Economia prateada: vale a pena investir no público 50+?

O envelhecimento da população criou um novo perfil de consumo e a era da economia prateada não passou despercebida pelo setor financeiro, que cada vez mais investe na inclusão digital do público 50+.
Economia prateada: vale a pena investir no público 50+?
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Amanda Stelitano
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A crescente expectativa de vida da população mundial não tem passado despercebida ao mercado financeiro. Considerando o nicho de pessoas com mais de 50 anos cada vez mais presente nas demandas de comércio, a transformação digital no setor financeiro que vêm acontecendo deve considerar a forte presença e potencial desse grupo nas estratégias de oferta de produtos e serviços.

Esse novo perfil do grupo de 50+ é considerado como Silver Economy, ou, em português, economia prateada e tem apontado um grande potencial não só para o mercado em si, mas para o movimento de inclusão financeira no sistema. Considerando as atuais barreiras da população mais velha com a digitalização dos serviços e capacitação em um universo tecnológico, fintechs e startups tem saído na frente com soluções para inovar no mercado prateado.

Longe de ser novidade: evolução da economia prateada

Importado do Japão na década de 1970, a economia prateada vem conquistando seu espaço no desenvolvimento de serviços e propagandas para a população já pertencente ao grupo 50+ ou para aqueles que, em breve, serão parte desse nicho. Em 2019, em um levantamento realizado pelas Nações Unidas (ONU), projetou-se que, até 2050, a expectativa de vida da população seria de 77 anos e que, nesse mesmo ano, uma em cada seis pessoas no mundo inteiro terá mais de 65 anos.

Quanto maior a projeção de longevidade da população, maior torna-se o público com grande potencial de consumo e que demanda uma atenção por parte das empresas e instituições provedoras de bens e serviços.

Ou seja, quanto maior a projeção de longevidade da população, maior torna-se o público com grande potencial de consumo e que demanda uma atenção por parte das empresas e instituições provedoras de bens e serviços. Também em 2019, o Instituto Locomotiva destacou que essa faixa de prateados foi responsável por movimentar até R$ 1,8 trilhão por ano e tinha fortes tendências de crescimento. Mas, o questionamento que fica é, como incluir esse grupo cada vez maior em um mundo cada vez mais inovador, tecnológico e em constante transformação?

Como o setor tem se adaptado ao novo nicho de consumidores?

Embora ainda haja uma resistência desse segmento à digitalização dos serviços tradicionais e à segurança das suas informações, o cenário tem mudado de forma rápida, principalmente após a pandemia de Covid-19. Nesse contexto, a adaptação à internet e ao uso de smartphones se tornou uma necessidade. Conhecidos também como idosos digitais, 82% da população com 60 anos ou mais possui um smartphone e, no período de 2020 a 2022, 45% desse mesmo grupo acessou serviços financeiros pelo celular pelo menos uma vez por semana, segundo pesquisa do Relatório de Consumo de 2022.

Tal movimento, no entanto, não significa que os principais desafios foram superados. Além de claramente ainda ter espaço para uma inclusão financeira digital de idosos, principalmente entre os mais pobres e da zona rural, aqueles que de fato foram incluídos durante o boom que resultou do isolamento social ainda sofre com dificuldades dentro do sistema. Surge, então, um novo desafio para o setor financeiro: tornar o ambiente digital seguro, atrativo e fácil para esse segmento.

Graças aos novos dados compartilhados em aplicativos e plataformas digitais, somados aos novos perfis de consumo analisados, os bancos, empresas de seguros e demais instituições financeiras têm sido capazes de traçar uma estratégia de abordagem e solução para as possíveis barreiras que afastariam os prateados de um longo relacionamento com o setor financeiro no mundo digital. Dentre os possíveis obstáculos, a capacidade de gestão e administração de forma independente das contas e do fluxo de capital em um ambiente novo e a navegação protegida de fraudes e golpes têm sido destacados como temas de importância para atender às demandas da economia prateada.

Fintechs e startups dominam o novo mercado: EUA na liderança

Grande parte das iniciativas voltadas para a população prateada tem vindo dos Estados Unidos, que coleciona diferentes perfis de fintechs e startups focadas em segurança financeira, bem-estar familiar e planejamento sucessório de capital e bens do grupo prateado.

Um dos principais pontos de preocupação é a exposição e o risco a fraudes online. Diferentes empresas têm desenvolvido plataformas voltadas para idosos digitais, contando com uma gama de ferramentas personalizadas para garantir a proteção online e segurança na hora de realizar compras, pagamentos e demais atividades financeiras em um ambiente virtual. Além da premissa de canais de suporte integrais treinados para lidar com diferentes públicos, as plataformas têm investido em tecnologias de inteligência artificial e machine learning que permitem, perante autorização do usuário, monitorar atividades suspeitas vinculadas à conta do cliente, além de alertar para débitos em aberto e possíveis irregularidades na movimentação da conta.

Além disso, a elaboração de conteúdos em vídeos e áudios para melhor acessibilidade com conteúdo educativo também tem sido um compromisso dessas empresas. Plataformas de capacitação e administração financeira tem se dedicado a divulgar conteúdos gratuitos com dicas práticas e com linguagem fácil e acessível sobre como evitar golpes, assegurar suas compras online, administrar melhor seu dinheiro e investimentos, entre outros temas voltados para os idosos digitais.

Novas tendências: Brasil entra na onda

A importância de se ter um mercado consolidado com foco em um nicho de consumidores com tanto potencial é mais do que claro, e o crescimento das empresas voltadas para o bem-estar e inclusão da população prateada potencializa a competição e entrada de novos agentes no setor.

Mesmo com o destaque dos Estados Unidos, outros países como Reino Unido, Israel e até o Brasil têm buscado – mesmo que timidamente – desenvolver soluções que atendam a esse nicho específico de consumidores. No caso do Brasil, fintechs e startups tem explorado não só o setor de crédito e gestão de beneficiários, mas, também, enfoque na capacitação e reinserção de profissionais prateados no mercado de trabalho para compor o quadro de suas equipes. O interessante nesse movimento é que, a busca por talentos prateados pode variar em diferentes áreas de serviço, contando com programas de capacitação para áreas mais específicas de tecnologia e recrutamento de profissionais que possam atuar em outras funções como atendimento ao cliente e suporte. Essa tendência tem como objetivo expandir o leque de oportunidades do mercado de trabalho e quebrar esse estigma de que a população prateada e tecnologia são correntes opostas.

Embora seja um movimento tímido, o reconhecimento do potencial e da importância de focar na economia prateada é um fenômeno relevante no setor financeiro. Após um longo período de afastamento etário e do desenho de um cenário tecnológico excludente para aqueles que não pertencem ao grupo dos millenials e da nova geração Z, o início de um movimento para incluir o grupo 50+ e manter esse nicho ativo são sinais positivos de uma busca ativa para que a transformação financeira digital seja cada vez mais inclusiva e diversa.

Amanda Stelitano é pesquisadora do Instituto Propague e mestranda em Economia Política Internacional pela UFRJ.

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