Real Digital: o Brasil na vanguarda do sistema financeiro do futuro

O lançamento do piloto do Real Digital pode colocar o Brasil como centro das discussões do sistema financeiro do futuro.
Real Digital: o Brasil na vanguarda do sistema financeiro do futuro
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Morgana Tolentino
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A percepção de que DeFi vai integrar, de alguma forma, o sistema financeiro tradicional já é a principal aposta dos especialistas do setor financeiro. Uma das principais ferramentas para essa integração passa pela capacidade das CBDCs (moedas digitais dos bancos centrais) de interagirem em um ambiente DeFi, trazendo segurança jurídica para transações e viabilizando uma ponte segura entre DeFi e CeFi (as finanças centralizadas, tradicionais).

Nesse sentido, o Brasil deu um importante passo esse ano, que coloca o sistema financeiro brasileiro na vanguarda desse processo. O lançamento do piloto do Real Digital (CBDC brasileira) apresentou um projeto focado em desenvolver soluções com smart contracts e programabilidade, construído sobre uma infraestrutura DLT que usa o mesmo padrão da rede Ethereum, a maior do segmento DeFi. A incorporação dessas tecnologias indica a criação de uma CBDC com grande capacidade de interoperabilidade e facilidade para integração com DeFi no futuro.

Tecnologias DeFi vieram para ficar de vez no sistema financeiro

As finanças descentralizadas (DeFi) surgiram com a promessa de realizar transações financeiras sem a necessidade de uma entidade centralizada, como um banco ou outra instituição financeira. Através de contratos inteligentes e tecnologias de registros distribuídos (DLT), cuja mais conhecida é a blockchain, os protocolos DeFi viabilizam uma negociação direta entre os participantes, prescindindo do intermediário financeiro.

As vantagens prometidas pelas finanças descentralizadas são diversas: um acesso mais democrático ao sistema financeiro, já que os participantes não precisam passar por análises de crédito e outros riscos; a possibilidade de auto-soberania, que permite que os usuários custodiem e administrem seus próprios fundos; além de ganhos técnicos, como a melhora na interoperabilidade e na capacidade de escalabilidade do sistema.

Por outro lado, esse modelo de transação “à margem” do sistema financeiro tradicional traz consigo uma série de riscos. Sem a checagem das identidades dos envolvidos nas transações, aumenta-se o uso dessas transações para movimentação de dinheiro ilegal. As negociações também são altamente colateralizadas, com o uso de ativos extremamente voláteis (não há moeda oficial em circulação). Além disso, a promessa de escalabilidade é ainda limitada por fatores técnicos e de segurança e as transações não têm respaldo jurídico.

Uma das principais ferramentas das autoridades é a criação de uma rede global de CBDCs baseadas em DLT, para garantir interoperabilidade e a segurança de uma moeda oficial, criando o sistema financeiro do futuro.

A fim de mitigar os riscos e aproveitar os ganhos tecnológicos, a aposta que tem ganhado força é a de integração entre o sistema financeiro tradicional, garantindo um sistema regulatório qualificado e confiabilidade, e DeFi, contribuindo com inovações tecnológicas, agilidade, adaptabilidade e interoperabilidade. Nesse sentido, uma das principais ferramentas das autoridades é a criação de uma rede global de CBDCs baseadas em DLT, para garantir interoperabilidade e a segurança de uma moeda oficial, criando o sistema financeiro do futuro.

Real Digital coloca o Brasil na vanguarda do sistema financeiro do futuro

E se o sistema financeiro do futuro passa pelas CBDCs em redes DLT, então o Brasil já deu um importante passo nessa direção. O piloto do Real Digital (RD) foi lançado em março deste ano e trouxe um projeto focado em abrir possibilidades para o futuro. O projeto piloto tem expectativa de duração de cerca de um ano e testará a operacionalização e a segurança do sistema usando clientes e transações simuladas. 

Além do foco em soluções de programabilidade e uso de smart contracts, já previstos no Lift Challenge Real Digital, um ponto que chamou a atenção no lançamento foi a escolha por operar em uma rede DLT Compatível EVM. Ethereum Virtual Machine é como funciona a rede Ethereum, de modo que “ser compatível EVM” significa que a rede usada para o Piloto RD possui compatibilidade com os códigos de protocolos da Ethereum.

Essa decisão se mostra importante em dois aspectos principais: a plataforma oferece dados abertos, o que facilita o desenvolvimento inovativo e a solução de problemas, e é, hoje, o principal ambiente de desenvolvimento DeFi, com uma média de aproximadamente 4 mil desenvolvedores por mês estão envolvidos no desenvolvimento de protocolos DeFi na Ethereum. 

A escolha da plataforma sugere que, apesar de nenhum teste de interação com DeFi estar previsto na primeira fase do projeto, em um futuro próximo a interoperabilidade pode ser facilitada pela compatibilidade EVM. Assim, o Real Digital coloca o Brasil na vanguarda, pois, mesmo não sendo a primeira CBDC do mundo, parece ser a mais voltada para o sistema financeiro do futuro, como a incorporação de tecnologias como DLT em plataformas que facilitem uma futura integração com DeFi.

 

Morgana Tolentino é pesquisadora do Instituto Propague e doutoranda em economia pela UFRJ.

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