Finanças verdes: o que são e a relação com o sistema financeiro

A economia passa por uma transformação profunda diante da inevitabilidade das mudanças climáticas e ambientais. Nesse sentido, os agentes do sistema financeiro vêm trabalhando a fim de garantir seu alinhamento aos objetivos sustentáveis.
Finanças verdes: o que são e por que demandam a atenção do sistema financeiro
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Equipe Propague
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Elevação do nível do mar, enchentes, aumento da temperatura, poluição do ar. Esses, entre outros efeitos e resultados das mudanças climáticas, apresentam riscos para o planeta e consequentemente para os negócios em termos de base de clientes, disponibilidade de recursos e cadeias de suprimentos. A aproximação de catástrofes de maiores proporções já acendeu um sinal de alerta aos gestores de riscos e principais players do mercado financeiro internacional que estão de olho na manutenção da estabilidade financeira. De modo que nunca se falou tanto em sustentabilidade socioambiental no sistema financeiro como agora, por meio do que vem sendo chamado de finanças verdes.

Analistas de mercado apontam que, no âmbito do desequilíbrio ambiental, o esverdeamento do sistema financeiro pode oferecer uma contribuição crucial para o cumprimento das metas dispostas no Acordo de Paris, compromisso mundial que tem por objetivo garantir a diminuição e manutenção da temperatura global.  Uma das metas, por exemplo, é a redução das emissões de gases poluentes em 43% até 2030.

Contudo, embora seja evidente por que autoridades e organismos internacionais passaram a se preocupar com a questão, estendendo o debate para o sistema financeiro, a pergunta que fica é: como ele pode, na prática, trazer uma colaboração capaz de assegurar as mudanças que necessitamos em busca de um futuro mais sustentável?

Dessa maneira, saber o conceito de finanças verdes, como elas podem apoiar a sustentabilidade, de que instrumentos dispõe e quais desafios existem para adotá-los torna-se fundamental para entender o papel do sistema financeiro nesse processo.

O que são finanças verdes?

Em linhas gerais, as finanças verdes são qualquer atividade financeira estruturada – um produto ou serviço com foco em garantir um melhor resultado ao desenvolvimento sustentável ou financiar uma transição para uma economia mais verde. Nesse sentido, inclui uma série de empréstimos, mecanismos de dívida e investimentos que são usados para incentivar o desenvolvimento de projetos ecologicamente corretos ou minimizar o impacto no clima de projetos convencionais. Ou ainda uma combinação de ambos.

Projetos que se enquadram no âmbito das finanças verdes incluem por exemplo energia renovável e eficiência energética, prevenção e controle da poluição, conservação da biodiversidade, iniciativas de economia circular e uso sustentável dos recursos naturais e da terra.

A importância de financiar a compra de bens e serviços ambientalmente sustentáveis ou a construção de infraestruturas com essas características é tanta que, organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), assumem que as finanças verdes desempenham um papel fundamental no cumprimento de vários de seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Desse modo, a ONU vem trabalhando com o setor público e privado na tentativa de alinhar os sistemas financeiros internacionais à agenda do desenvolvimento sustentável.

Algumas das atividades em curso incluem ajudar os países a reestruturar suas estruturas regulatórias – para que os financiamentos verdes se tornem compatíveis, por exemplo – e ajudar a orientar o planejamento do setor público em uma direção mais ambientalmente correta.

Além disso, a importância das finanças verdes no apoio à transição para uma economia de baixo carbono também foi reconhecida na COP26, que aconteceu em Glasgow (Escócia) em novembro de 2021, conferência que reuniu 190 líderes mundiais para acordar planos para proteger o planeta, corroborando o Acordo de Paris.

Por que o financiamento verde é importante?

Segundo especialistas no tema, as finanças verdes são capazes de proporcionar benefícios econômicos e ambientais para todos e precisam ser gerenciadas com o intuito de garantir que haja uma transição justa para uma sociedade de baixo carbono.

Socialmente falando, eles afirmam que o financiamento verde pode expandir o número de indivíduos e empresas que podem ter acesso a bens e serviços ecologicamente corretos, especialmente para os vulneráveis ​​e marginalizados. Nesse sentido, a transição para uma sociedade de baixo carbono torna-se mais igualitária e mais resiliente, criando um crescimento socialmente mais inclusivo.

