Hub de fintechs, Singapura ainda enfrenta alguns desafios

Singapura se tornou um dos principais hubs para fintechs no mundo ao explorar diferentes possibilidades de usos para tecnologias financeiras como tokenização e CBDCs, por exemplo. Com a expansão do mercado, a cidade nação tem enfrentado algumas dificuldades e autoridades têm se empenhado em solucioná-las.
hub de fintechs
Data
Autor
Equipe Propague
Produto
Compartilhar

A indústria de fintechs está em constante evolução, com novas aplicações surgindo e impactando uma ampla gama de serviços, desde pagamentos, transferências, investimentos, empréstimos e até seguros e soluções de gestão.

A indústria de fintechs é transformadora e utiliza tecnologia para melhorar a vida financeira da sociedade como um todo. Essa expansão de mercado tem aberto espaço para novas instituições financeiras e revolucionado a forma como instituições tradicionais operam no relacionamento eficiente com suas bases de cliente.

Entretanto, por se basear em um modelo de inovação e uso das novas tecnologias, à medida que o setor vai se desenvolvendo, naturalmente, novos desafios vão surgindo. É importante que as fintechs estejam atentas à essas possíveis lacunas para não impedir o crescimento contínuo do segmento.

As barreiras enfrentadas pelas fintechs

Entre as diferentes naturezas dos principais desafios para a indústria de fintechs, se destacam lacunas técnicas e organizacionais.

Um dos obstáculos técnicos mais comuns, por exemplo, diz respeito a complexidade de implementação, afinal, nem todas as empresas possuem o know-how ou os recursos necessários para fazê-lo. Outra barreira técnica frequente é a integração de novas tecnologias às operações existentes, já que elas geralmente se baseiam em tecnologias mais antigas.

Em relação as questões organizacionais, nem sempre as empresas estão prontas para oferecer o suporte necessário a implementação de alguma nova tecnologia financeira em seu sistema operacional. Essa situação é muito comum quando se trata de cibersegurança e a proteção de informações sensíveis compartilhadas.

Nesse cenário, é indispensável que as instituições públicas e privadas busquem soluções adequadas para as barreiras encontradas pelas fintechs, apostando no treinamento e desenvolvimento da equipe de funcionários, no estabelecimento de parcerias tecnológicas e no desenvolvimento de um hub de referência que atue como espaço de troca, aprendizagem e inovação para novas experiências e frentes tecnológicas.

Hub de fintechs: como Singapura se tornou referência global no setor

Nessa tendência, Singapura se tornou um hub de fintechs através da combinação de fatores estratégicos, políticos e culturais que favoreceram o seu êxito. Reconhecendo as possíveis barreiras e a necessidade de investimento para o crescimento de um setor inteligente e inovador, Singapura é hoje referência global em empresas de tecnologia financeira.

Autoridades monetárias, representantes do governo e reguladores têm atuado de forma orientada a oferecer o suporte necessário para o desenvolvimento de fintechs na região.

Através de incentivos financeiros, programas de capacitação e atualização de leis e regulações, as instituições têm trabalhado para impulsionar o rápido crescimento do setor e, ainda, estabelecer Singapura como a porta de entrada de novas empresas que pretendem investir no país e em demais mercados emergentes na Ásia.

Esse cenário, entretanto, não significa que a introdução de tecnologias financeiras não tenha enfrentado desafios na região, e sim, que as instituições do país foram proativas em encontrar soluções, aproveitando as oportunidades locais.

No fim de 2022, por exemplo, o diretor da Autoridade Monetária de Singapura (MAS), apontou os principais desafios que as fintechs têm encontrado e como a MAS busca resolvê-los.

Na apresentação, Ravi Menon destacou que existem cinco problemas-chave na região:

  • Remessa instantânea;
  • Liquidação “atômica”;
  • Dinheiro programável;
  • Ativos tokenizados;
  • Dados confiáveis de sustentabilidade.

Envio de remessa instantâneas precisam de um movimento internacional coordenado

Em relação as remessas instantâneas, com o PayNow, os singapurianos podem fazer transferências em tempo real, 24 horas por dia, sete dias por semana, usando apenas números de celulares ou números únicos de entidades, tornando os fluxos de pagamentos domésticos sem interrupções.

Essa realidade, entretanto, ainda não está disponível para todas as pessoas e para todos os tipos de transações, em especial no que diz respeito a realização de transferências internacionais. Por isso, Singapura está trabalhando para conectar o PayNow com os sistemas de pagamento mais rápidos de outros países. Atualmente, o sistema já está conectado ao PromptPay da Tailândia, em breve deve completar sua conexão com UPI da Índia e o DuitNow da Malásia.

Pensando em driblar barreiras de interoperabilidade, jurisdição entre redes de conexão e custo de operações entre remessas internacionais, a MAS tem trabalhado com o Bank for International Settlements Innovation Hub no desenvolvimento do Projeto Nexus, que propõe uma solução multilateral para conectar os sistemas de pagamentos em tempo real de diferentes países.

A ideia é que um país precise vincular apenas uma vez seu sistema de pagamento em tempo real a uma porta de entrada Nexus que, por sua vez, oferece conectividade direta a todos os outros países que já estejam dentro da rede.

Porém, apesar da proposta do projeto resolver o problema de compensação instantânea, ainda não resolve o problema de liquidação. Isso porque, o movimento real dos fundos entre os bancos não é instantâneo e envolve muitos intermediários, passando por diferentes livros-razão e levando de dois a três dias para ser concluído.

Blockchain pode ser uma alternativa para liquidação atômica entre os bancos e dinheiro programável

Uma das maneiras mais promissoras de alcançar esse objetivo em tempo real e de forma segura, é utilizando ativos tokenizados que podem ser trocados simultaneamente em um livro-razão distribuído (blockchain).

