É indiscutível o quanto os métodos de pagamento evoluíram e se diversificaram nos últimos anos, impulsionados por fatores como os avanços tecnológicos, a pandemia de Covid-19 e as consequentes mudanças no comportamento do consumidor. O desejo de velocidade e conveniência impulsionou, por exemplo, o surgimento das carteiras digitais e dos pagamentos instantâneos. Já a necessidade de compras acessíveis resultou no aparecimento do Buy Now Pay Later (BNPL) – Compre Agora, Pague Depois na tradução direta.
A adoção de métodos de pagamento alternativos vem acontecendo há alguns anos. Nesse contexto, o número crescente de compradores digitais tem levado os players do setor – especialmente comerciantes, provedores de serviços de pagamento e fintechs – a fomentar a inovação na tentativa de oferecer uma abordagem mais centrada no cliente.
Como resultado, o mercado está segmentado entre consumidores que usam diferentes métodos de pagamentos, e aqueles que são fiéis a determinados meios, mas, sobretudo, com todos eles adotando novos hábitos de compra.
Assim, para estar alinhado às tendências, quem opera no mercado de pagamentos precisa saber o que está em alta, bem como o que tende a ser promissor nos próximos anos. Tanto que, alguns estudos têm se debruçado sobre o tema com o intuito de fornecer um certo direcionamento.
Uma dessas publicações, o “Relatório de Meios de Pagamentos 2022”, lançado pela plataforma The Paypers, especialista global em fintechs, pagamentos e comércio eletrônico, revela que os olhares devem se voltar tanto para o que está acontecendo no espaço das carteiras digitais, pagamentos instantâneos e BNPL, como nos pagamentos por aproximação, QR Codes e criptomoedas. Ao mesmo tempo que chama a atenção para outra tendência emergente alimentada principalmente pelas novas gerações, o metaverso,
Acompanhe, a seguir, o que considerar em termos de tendências em métodos e tecnologias de pagamentos e os desafios para a sua adoção.
O peso das carteiras digitais entre os novos métodos de pagamento
Baseado em dados da Insider Intelligence, o Relatório de Meios de Pagamentos 2022 estima que os usuários globais de pagamentos móveis por aproximação atingirão 1,34 bilhão em 2022. A projeção representa um aumento de até 5,3% ano a ano. Isto porque, explica, os consumidores usam cada vez menos dinheiro, optando por métodos de pagamento móveis, como as carteiras digitais.
Conforme Anda Kania, editora de pagamentos e comércio da The Paypers, a carteira digital não é mais o que costumava ser, ou seja, um método de pagamento omnichannel baseado em cartão, e é preciso estar a par para onde a modalidade caminha.
“Ao atualizar seus serviços principais para atender às demandas dos consumidores, as carteiras digitais conquistaram uma posição superior na cadeia de valor. Elas fornecem programas de fidelidade, transações de comércio eletrônico, pagamentos pessoa para pessoa (P2P), pagamentos de contas, armazenamento de criptografia e até serviços financeiros para manter sua relevância no contexto das finanças incorporadas. Além dos serviços de pagamento, elas também se concentram cada vez mais nas finanças pessoais”, destaca.
Além desse novo formato, vale estar atento às projeções numéricas envolvendo as carteiras digitais. Um outro estudo, no caso da Juniper Research, revelou que o montante das transações por meio desse método de pagamento excederá US$ 12 trilhões em 2026 ante os US$ 7,5 trilhões previstos para 2022.
Segundo a Juniper, a fim de capitalizar esse crescimento substancial, os principais fornecedores de aplicativos de carteiras digitais irão diversificar seus produtos de pagamentos incluindo novas soluções, como BNPL e criptomoedas, ao lado dos tradicionais cartões de débito e de crédito.
Além disso, os provedores de carteiras digitais devem procurar oferecer serviços de valor agregado, como recompensas de fidelidade e crédito, com o propósito de diversificar seus fluxos de receita, capitalizando uma base de usuários altamente ativa.
O que as Big Techs têm feito?
Ainda no espaço dos métodos de pagamentos móveis, especialmente falando das carteiras digitais, o Relatório de Meios de Pagamentos 2022, expõe que a prioridade das Big Techs continua sendo em fornecer novos recursos aos clientes dentro da experiência digital.
Nesse sentido, os principais aplicativos das gigantes do setor passaram a permitir que os usuários armazenem nas carteiras digitais, além de cartões de débito e de crédito, cartões de fidelidade, ingressos, cartões de embarque, cartões de vacinação e diversos documentos de identificação. Há casos em que também é possível monitorar o valor de criptomoedas em exchanges selecionadas.
Ao mesmo tempo, também existem apostas para os pagamentos no metaverso, com a identidade de mídia social e opções de pagamento sendo combinadas em um só lugar. Assim, o relatório recomenda observar como esse novo ambiente se desenvolve.
O sucesso dos pagamentos conta a conta
Entre os métodos de pagamento analisados, a publicação destaca que pagamentos conta a conta (A2A) mais fortes e bem-sucedidos são aqueles desenvolvidos por bancos em esquemas multibancários. Como sucessos globais, surgem, por exemplo, o iDEAL na Holanda, BLIK na Polônia, Pix no Brasil e UPI na Índia.
