, a cunhagem de moedas resulta em emissões de carbono e, a isso, se junta as emissões envolvidas na fabricação de cédulas e cartões bancários confeccionados de plástico de polímero todos os anos.
Além disso, ela lembra, por exemplo, a eletricidade necessária para manter os caixas eletrônicos constantemente disponíveis e ainda os 11 bilhões de comprovantes – a maioria a base de componentes não recicláveis, como BPA e BPS – impressos somente no Reino Unido anualmente.
“Tudo isso resulta em uma maneira incrivelmente insustentável e prejudicial de trocar mercadorias e serviços”, afirma. Assim, Hyde defende que mudar a forma como fazemos pagamentos também pode ter um impacto positivo substancial nas emissões de carbono da sociedade.
Alternativas mais conscientes e seus benefícios
Na avaliação da consultora, oferecer opções sustentáveis para fazer pagamentos tem benefícios potenciais, como:
- Capacitar os cidadãos a assumir o controle de suas emissões de carbono em suas vidas cotidianas com pequenas mudanças que se somam;
- Coletar dados para a geração de insights sobre como as pessoas gastam, possibilitando a criação de novos investimentos em produtos e serviços com impacto positivo para a sociedade e o planeta; e
- Permitir que as empresas de pagamentos sejam líderes de mercado e agentes de mudança, defendendo um modelo de negócios e um modo de vida mais focado na sustentabilidade.
De acordo com Hyde, cidadãos empoderados entendem as razões para tomar decisões mais conscientes social e ambientalmente. Além disso, se revelam indivíduos com maior probabilidade de pensar criativamente e fazer outras escolhas mais sustentáveis.
“Dar aos consumidores a chance de sentir que estão tornando o mundo um lugar melhor toda vez que pagam por mantimentos terá impactos positivos que vão muito além da redução das emissões de carbono, com o potencial de ajudar a criar seres humanos mais focados e positivos que possam ver as mudanças que suas pequenas ações podem fazer”, afirma.
Pagamentos cashless: mercado mais sustentável
Entre as soluções existentes para mitigar o problema das emissões de carbono oriundas dos meios físicos de pagamento, Hyde cita os cartões virtuais e carteiras digitais móveis, que estão se tornando uma escolha cada vez mais frequente.
De acordo com ela, esses meios alternativos e sua aceitação demonstram claramente o apetite do público para que as instituições financeiras encontrem maneiras de se tornarem organizações melhores para o planeta e mais convenientes para os consumidores.
“Os benefícios potenciais de um mercado de pagamentos alternativo são enormes. Métodos de pagamento alternativos podem ajudar a incentivar uma economia mais baseada em compartilhamento, na qual os bens são reutilizados, amados e alugados, e os insights baseados em dados coletados podem ser usados para desenvolver melhores estratégias para alcançar resultados sustentáveis para as pessoas e o planeta, bem como os objetivos econômicos”, conclui.
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