As finanças verdes resultam ainda em mais dinheiro investido nas empresas para ajudá-las a se tornarem mais ambientalmente responsáveis. Como consequência, isso pode ajudar as organizações a crescerem, criando empregos, reduzindo as emissões de carbono e estimulando a economia, revertendo-se em uma espécie de grande multiplicador verde por meio do qual tanto a economia quanto o meio ambiente se beneficiam continuamente. Ou seja, todos ganham.

Principais instrumentos de finanças verdes

À medida que governos em todo o mundo tendem a se comprometer      em como reduzir a poluição e a emissão de gases de efeito estufa, assim como mais reguladores recomendam e, até exigem, que as empresas divulguem os riscos relacionados ao clima e ao meio ambiente, os agentes do sistema financeiro vêm disponibilizando diferentes serviços e instrumentos no âmbito das finanças verdes com o propósito de garantir seu alinhamento aos objetivos sustentáveis.

É o que revela o white paper “O que são finanças verdes? E por que o sistema financeiro participa do debate sustentável?”, publicado pelo Instituto Propague. Esses produtos podem ser divididos em três categorias: serviços de investimentos; produtos bancários e de seguros. Assim, os principais instrumentos que têm recebido destaque internacionalmente são:

  • Instrumentos de dívida baseados em uso de recursos

São os chamados Green Bonds (títulos verdes) e Green Loans (empréstimos verdes). Os primeiros referem-se ao financiamento de projetos alinhados à transição para uma economia sustentável. Já os segundos são uma forma de financiamento que comprovem sua utilização exclusiva para projetos que contribuam para áreas sustentáveis.

  • Instrumentos de dívida por desempenho

São os Sustainability-Linked Bonds (SLBs) e Sustainability-Linked Loans (SLLs). Eles possibilitam que empresas se estruturem para alcançar e se adaptar às metas ESG dentro de um prazo pré-definido. Diferentemente dos títulos e empréstimos verdes, eles não exigem necessariamente um destino específico para o capital financiado, oferecendo um leque de possibilidades e finalidades.

  • Mercado de crédito: créditos de Carbono

É amparado pelo compromisso dos países participantes em reduzir as emissões de gases poluentes. Por meio desse instrumento os países podem associar um valor a uma      quantidade pré-determinada de redução de emissão, resultando em três mecanismos principais para fortalecer o cumprimento das metas e atrair o setor privado nessa ação: comércio de emissões, implementação conjunta e mecanismos de desenvolvimento limpo.

A nova ordem do sistema financeiro verde e seus desafios

Ainda de acordo com o relatório do Instituto Propague, com o objetivo de fortalecer a adoção dos instrumentos de financiamento verde disponíveis no mercado e avançar com o importante papel de mobilização do setor de forma sustentável, tem ocorrido uma demanda por parte de certo grupo de países e instituições por uma reorganização do papel dos participantes do sistema financeiro. A proposta surge para que cada parte responsável possa elaborar estratégias e planos de ação de promoção das finanças verdes.

Dessa forma, tanto instituições financeiras internacionais, como bancos centrais e reguladores de valores mobiliários, passando ainda por bancos públicos e privados e investidores institucionais têm sido vistos com papéis distintos e igualmente importantes na transição para uma economia mais sustentável.

Entretanto, da forma como hoje se encontram, a publicação chama a atenção para os desafios a serem       enfrentados. O primeiro deles, por exemplo, é a definição de atuação dos reguladores devido à falta de compreensão e concordância sobre em quais atividades e com qual grau de priorização devem atuar.

Há também o debate em como deve se dar a forma de coordenação entre setor público e privado para garantir os montantes necessários para o financiamento da transição, assim como criar mecanismos que minimizem a prática de greenwashing – termo criado para caracterizar as ações de empresas e agentes do setor financeiro que utilizam de práticas e produtos sustentáveis em suas estratégias de marketing para atrair investidores e clientes, quando, de fato, não possuem políticas ou ações que condizem com os objetivos de desenvolvimento sustentável.

 

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