Segundo o relatório, os primeiros pagamentos A2A foram, na verdade, transações P2P e, atualmente, a maioria dos casos de uso refere-se a transferências de dinheiro P2P em vez de B2C. Porém, a expectativa é de que as empresas de Open Banking e provedores de pagamento A2A provavelmente vão adquirir aplicativos de pagamento P2P nos próximos anos para impor seus casos de uso de comércio eletrônico.
O que está acontecendo com o BNPL?
Embora o crediário não seja uma novidade no Brasil, em outros países, a modalidade vem ganhando força por meio do BNPL. Trazendo dados de fontes como o ConsumerAffairs, McKinsey e a companhia de tecnologia financeira FIS, o relatório da The Paypers traça um panorama do que está acontecendo nesse segmento e porque se deve ficar de olho nas tendências.
Em todo o mundo, o BNPL responde por 3% dos métodos de pagamento de comércio eletrônico e deve crescer para 5% até 2025, aponta a FIS. Nos Estados Unidos, por exemplo, complementa a ConsumerAffairs, de 1.000 consumidores pesquisados, 60% tiveram uma experiência positiva com o BNPL.
Já um artigo da McKinsey, afirma que grandes players do setor estão procurando aumentar sua visibilidade e engajamento por meio de aplicativos na tentativa de oferecer uma experiência 360°: compras, empréstimos e serviços bancários em um só lugar.
Contudo, explica a editora de pagamentos e comércio da The Paypers, o sinal vermelho acende ante o comportamento dos consumidores. Para Kania, enquanto as pessoas estiverem comprando itens de moda ou eletrônicos, o uso do BNPL é aceitável, contudo, passa a preocupar se elas começarem a adquirir mantimentos a prazo ou enxergarem o BNPL como uma ajuda para gerenciar despesas.
Finalmente, ela chama a atenção para o movimento das Big Techs em direção ao BNPL. Conforme disse, considerando a longa história da modalidade, nesse caso, não se pode falar sobre inovação.
Ainda nesse contexto, a editora faz uma análise sobre a adoção tardia em relação ao serviço. Segundo ela, as gigantes de tecnologia estejam sendo impulsionadas pela participação significativa no mercado. Como complemento, afirma que existe uma tendência de foco no mercado: “as Big Techs estão de olho no mercado dos EUA, o que faz sentido, já que não está tão saturado quanto a Europa e a Austrália. Ademais, os mercados emergentes exigem mais esforço para penetrar”.
Criptomoedas, metaverso e os métodos de pagamento
No que diz respeito ao envolvimento das criptomoedas no mercado de pagamentos, Kania argumenta que muitos relatórios e estatísticas indicam que as criptomoedas estão em alta, mas existem poucos que abordem insights dos consumidores. A maioria das pesquisas, diz, é focada em opiniões de negócios, provenientes de empresas ou empresas nativas de criptomoedas.
Nesse contexto, ela aborda uma pesquisa da Deloitte que mostra que a maioria dos comerciantes (87%) concorda que a aceitação de pagamentos em moeda digital os coloca em vantagem competitiva. Entretanto, a questão é: quantos consumidores estão realmente fazendo compras com criptomoedas? Há um grande interesse, mas e quanto ao uso?
Como resposta, ela cita um estudo da Mastercard que aponta que apenas 36% dos usuários provavelmente tentarão pagar com criptomoedas no próximo ano. Além disso, os consumidores preferem mais estabilidade no setor, com 59% dizendo que se souberem que a criptomoeda é apoiada por uma organização respeitável lhes daria mais confiança. Ademais, 63% dos entrevistados concordam que stablecoins e criptomoedas devem ser regulamentadas pelo governo.
Já no âmbito do metaverso, explica Kania, quando se trata de comércio eletrônico e a integração entre eles, quaisquer desenvolvimentos são, sem dúvida, impulsionados pelas gerações mais jovens e, pelo menos no momento, somente o comércio de alto nível domina o espaço. “E qualquer discussão sobre metaverso e pagamentos não é sobre como as pessoas pagam, mas como elas experimentam as compras online”, aponta.
Como o QR Code se insere no futuro dos métodos de pagamentos
Ainda entre os novos métodos de pagamento, não se pode esquecer dos QR Codes. Em formato bidimensional e ocupando menos espaço que os códigos de barra, eles estão cada vez mais populares e utilizados para diferentes funcionalidades.
Quando se fala em pagamento, expõe um estudo da Juniper Research, diferentes tipos de QR Codes são empregados. Para começar, existem os códigos estáticos, nos quais as informações incorporadas não são editáveis, mas os comerciantes podem definir um valor fixo para o código, facilitando pagamentos simples para transações cotidianas. Esse tipo de pagamento é bastante comum em serviços de entrega e pagamentos em restaurantes, por exemplo.
Em seguida, há os códigos dinâmicos, que, por outro lado, apresentam informações editáveis e possuem recursos como proteção por senha, gerenciamento de acesso e análise de varredura. Ao mesmo tempo, eles permitem visualizar tanto o valor da compra como as informações do comerciante.
Com isso, o usuário só pode aceitar/iniciar a transação por meio de seus aplicativos, e o lojista tem mais controle sobre o valor do pagamento. Além disso, os comerciantes também têm acesso a mais dados, como o número de pessoas que realizam transações e o tipo de dispositivos que utilizam.
Dada a simplicidade e a rapidez que lhe são características, os QR Codes seguem como tendência, principalmente por possibilitar que os usuários utilizem dessa ferramenta apenas com a câmera de seu smartphone, sem a necessidade de novos equipamentos.
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