A era digital expõe bancos centrais a desafios de tratamento e governança de dados

O acesso a fontes cada vez mais abrangentes e minuciosas forçou os bancos centrais a se adaptarem a diferentes formas de fornecimento, integração e uso de dados para suas atribuições.
A era digital expõe bancos centrais a desafios de tratamento e governança de dados
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Equipe Propague
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Como entidades regulatórias essenciais para o funcionamento dos sistemas financeiros, os bancos centrais sempre se apoiaram em dados. Contudo, com a expansão das fontes também vieram alguns desafios, já que a natureza em constante evolução dessas matérias-primas para a informação está criando grandes oportunidades para as autoridades monetárias, especialmente na era digital.

Afinal, as novas capacidades tecnológicas provocaram mudanças significativas nos tipos de dados que os bancos centrais coletam, assim como na maneira como eles passaram a processá-los e utilizá-los para a formulação de políticas e outras atribuições importantes.

Principalmente depois do cenário que se desenhou primeiramente com a crise financeira global de 2008 e, mais recentemente, com a pandemia de Covid-19, quando essas instituições sofreram profundas transformações digitais e no uso de dados.

O que se observa é que na era digital, acelerada nos últimos dois anos, os bancos centrais estão acessando, reunindo e processando mais dados do que nunca, seja para uso em suas previsões econômicas, monitoramento de fraudes e crimes financeiros ou para a avaliação da estabilidade financeira e o acompanhamento de reservas.

Porém, à medida que os volumes de dados crescem, tornando-se uma parte cada vez maior das operações diárias de muitos departamentos dos bancos centrais, ao lado do tratamento, um novo problema começou a surgir: a governança de dados.

Essas são as conclusões de um novo relatório, fruto de um projeto de pesquisa conjunto entre a State Street e o OMFIF, onde se explora as oportunidades e os desafios que os bancos centrais enfrentam na era digital.

Por meio de uma série de entrevistas e mesas redondas com funcionários de bancos centrais de todo o mundo, eles identificaram as áreas mais preocupantes e as ferramentas, técnicas e medidas atualmente disponíveis para melhorar a utilidade dos dados no cumprimento das funções dessas entidades.

Big data ganha popularidade entre bancos centrais

Segundo o relatório, na era digital, o acesso a fontes de dados mais abrangentes e minuciosas forçou os bancos centrais a se adaptarem a diferentes formas de fornecimento, integração e uso de dados para suas operações no dia a dia.

Nesse contexto, embora a tecnologia Big data não seja na prática um conceito novo, ela, de repente, se tornou a grande novidade para os bancos centrais e está crescendo em popularidade.

Tanto que de acordo com uma pesquisa do Comitê de Estatísticas de Bancos Centrais do Banco de Compensações Internacionais (BIS na sigla em inglês), em 2020, 80% dos bancos centrais usavam big data regularmente em comparação com apenas 30% em 2015.

Além disso, em igual período, o interesse em big data foi considerado muito importante no alto nível de política monetária em 60% dos bancos centrais, ante menos de 10% anteriormente. Tendência que também está de acordo com os resultados das entrevistas realizadas para o presente estudo.

Ao mesmo tempo, novas ferramentas e técnicas se tornaram necessárias para o processamento de big data, várias das quais mencionadas pelos entrevistados, como extração de dados da internet, automatização dos processos via softwares, processamento de linguagem natural – campo da Inteligência Artificial que trata da interatividade entre computadores e linguagens humanas – e o uso de algoritmos de aprendizado de máquina treinados para fazer previsões e revelar insights.

Governança de dados: novas estratégias na era digital

Entretanto, em meio à ampla gama de novas fontes e formas de tratamento de uma quantidade crescente de dados, o relatório aponta que muitos bancos centrais vinham operando sem qualquer tipo de estrutura de governança de dados.

Conforme relatado, cada departamento reunia o que precisava no formato mais conveniente para suas necessidades individuais. Isso, por sua vez, resultou em uma profusão dispendiosa de diferentes sistemas para gerenciamento, duplicação generalizada de esforços, pesquisa abaixo do ideal e sérias ineficiências no armazenamento e uso de dados.

Contudo, a pesquisa revelou que a era digital obrigou os bancos centrais a iniciarem o desenvolvimento de estruturas de governança de dados. Mas, esse é um trabalho que ainda está em andamento para muitos, representando, portanto, um novo desafio.

Até porque a pandemia acrescentou um senso de urgência aos projetos, pois o trabalho remoto criou uma necessidade imediata de ferramentas de colaboração e compartilhamento de dados seguras e online.

Nesse contexto, os bancos centrais adotaram várias abordagens para sua arquitetura de dados. Além de simplesmente catalogar, eles estão usando as seguintes estratégias:

  • Data catalogue ou serviço de gerenciamento de metadados;
  • Virtualização, que fornece uma camada de dados que permite acessar, combinar, transformar e entregar conjuntos de dados com mais velocidade e economia;
  • Data lake, repositório colaborativos de dados estruturados e não estruturados;
  • Data warehouse, que corresponde a um banco de dados organizado por categorias em um único local;
  • Data mart, que possibilita extrair um subconjunto de dados de uma base maior, objetivando uma análise mais pontual;
  • Data lakehouse, onde dados não estruturados são armazenados na sua forma bruta, prontos para qualquer uso.

Porém, cada uma delas tem vantagens e desvantagens, como custos de configuração e operacionais mais altos e diferentes funcionalidade, e os bancos centrais selecionam essas opções com base em suas preferências.

Serviços de nuvem: a nova fronteira para os bancos na era digital?

Ainda considerando os desafios envolvendo tratamento e governança de dados na era digital, outro aspecto explorado no relatório foi até que ponto os bancos centrais estavam abertos ao uso de serviços em nuvem, bem como as suas preocupações sobre a dificuldade de garantir a soberania dos dados.

Segundo a publicação, embora estejam cada vez mais cientes das vantagens técnicas que a nuvem pode oferecer, os bancos centrais relutam em iniciar uma migração total.

Para eles, apesar de existirem oportunidades para usar ferramentas modernas e eficientes de análise de dados e compartilhamento de informações, há preocupação com o fato de que a adoção da nuvem exigirá que eles cedam o controle de seus dados a um provedor de serviços – geralmente com sede no exterior.

Juntamente com a perda de soberania sobre seus dados, os bancos centrais também apontaram que se sentem receosos sobre o uso da nuvem em relação à vulnerabilidade a ataques cibernéticos, risco de reputação de segurança e custo potencialmente mais elevado do que o armazenamento local.

No entanto, boa parte deles crê que algum envolvimento com a nuvem é inevitável. Dessa forma, muitos bancos centrais se posicionaram favoráveis à adesão parcial, podendo permitir que alguns de seus dados menos confidenciais fossem armazenados dessa forma, mas não seriam capazes, por exemplo, de migrar totalmente para uma nuvem pública, devido à necessidade de proteger dados mais sigilosos.

Nesse sentido, a publicação argumenta que nuvens híbridas poderiam fornecer uma solução intermediária útil para as instituições

Por fim, o estudo também identificou que ao passo que a escala e a complexidade do trabalho dos bancos centrais com dados aumentam na era digital, também cresce o desafio que eles enfrentam para garantir o conhecimento técnico necessário.

 

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