Enquanto o mundo tenta se recuperar de uma pandemia e a economia global encontra-se seriamente afetada pela guerra, a recorrência de fraudes financeiras no cenário digital também são motivo de preocupação. A exploração de pessoas vulneráveis, a lavagem de dinheiro e o financiamento ao terrorismo seguem em expansão, assim como o reflexo da atuação de organizações criminosas sobre órgãos e instituições governamentais tendem a ameaçar cada vez mais a estabilidade econômica de muitos países.
Com aproximadamente 1% do fluxo mundial de dinheiro ilícito sendo interrompido e recuperado, apesar dos bilhões de dólares gastos pela indústria financeira a cada ano para o cumprimento das leis antifraude, de acordo com as Nações Unidas, ainda há muito o que avançar no combate ao mau uso do dinheiro.
É para o que chama a atenção a edição 2022 do Relatório de Crimes e Fraudes Financeiras do The Paypers, uma das principais fontes independentes de notícias e análises sobre o setor global de fintechs, pagamentos e comércio eletrônico.
Com base nesse contexto, a publicação traz a avaliação de especialistas, associações e principais players do setor, os quais compartilham informações e análises sobre temas cruciais a exemplo da criação de economias digitais seguras, melhoria dos processos de integração digital, a relevância da identificação digital e as oportunidades oferecidas pelos avanços tecnológicos para a prevenção dos crimes e fraudes financeiras.
O que está acontecendo no âmbito das fraudes financeiras
De acordo com Mirela Ciobanu, editora sênior do The Paypers, as fraudes financeiras, em maioria das vezes causadas tanto por bots maliciosos como por humanos, geraram um ambiente perigoso e vulnerável, principalmente para o mundo dos negócios no qual as ameaças online são ainda mais críticas. Por isso, se destaca os avanços tecnológicos focados na prevenção de fraudes e as novas oportunidades para combater o desafio à frente.
Nesse sentido, ela chama a atenção para estatísticas alarmantes como os ataques de login e através de contas falsas que aumentaram 85% ano a ano, com uma invasão de conta se concretizando a cada quinta tentativa de login. Ao passo que, segundo uma pesquisa da Veriff, empresa global de serviços de verificação de identidade, as fraudes de identidade representam 56% dos ataques ao setor de fintechs.
Além disso, ela destaca que a pandemia de Covid-19 também agravou o volume de casos de fraudes de pagamento por push autorizado (APP, na sigla em inglês) em países como o Reino Unido. Acrescenta ainda que a modalidade ultrapassou as fraudes por meio de cartão, somando 355 milhões de libras em perdas no primeiro semestre de 2021. Enquanto isso, o roubo de identidade corporativa em todo o mundo aumentou 46% em 2020.
Desse modo, Ciobanu avalia que, como os cibercriminosos continuam aprimorando seus métodos, as instituições financeiras devem revisar e reavaliar constantemente seus processos de segurança. “Novas medidas antifraude, mais inteligentes, podem ajudar, mas somente se não introduzirem atrito excessivo com os usuários. Apesar de querer sentir como suas contas e dados estão seguros, nenhum cliente quer achar que está sendo tratado como um criminoso ou como se devesse provar que não é uma pessoa mal-intencionada”, afirma.
Experiência do consumidor em foco
Ciobanu também chama a atenção para o processo de verificação de identidade do cliente no sentido de combater as fraudes financeiras. Para ela, muitas vezes, ele não é projetado para o digital e não considera as nuances do mercado local, criando, assim, uma experiência desagradável para o consumidor.
Para exemplificar, ela traz um dado do último relatório “Battle to Onboard” (Batalha a Bordo, na tradução direta) da Signicat, empresa especializada em verificação de identidade digital. Segundo a publicação, em 2021, 68% dos consumidores europeus abandonaram aplicações financeiras devido a atritos na verificação de identidade, causando a perda de bilhões em receitas para os bancos. “Dessa forma, como resultado, as instituições financeiras devem encontrar o equilíbrio entre proteger transações e proporcionar uma experiência de usuário tranquila”, analisa.
Ainda de acordo com ela, para que uma empresa retenha clientes digitalmente, ela deve oferecer experiências online rápidas, seguras e perfeitas aos usuários, caso contrário, eles simplesmente vão embora. “As empresas podem alcançar isso por meio do recurso KYC (sigla em inglês para Conheça o seu Cliente) integrado”, fala.
Ademais, para reduzir a ocorrência e os efeitos de fraudes financeiras, Ciobanu orienta que estabelecer uma confiança digital mais forte logo no início da jornada do consumidor será fundamental para o seu sucesso. Investimento em medidas adicionais na verificação de identidade, segundo ela, pode ajudar a tornar o espaço mais transparente e seguro para todos os usuários.
Outra proposta para o combate às fraudes financeiras seria a introdução do conceito de identidade reutilizável. “Quando pensamos em identidade reutilizável, estamos falando sobre o compartilhamento contínuo e interoperável de informações confiáveis, incluindo credenciais verificáveis. Os benefícios são enormes não apenas para os consumidores finais, mas também para as organizações. Para os serviços financeiros, a identificação digital é mais vantajosa do que reduzir os níveis de fraude por si só”, afirma.
Detectando fraudes financeiras antes que aconteçam
Seguindo o ditado que diz que é mais fácil prevenir do que tratar, nesse caso, detectar as fraudes financeiras antes que elas aconteçam é melhor do que lidar com as consequências, explica a editora sênior do The Paypers.
Para ela, custos trabalhistas, regulamentações crescentes e ameaças criminais em evolução estão na base dos altos custos decorrentes para estar em conformidade contra crimes financeiros, principalmente à medida que os reguladores continuam a tornar as leis mais rígidas e as multas mais caras.
Conforme disse, apenas nos Estados Unidos, o custo total projetado de conformidade com crimes financeiros em 2021 foi de aproximadamente US$ 49,9 bilhões, um aumento de 19% em relação a 2020 e um aumento de 58% em relação a 2019. “Os reguladores ano a ano em todo o mundo continuam a impor ações de execução e sanções a entidades regulamentadas por não conformidade com a antilavagem de dinheiro e prevenção mais ampla de crimes financeiros”, expõe.
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