No panorama da transição para uma economia mais verde, a escassez de capital investido para o financiamento de projetos sustentáveis em larga escala tem se mostrado um dos principais gargalos para o avanço das metas de descarbonização da infraestrutura econômica global. No caso de regiões emergentes como a América Latina, o cenário é ainda mais desafiador: em 2023, a região recebeu cerca de 78 milhões de dólares dos 1,3 trilhões mobilizados internacionalmente para o investimento verde, somando apenas 6% do montante total, de acordo com a Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ).
O Brasil tem sido um ator chave para a evolução da transição climática e energética – não só pela disposição estratégica de recursos naturais e biomas de florestas usados para os objetivos de transição para uma matriz energética limpa, mas também pelo papel de liderança no avanço das metas do Acordo de Paris que o país assumiu recentemente. No entanto, sem o influxo adequado de capital, os projetos sustentáveis nacionais enfrentam sérias limitações em sua implementação e expansão.
A fim de superar essa questão, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) e o GFANZ firmaram um acordo de extrema importância para o futuro do financiamento climático na esfera nacional. A parceria visa desenvolver uma plataforma digital que conecte investidores nacionais e estrangeiros aos projetos verdes disponíveis no Brasil para atrair capital e dar a devida visibilidade e exposição aos empreendimentos sustentáveis do país.
Plataforma verde: aposta para a solução da lacuna de financiamento sustentável no Brasil
A iniciativa de criação de uma plataforma de mobilização de capital intersetorial para o financiamento sustentável é um marco da mobilização e parceria público-privada em prol da transição climática e energética no Brasil. O projeto da “plataforma verde” proposto pelo maior banco de desenvolvimento nacional e pela maior aliança internacional de financiamento climático representa uma grande inovação no campo das finanças verdes, pretendendo superar barreiras de financiamento e distribuição desigual do fluxo de capital verde para regiões em desenvolvimento.
Com foco na recuperação das florestas e na transição energética, o projeto da nova plataforma verde reforça dois pontos importantes: o compromisso brasileiro com a reindustrialização verde para descarbonização e o caminho de liderança climática nacional.
De acordo com o BNDES, o objetivo principal da plataforma é de criar um ecossistema de inovação propício para o desenvolvimento de iniciativas sustentáveis em setores-chave, como geração renovável de fontes de energia, biocombustíveis e soluções baseadas na natureza. Isso não apenas impulsionará a economia verde, mas também consolidará o Brasil como um grande produtor global de produção industrial verde e abrirá espaço para a geração de novos empregos verdes, que acompanhem esse crescimento.
Além disso, com apoio das novas tecnologias como a Big Data e a inteligência artificial (IA), por exemplo, a plataforma pode ser o grande repositório de dados e métricas de financiamento sustentável para que o Brasil tenha clareza dos avanços de suas metas climáticas. Ao concentrar todas as transações de investidores e do fluxo de capital para projetos verdes, o registro de dados pode oferecer insights valiosos sobre o planejamento e investimento necessários para atingir uma transição inclusiva, resiliente e justa.
No que tange à liderança climática brasileira, a parceria do BNDES com o maior agente de mobilização do financiamento sustentável do mundo foi recebida com animação pelo mercado nacional e global. O Brasil, que hoje assume a cadeira de presidência do G20 – grupo representado pelas 20 principais economias globais -, firmou a parceria com a GFANZ em meio ao Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas realizado na semana do encontro mundial do G20 em São Paulo, fazendo com que os olhos do mundo inteiro estivessem nas movimentações do Brasil em prol da transição climática e energética.
Com o apoio do Governo Federal e o Plano de Transformação Ecológica do Brasil de incentivo de financiamento sustentável externo, essa iniciativa tem o potencial de catalisar uma nova era de crescimento sustentável e desenvolvimento econômico no Brasil, enquanto contribui para um futuro mais verde, resiliente e justo.
Amanda Stelitano é pesquisadora do Instituto Propague e mestra em Economia Política Internacional pela UFRJ.
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