Pagamentos digitais conquistam espaço, mas pagamento em dinheiro ainda resiste

Embora a digitalização dos pagamentos se configure como uma tendência global, os hábitos de pagamento conseguem ser diferentes de país para país, e a demanda pública por dinheiro físico ainda segue estável.
Pagamentos digitais conquistam espaço, mas pagamento em dinheiro ainda resiste
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Equipe Propague
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Um estudo que acaba de ser divulgado pelo Comitê de Pagamentos e Infraestrutura de Mercado (CPMI na sigla em inglês), ligado ao Banco de Compensações Internacionais (BIS) traça um panorama de como os pagamentos digitais cresceram na última década e continuam em ascensão.

Segundo o documento, esse crescimento se observa tanto em quantidade quanto em valor, no qual os pagamentos instantâneos e com cartões, principalmente sem contato, atingiram níveis recordes. Porém, mesmo assim, os pagamentos digitais ainda não atuam como substituto total do dinheiro.

Isso porque o estudo descobriu que a demanda pública por dinheiro em espécie permanece estável, tanto como meio de pagamento quanto como um porto seguro para as finanças pessoais. Além disso, apesar da digitalização dos pagamentos se configurar como uma tendência global, os hábitos de pagamento conseguem ser diferentes de país para país.

Portanto, a CPMI aponta que a interoperabilidade dos sistemas de pagamento dentro e entre os países é fundamental para garantir que os pagamentos possam ser feitos sem problemas, independentemente da forma escolhida.

Impulso aos pagamentos digitais

Na última década, o que mais ajudou consumidores e empresas a migrarem de dinheiro e cheques para pagamentos digitais foi o acesso a bancos online e aplicativos móveis. Ao mesmo tempo, uma maior demanda por conveniência e velocidade também impulsionou o uso de modalidades como cartões, pagamentos sem contato, transferências eletrônicas de fundos e pagamentos com dinheiro eletrônico. E essa transformação no perfil dos consumidores se acentuou ainda mais a partir da pandemia de Covid-19, em 2020.

De acordo com o relatório, a mudança para pagamentos digitais e sem dinheiro continuou em 2021, quando o valor total atingiu seu nível mais alto, tanto em economias avançadas quanto em mercados emergentes e economias em desenvolvimento, onde cresceram 14% e 15%, respectivamente.

Nesse cenário, se destacaram, além da moeda eletrônica e transferências de crédito, o aumento da aceitação de cartões como meio de pagamento. Nesse contexto, o crescimento dos pagamentos com cartão por pessoa nas economias desenvolvidas subiu 11% e em 23% nos países emergentes e em desenvolvimento.

Segundo o relatório, esse forte aumento sugere que consumidores e empresas não apenas aumentaram ainda mais o uso de cartões, mas também, em parte, que aqueles que mudaram temporariamente para pagar com cartões ou aceitá-los em 2020 não voltaram totalmente ao comportamento de pagamento anterior em 2021.

Emissão de cartões deve crescer quase 170% em cinco anos

De fato, essa tendência de crescimento em relação ao uso de cartões no contexto dos pagamentos digitais, observada no relatório da CPMI, remete a um outro estudo, dessa vez da Juniper Research, que prevê um salto global de quase 170% na emissão de cartões de crédito, principalmente digitais, dentro de cinco anos. A previsão é de que saia de 120 milhões de unidades emitidas em 2023 para mais de 321 milhões em 2027.

A publicação concluiu que esse acréscimo expressivo reflete o uso de novos recursos digitais avançados, como esquemas de fidelidade digital e emissão instantânea, já que os emissores de cartões visam combater a concorrência, incluindo o Buy Now Pay Later (BNPL).

A saber, as plataformas de emissão de cartões digitais permitem que os emissores criem cartões usando uma abordagem baseada em API. Isso possibilita que os cartões sejam entregues instantaneamente em carteiras digitais, com opção de cartão físico, aumentando significativamente a flexibilidade.

Ainda de acordo com o estudo da Juniper, os cartões de crédito representarão mais de US$ 9,7 trilhões em gastos globalmente até 2027. Isso representa uma oportunidade significativa para os emissores impulsionarem o crescimento da receita, escolhendo a estratégia ideal de cartão de crédito.

Nesse sentido, afirmam os pesquisadores, o aumento da riqueza nos mercados emergentes será um fator significativo para a adoção do cartão de crédito. Afinal, as plataformas de emissão de cartões digitais de forma instantânea são essenciais para disponibilizar ofertas de crédito nesses mercados dominados por carteiras móveis. Dessa forma, isso fará com que os consumidores escolham os cartões de crédito em detrimento de outros métodos de pagamento.

O potencial dos pagamentos instantâneos

Outro destaque nesse cenário favorável aos pagamentos digitais, é que o número de pagamentos instantâneos por habitante continuou a crescer depois de 2020, atingindo novos patamares em 2021. Em média, para todos os países para os quais a CPMI tem dados, nos últimos três anos, o número de pagamentos rápidos por habitante cresceu 30% no período.

