ESG: bancos centrais, fundos soberanos e de pensão miram ativos sustentáveis

Levantamento do OMFIF aponta que tendência de diversificação das carteiras de investimentos se acelerou com mais instituições financeiras implementando práticas ESG por conta da pandemia.
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Equipe Propague
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O cenário internacional de juros baixos e as incertezas que vieram com a pandemia da Covid-19 provocaram uma mudança no direcionamento dos investimentos de bancos centrais, fundos soberanos e fundos de pensão. É o que revela uma pesquisa divulgada pelo OMFIF (sigla em inglês para Fórum Oficial de Instituições Monetárias e Financeiras), um grupo independente para discussão de política econômica e investimentos públicos, que ouviu gestores de reservas de 102 dessas instituições financeiras globais. A saber, parte da pesquisa teve como foco a propriedade de ativos e a incorporação de estratégias ambientais, sociais e de governança, as chamadas estratégias ESG, como são mais conhecidas, na tomada de decisão.

A edição de 2021 do Relatório Investidor Público Global (GPI) mostra que, pela primeira vez, a maior parte dessas instituições, sejam bancos centrais, fundos soberanos e de pensão, implementou, estratégias ESG. Contudo, o grau de adesão de cada tipo de instituição varia: todos os fundos de aderiram, enquanto dois terços dos fundos soberanos e pouco mais da metade dos bancos centrais o fizeram.

Todavia, uma tendência ficou clara. De acordo com a pesquisa, a diversificação de ativos a fim de aumentar ou manter o retorno dos investimentos, incorporando uma abordagem mais sustentável, tende a se acelerar entre os investidores públicos globais.

Estratégia ESG e a demanda por ativos sustentáveis

Investimentos sustentáveis, a exemplo de títulos verdes, são as estratégias mais adotadas, principalmente entre os bancos centrais. Segundo o levantamento do GPI, 92% das autoridades monetárias pesquisadas já investiram nesses tipos de títulos como parte de suas reservas e 60% estão planejando aumentar suas participações nos próximos 12 a 24 meses, ao passo que apenas 45% pretendiam fazê-lo há um ano.

No entanto, 50% dos bancos centrais ouvidos não implementam quaisquer considerações ESG para tomada de decisão em seus portfólios, indicando que ainda existe um longo caminho a percorrer no sentido de melhorar a sustentabilidade em suas carteiras. Mas, conforme o relatório, existem exemplos a seguir, afinal “10% dos gestores de reservas dessas instituições afirmam que a sustentabilidade é um de seus fatores de investimentos mais importantes”.

Porém, a demanda por ativos sustentáveis vai além dos títulos verdes. Ainda no documento divulgado pelo OMFIF, 21% dos bancos centrais indicaram também já estarem investindo em ações sustentáveis.

A pesquisa também revelou uma tendência mais expressiva em adicionar ativos sustentáveis à carteira por parte dos fundos soberanos e de pensão. Conforme a publicação, a integração ESG proposta por eles, além de prever a exclusão de ativos considerados “poluidores”, se concentra na compra de empresas ou projetos que optaram por fazer a transição de práticas mais poluentes ou menos responsáveis para as mais sustentáveis.

Carteira de ativos global

Ao fim de 2020, destaca o relatório, as três categorias de instituição geriam uma carteira de US$ 42,7 trilhões. No caso dos bancos centrais as reservas estavam em torno de US$ 15,3 trilhões, em comparação com os US$ 14 trilhões registrados no final 2019, apesar da pandemia. Já os ativos dos fundos de pensão somavam US$ 18,1 trilhões, com a maioria concentrados na América do Norte ($ 9,1 trilhões) e na Ásia e Pacífico ($ 4,8 trilhões). Conforme a publicação, “isso se deve, em parte, a retornos estelares sobre ativos mais arriscados, como ações que experimentaram um impressionante ressurgimento pós-pandêmico”. Igual cenário também vale para os fundos soberanos, embora, entre esses, a carteira cresça em ritmo mais lento. Seus ativos aumentaram pouco menos de 4%, alcançado US$ 9,3 trilhões em dezembro do ano passado.

Ainda de acordo com o relatório, esse comportamento tem sido diferente entre as regiões. As instituições financeiras globais em mercados emergentes experimentaram declínios consideráveis em ativos totais, especialmente no Oriente Médio e América Latina, onde eles caíram 2,4% e 0,8%, respectivamente. As principais perdas foram concentradas nos Emirados Árabes Unidos, Irã e Brasil, países onde essas instituições experimentaram as maiores quedas. Por outro lado, nos Estados Unidos, China e Suíça elas cresceram mais – 19,3%, 12,8% e 11,5%, nessa ordem.

Integração ESG e o Banco Central do Brasil

Em linha com o cenário internacional, por meio do pilar de Sustantabilidade da Agenda #BC, o Banco Central do Brasil (BC) tem avançado na adoção de estratégias ESG tanto internamente como no sentido de aprimorar a regulação dos agentes financeiros sob sua supervisão. Isso se confirma por meio do seu primeiro Relatório de Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas, lançado em setembro de 2021.

No documento, o BC relaciona as práticas e o andamento de suas próprias ações relacionadas à gestão de riscos e oportunidades nessas áreas, com grande foco nas mudanças climáticas, que podem impactar a própria instituição e ainda o Sistema Financeiro Nacional (SFN).

Entre as principais ações, estão a obrigação e inclusão de mudanças climáticas no gerenciamento de riscos dos bancos a partir de 2022, o estabelecimento de norma que cria regras para que as instituições do SFN elaborem sua Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática, assim como para que padronizem a divulgação das informações sobre esses riscos e oportunidades aumentando, dessa forma, a transparência para o mercado.

Além disso, o conjunto de medidas contempla também uma resolução que trata de impedimentos legais e infralegais já existentes e que sejam relacionados a questões sociais, ambientais e climáticas na contratação do crédito rural.

Para o BC, o cenário atual indica que as instituições financeiras devem enfrentar de forma mais rigorosa o risco de concessão de crédito para financiamentos com maior risco social ou ambiental. Com isso, avalia, as informações relativas às operações sustentáveis deverão permitir a sua utilização por certificadoras de títulos de crédito verde, agências de rating especializadas nos critérios ESG e prestadores de serviços contratados para auditar a aderência de empreendimentos a requisitos sociais e ambientais.

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