É notório que, ao longo da última década, a digitalização dos serviços, globalização do acesso à internet e o comércio digital se tornaram algumas das principais frentes de expansão da digitalização econômica. A pandemia do COVID-19, por sua vez, acelerou essa transição, aumentando o comércio de serviços de forma remota em diversas áreas e seguimentos, incluindo o comércio digital transfronteiriço.
De acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC), por exemplo, houve uma queda no comércio de serviços de saúde no formato tradicional pelo movimento de pacientes e/ou prestadores de serviços em 2020. Por outro lado, o comércio digital de serviços de saúde aumentou consideravelmente.
Na verdade, mesmo antes da pandemia, essa tendência já estava em curso e era impulsionada, principalmente, pela consolidação de novas ferramentas tecnológicas e inovações que caracterizam a indústria 4.0. Nesse sentido, de acordo com a OMC, as tecnologias de informação e comunicação registraram o crescimento mais rápido das exportações entre os setores de serviços em 2018, com aumento de 15%.
Além disso, de acordo com uma pesquisa do Banco de Desenvolvimento da Ásia (ADB), entre 2005 e 2019, as taxas anuais médias de crescimento das exportações e importações em serviços entregues digitalmente foram maiores do que as de setores de serviços não entregues digitalmente. Esse cenário sugere então uma transformação no perfil do comércio de serviços.
Na Região da Ásia e do Pacífico, especificamente, o crescimento no comércio de serviços digitais tem sido maior do que em outras regiões, potencializado, principalmente, pelas transações internacionais em modalidades de exportação e importação. Essa expansão tem incluído uma ampla gama de serviços, com destaque para as indústrias de seguros, saúde, educação, entretenimento, logística e financeira.
Consequentemente, a região experimentou um crescimento mais rápido do que o resto do mundo em serviços de entrega digital no período de 2005 a 2020, de modo que as exportações e importações cresceram a uma taxa média anual de 10,1% e 8,0%, contra uma média global de 6,9% para as exportações e 6,7% para as importações.
Assim, o comércio digital vem se tornando mais importante do que nunca, com muitas empresas percebendo a oportunidade no novo terreno virtual e aumentando seus esforços para oferecer soluções online e remotas para seus clientes.
Mercado de serviços está cada vez mais digitalizado
Nesse sentido, embora existam diversas sub-regiões da Ásia, é possível traçar tendências que estão perpassando a maior parte do continente asiático, especialmente, o sudeste e o leste asiático.
Em geral, essas tendências são resultado da implementação de tecnologias como Big Data, inteligência artificial (IA), análise de dados, computação em nuvem e tecnologia de contabilidade distribuída.
Os serviços de seguros e previdência, por exemplo, estão passando por uma transformação na maneira como são acessados e distribuídos. Um exemplo desse movimento é a seguradora chinesa virtual, ZhongAn, que já possui mais de 95% das suas taxas automatizadas e mais de 70% das reivindicações gerenciadas por IA.
Além disso, a habilitação digital em plataformas de pagamento, bancos digitais e aplicativos financeiros, por exemplo, já são a regra – e não a exceção – nos principais países da Ásia como China, Índia, Singapura e Coréia do Sul.
Nesse sentido, tem crescido a adoção oficial de pagamentos digitais por governos para indivíduos (G2P) ou governos para empresas (G2B) e a utilização de cartão e dinheiro eletrônico está se expandindo em direção aos pagamentos transfronteiriços.
Os serviços digitais relacionados a educação, embora já experimentassem um crescimento antes de 2020, ganharam um impulso com o fechamento de escolas e universidades durante o período pandêmico. É interessante notar que, apesar de muitas iniciativas de educação virtual durante a pandemia serem direcionadas para a demanda local, algumas economias ampliaram seus serviços para o mercado internacional.
A expansão em massa dos cursos online abertos abriu oportunidades a esse respeito. Com isso, Malásia, Singapura e várias outras economias regionais adotaram uma estratégia de internacionalização para se tornarem importantes centros globais de educação.
Comércio digital de serviços tem crescido mais no sudeste asiático, mas o leste asiático ainda tem o maior volume transacionado
De forma geral, as exportações de serviços digitais aumentaram mais rapidamente do que as importações em quase todas as sub-regiões entre 2005 e 2020, com o sudeste da Ásia (11,2% de crescimento médio anual nas exportações) e o sul da Ásia (10,6%) na liderança, seguidos pelo leste da Ásia (9,8%), Ásia Central e Ocidental (6,0%) e Pacífico (4,7%).
No entanto, entre as sub-regiões, o leste da Ásia é responsável pelo maior volume de comércio digital de serviços com o resto do mundo. Em 2005, o volume de transações foi de mais de US$ 110,5 bilhões, aumentando para US$ 351,0 bilhões em 2019. Além das vendas intrarregional (30,7%), a América do Norte (31,6%) e a Europa (29,8%) foram os principais parceiros comerciais da região.
Uma situação semelhante se aplica ao sudeste da Ásia, com a Europa (33,7%) e a América do Norte (21,9%) sendo importantes parceiros no comércio de serviços digitais.
No Sudeste, Singapura lidera a exportação de serviços digitais, sendo responsável por 67% das exportações de serviços digitais da sub-região. Vale destacar que as Filipinas estão surgindo como um dos principais players para comércio digital de serviços, contribuindo com cerca de 13% das exportações de serviços digitais do sudeste asiático.
As diferenças entre o perfil e desempenho das sub-regiões variam não apenas de acordo com o volume e taxa de crescimento das exportações, mas, também, de acordo com o tipo de serviço digital predominante e mais desenvolvido na região.
Comércio digital de serviços tem crescido em diferentes setores
O leste asiático, por exemplo, tem se concentrado em três setores principais: telecomunicações, informática e serviços de informação; serviços para empresas como consultorias ou contabilidade; e serviços pessoais, culturais e recreativos. Entre estes, o setor de informática tem apresentado o crescimento mais constante e acentuado, aumentando de US$ 31 bilhões em 2005 para US$ 256 bilhões em 2020, oito vezes mais.
A evolução no comércio de serviços na Ásia, como um todo, aponta para uma mudança em direção aos serviços digitais. Entre 2005 e 2020, o comércio de serviços digitais cresceu significativamente, especialmente nas áreas de telecomunicações, informática e informação (13,8%), seguido por serviços financeiros (10,6%), outros serviços às empresas (8,2%), seguros e pensões (7,7%), pagamentos por propriedade intelectual (7,5%), e serviços pessoais, culturais e recreativos (7,4%).
O choque da COVID-19 aumentou essa tendência. Entre 2019 e 2020, o comércio de serviços de telecomunicações, informática e informação da região cresceu 8,1%; seguidos pelos serviços financeiros (4,3%) e pelos serviços de seguros e pensões (3,9%).
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