Em geral, dentro das economias desenvolvidas e emergentes e em desenvolvimento, o valor médio por habitante varia muito entre os países, possivelmente refletindo diferentes níveis de adoção e casos de uso.

Na Turquia, por exemplo, os pagamentos instantâneos são usados principalmente para pagamentos de pessoa para pessoa e de pessoa para empresa. Enquanto isso, os pagamentos rápidos no Japão e na Coreia também são usados para pagamentos do governo e transações entre empresas.

Porém, como a adoção desse tipo de pagamento mostrou seguir o padrão geral de difusão de tecnologia em pagamentos, pode-se esperar um maior crescimento na sequência.

Ademais, o relatório lembra que, embora a maioria dos sistemas de pagamentos instantâneos possa ser usada, por enquanto, apenas para pagamentos domésticos, esses também têm o potencial de melhorar os pagamentos internacionais. A propósito, a interligação desses sistemas é uma das ações prioritárias do programa de pagamentos transfronteiriços do G20 para tornar as transações internacionais mais baratas, rápidas, acessíveis e transparentes.

O que vem acontecendo com o dinheiro em espécie?

Por outro lado, quando se olha para como as pessoas estão lidando com o dinheiro físico, o relatório da CPMI mostra alguns movimentos que embora revelem declínio na utilização, ainda sugerem uma demanda contínua.

Primeiramente, o volume e o valor dos saques em espécie em 2021 diminuíram menos do que em 2020, embora, também com diferenças significativas entre os países, assim como ocorre com os pagamentos digitais. Em metade dos países, principalmente nas economias desenvolvidas, o volume de saques caiu a uma taxa menor em 2021 do que em 2020, enquanto em outros, principalmente emergentes e em desenvolvimento, o volume de saques aumentou ligeiramente.

Entretanto, em valor, as retiradas caíram em todos os países, apesar de não tão fortemente quanto no ano anterior. No geral, a taxa de crescimento de saques em dinheiro em 2021 foi menor em quase em todos os lugares ou semelhante à taxa pré-pandêmica.

Além disso, os valores médios de saque reproduzem a presença de caixas eletrônicos. Em países onde o número de caixas eletrônicos diminuiu na última década, o valor médio de saque aumentou mais. Por outro lado, o oposto é observado em países onde a disponibilidade desses equipamentos tem crescido ao longo do tempo.

Já a moeda em circulação como parcela do Produto Interno Bruto (PIB) caiu um pouco na maioria dos países em 2021, diz a pesquisa. Essa queda reverte em parte a tendência do primeiro ano da pandemia, quando o valor das moedas e notas em circulação atingiu um recorde histórico.

No entanto, a moeda em circulação ainda excede seus níveis pré pandêmicos em quase todos os lugares. Em comparação aos anos anteriores, o valor do dinheiro em circulação em percentagem do PIB manteve-se estável tanto nas economias desenvolvidas como em desenvolvimento, embora com diferenças significativas dentro de cada grupo.

Dinheiro versus pagamentos digitais: uma visão de futuro

Mas afinal como ficará a coexistência entre pagamentos digitais e dinheiro físico? Conforme observado, apesar da mudança para pagamentos digitais, sem contato e rápidos, a pesquisa revelou que ainda há demanda por dinheiro.

Desse modo, aponta a CPMI, isso traz à tona uma questão: como atender a essa demanda pública por dinheiro em um mundo cada vez mais digitalizado? De acordo com a publicação, o que se observa é que muitos bancos centrais estão explorando a emissão potencial de uma moeda digital de banco central (CBDC na sigla em inglês) de varejo e vários já lançaram um ou estão conduzindo um projeto piloto.

Na verdade, impulsionados por diferenças nas atuais infraestruturas de pagamento e hábitos de pagamento, bem como circunstâncias sociais e econômicas divergentes, os bancos têm objetivos variados ao considerar a emissão de uma CBDC.

Ainda mais diante do fato de que os efeitos de uma CBDC de varejo no uso de dinheiro físico e outros instrumentos de pagamento dependerão dos casos de utilização direcionados e das escolhas de design relacionadas.

De qualquer forma, o relatório enfatiza que é improvável que a trajetória futura dos pagamentos de varejo seja única. Provavelmente, haverá uma infinidade de métodos e acordos de pagamento com diferentes abordagens e funcionalidades de modo a se alinhar com as demandas dos variados tipos de consumidores.

Portanto, a interoperabilidade dentro e entre os países é fundamental para garantir que pagadores e beneficiários possam fazer e receber pagamentos sem problemas, independentemente de sua localização, método de pagamento escolhido ou provedor de serviços de pagamento.

E mais: a interoperabilidade doméstica e transfronteiriça completa pode apoiar ainda mais a tendência geral para pagamentos mais rápidos, baratos e mais inclusivos.

 

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