Investimentos verdes: UE debate regras fiscais e teste de estresse climático

Alteração da regulamentação é oportunidade para os formuladores de políticas cumprirem metas verdes, estimulando ainda investimentos privados nessa direção, diz especialista.
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Equipe Propague
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Suspensas desde 2020, a fim de dar margem de manobra para os gastos com o intuito de combater a pandemia de Covid-19, as negociações da União Europeia (UE) com os estados-membros sobre a regras fiscais e orçamentárias do bloco foram retomadas. Agora em 2022, o acordo, batizado de Pacto de Estabilidade e Crescimento, deve reconhecer a nova realidade econômica da EU pós-pandemia, bem como a necessidade de aportes para combater as mudanças climáticas, o que convencionou-se chamar de investimentos verdes, apontam alguns especialistas.

É para o que chama a atenção, por exemplo, Marcus Svedberg, estrategista de investimento do Quarto Fundo Nacional de Pensões Sueco (AP4), em artigo publicado pelo OMFIF – fórum independente para bancos centrais, política econômica e investimento público. De acordo com ele, os políticos europeus têm, em 2022, uma “oportunidade de ouro” para abordar duas questões importantes de uma só vez: atingir as metas climáticas e o crescimento da UE.

“Ao alterar as regras fiscais da União Europeia em favor de investimentos verdes, os políticos europeus podem dar uma contribuição crítica para atingir as metas climáticas e ajudar a aumentar o crescimento potencial da união, estabelecendo as bases para uma maior produtividade”, justifica.

Estímulo a investimentos verdes privados

Na avaliação de Svedberg, se o Pacto de Estabilidade e Crescimento for grande e confiável o suficiente, poderá ter dois resultados de bônus: primeiramente, poderia estimular mais investimentos verdes privados, que já estão crescendo rapidamente, mas exigem esses tipos de sinais políticos de longo prazo. O outro seria a solidificação do papel da Europa como principal ator na questão mais crítica do nosso tempo: o clima.

Contudo, ele reconhece que, agora, os níveis de dívidas públicas são altos em muitas partes do mundo e a Europa não é exceção e que, assim sendo, “as regras fiscais são políticas prudenciais, pelo que qualquer flexibilização, alteração ou abandono deve ser cuidadosamente analisado”.

Entretanto, apesar do elevado grau de endividamento, ele sustenta sua argumentação em direção do cumprimento das metas climáticas por meio de investimentos verdes, tendo explicitado seu ponto em um artigo, de setembro de 2021, publicado pelo think tank Bruegel, com sede em Bruxelas.

Nele, Svedberg concluiu que há necessidades substanciais de investimento que serão muito difíceis de alcançar no cenário fiscal atual. “Porém, o Bruegel, como alternativa, recomenda a introdução de uma regra de ouro verde, que exclua o investimento público verde líquido dos cálculos do déficit e da dívida sob as regras fiscais da UE”, fala.

Nesse sentido, Svedberg defende que um ambicioso programa de investimentos verdes tem potencial para aumentar a produção na Europa. “Apesar de o Bruegel argumentar que o impacto dos investimentos verdes no crescimento é incerto, o investimento em tecnologia verde certamente pode criar oportunidades de crescimento econômico se novos produtos forem exportados globalmente”.

Ao mesmo tempo, afirma, um esforço público de investimentos verdes que seja crível e de longo prazo por natureza também tem o potencial de estimular mais investimentos privados, estabelecendo as bases para uma economia de baixo carbono.

Bancos passarão por teste de estresse de risco climático

Enquanto as negociações sobre as regras fiscais da UE se desenrolam e os riscos climáticos estão no centro das discussões, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou que fará novo teste de estresse de supervisão de risco climático no primeiro semestre de 2022. A proposta é avaliar como os bancos estão aptos para lidar com choques financeiros e econômicos decorrentes dos riscos climáticos.

Por meio de comunicado, o BCE explicou que o exercício consistirá em três módulos distintos. Primeiramente, um questionário sobre as capacidades de teste de estresse climático dos bancos. Na sequência, uma análise de benchmark de pares para avaliar a sustentabilidade dos modelos de negócios dos bancos e sua exposição a empresas intensivas em emissões. Finalmente, um teste de estresse de baixo para cima porque os bancos menores não serão solicitados a fornecer suas próprias projeções de teste de estresse a fim de garantir a proporcionalidade do exercício.

Ainda de acordo com a autoridade monetária, o teste usará cenários macrofinanceiros baseados naqueles preparados pela rede de bancos centrais e reguladores com o propósito de “esverdear o Sistema Financeiro”. “Eles refletem possíveis políticas climáticas futuras e consideram tanto os riscos físicos, como calor, secas e inundações, quanto riscos de curto e longo prazo oriundos de uma transição para uma economia mais verde”, expõe.

Representantes do BCE destacaram que a atividade será um exercício de aprendizado sobre quão preparadas as instituições financeiras e os reguladores estão para lidar com riscos climáticos. A ideia é identificar vulnerabilidades e desafios, assim como as melhores práticas na temática de gerenciamento de risco climático. Ressaltam, no entanto, que não é um exercício de aprovação ou reprovação, de modo que não tem implicações diretas para os bancos.

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