É isso que a MAS vem experimentando desde 2016 com o Projeto Ubin e desde 2021 com o projeto Dunbar em parceria com o BIS Innovation Hub, o Reserve Bank of Australia, o Bank Negara Malaysia, o South Africa Reserve Bank. Ambos construíram plataformas baseadas em blockchain, reservando a natureza descentralizada entre pagamentos e compensações ao tokenizar moedas digitais e ativos de títulos para que sejam trocados simultaneamente.

Além disso, no que tange o desafio de “dinheiro programável” apontado pelo diretor da MAS, o uso da tecnologia blockchain também aparece como possível solução. Isso porque o conceito de dinheiro programável se dá através de ativos digitais com regras estabelecidas dentro do ambiente de troca, somadas à sua definição de uso e destino entre partes.

Essas funcionalidades, através de um ecossistema blockchain e de contratos inteligentes, permitem a tokenização do dinheiro de forma segura, estável e rápida.

Nesse sentido, atualmente, existem quatro opções para tornar o dinheiro programável: criptomoedas, stablecoins, depósitos bancários tokenizados e moedas digitais de banco central (CBDCs).

A Autoridade Monetária de Singapura tem atuado da seguinte maneira para encontrar uma forma de dinheiro que atendas as necessidades de programabilidade:

  • Desestimulando o investimento de varejo em criptomoedas;
  • Facilitando as stablecoins através de regulamentação sólida;
  • Permitindo depósitos bancários tokenizados;
  • Experimentando com CBDCs.

Nesse sentido, umas das experimentações mais promissoras da MAS é o Projeto Orchid, que introduziu o conceito de “dinheiro vinculado a um propósito”, permitindo que os remetentes programem condições em um dólar digital de Singapura que pode ser usado pelos destinatários.

Esse Projeto identificou quatro áreas promissoras para a aplicação do dinheiro programável ou vinculado a um propósito em Singapura:

  1. Incorporá-lo ao sistema existente de vouchers do governo, para simplificar o processamento de liquidação;
  2. Criação de vouchers comerciais que podem ser usados em estabelecimentos específicos;
  3. Pagamentos do governo para destinatários que não têm uma conta bancária;
  4. Disposição de recursos para provedores de treinamento automaticamente quando as condições especificadas são atendidas, sem a necessidade de verificação manual usando contratos inteligentes.

Da necessidade de programabilidade vem a necessidade de tokenização do dinheiro e de ativos que é, justamente, o quarto elemento chave enfrentado pelas fintechs em Singapura.

Os ativos tokenizados

A tokenização envolve o uso de um programa de software para representar os direitos de propriedade sobre qualquer item de valor, como um token ou ativo digital. Quando implantados em um sistema de livro-razão associado à rede blockchain, que são protegidos por criptografia, os ativos digitais são chamados de ativos criptográficos.

Assim, a tokenização de ativos possibilita que ativos financeiros e reais sejam fracionados e trocados na internet de ponto a ponto de uma rede, além de possibilitar a negociação segura sem intermediários.

Diretamente relacionada a tokenização, está o desenvolvimento de outra tecnologia financeira, as Finanças Descentralizadas (DeFi), que promete fazer com que atividades como as de tomar empréstimo, por exemplo, sejam realizadas de forma autônoma através de contratos inteligentes.

A MAS está explorando fintechs para garantir dados confiáveis de sustentabilidade

Alinhado ao compromisso de Singapura e da região asiática como um todo no desenvolvimento das finanças sustentáveis, a MAS encara a ausência de gerenciamento, coleta e transparência de dados verdes como um desafio que pode ser superado pela nova indústria de fintechs.

Nesse sentido, a MAS tem desenvolvido o Project Greenprint em parceria com instituições financeiras privadas. Seu objetivo é construir um ecossistema de dados verdes de qualidade para fintechs. A ideia é produzir utilidades digitais que simplifiquem a coleta, o acesso e o uso de dados climáticos e de sustentabilidade. Isso ajudaria a mobilizar capital para projetos sustentáveis, monitorando os compromissos climáticos e medindo o impacto associado aos investimentos.

A Project Greenprint se concentrou em quatro utilidades digitais: um portal de divulgação ESG, um registro ESG de certificações verdes, um orquestrador de dados e um mercado digital.

Para divulgações ESG, a autoridade lançou o ESGenome, um portal que permite que as informações fornecidas pelas empresas sejam automaticamente mapeadas em vários padrões e estruturas de sustentabilidade, gerando relatórios de sustentabilidade automaticamente. Já o ESG Registry, utiliza a tecnologia blockchain para registrar e manter a prova de autenticidade das certificações verdes emitidas por diferentes órgãos setoriais.

Existe também a ESGpedia, que funciona como o orquestrador de dados, permitindo aos bancos acessarem várias certificações verdes através de uma única interface, proporcionando mais confiança aos usuários desses dados.

Por fim, o Digital Marketplace visa sincronizar a conectividade entre as utilidades do Greenprint e facilitar o acesso aos dados ESG, além de ligar provedores de soluções ESG fintech a investidores, instituições financeiras e corporações.

 

Veja mais:

Fintechs encontram campo fértil no Brasil e país lidera uso de produtos financeiros na América Latina

Novas plataformas impulsionam economia digital para investimentos na China

Pagamentos transfronteiriços são prioridade em Singapura

Pagamentos: como a digitalização revolucionou o setor?

Curso Fintechs: regulação e inovação em serviços financeiros

Todos os produtos

Quer se
aprofundar mais?

Com uma linguagem simples de entender, as análises do Instituto Propague vão te deixar por dentro dos principais temas do mercado.

Leia agora!