Finternet é o novo conceito do BIS para o futuro das finanças, mas o que é preciso para alcançá-lo?

Prometendo maior eficiência e redução de custos, a Finternet enfrenta desafios tecnológicos e legais antes de se tornar realidade. Descubra como essa inovação pode transformar o sistema financeiro global e os obstáculos a serem superados.
Finternet é o novo conceito do BIS para o futuro das finanças, mas o que é preciso para alcançá-lo?
Data
Autor
Morgana Tolentino
Produto
Compartilhar

Em novo artigo publicado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), líderes da entidade apresentaram o conceito de Finternet, uma visão de futuro para o sistema financeiro global, em que diversos ecossistemas financeiros estarão interconectados, em um modelo similar ao da internet. Alguns desafios, contudo, ainda precisam ser superados para alcançar esse futuro.

Finternet: o que é?

Em artigo publicado em abril de 2024, o BIS apresentou um novo olhar do sistema financeiro do futuro, denominado Finternet. O nome é uma junção dos termos finanças e internet e traz uma perspectiva em que diversas redes DLTs distintas estejam interligadas (em um modelo similar ao da internet) permitindo a conexão simultânea de vários mercados financeiros diferentes.

Assim, a Finternet promete trazer mais eficiência e rapidez nas transações, podendo contar com o uso de contratos inteligentes e soluções de programabilidade, além de potencialmente reduzir fricções nas operações melhorando os processos de liquidação e compensação. Ou seja, melhorando a velocidade e a confiabilidade do sistema financeiro global, tudo isso reduzindo os custos para os usuários finais.

Isso porque o modelo preconiza uma abordagem centrada no usuário, visando diminuir as barreiras entre os serviços e sistemas financeiros, promovendo, assim, um acesso mais universal ao sistema financeiro, dando um papel de destaque para os indivíduos e empresas, colocando-os no centro de suas atividades financeiras.

Nessa perspectiva, tanto indivíduos quanto empresas teriam a capacidade de transferir qualquer ativo financeiro, de qualquer valor, a qualquer momento e por meio de qualquer dispositivo, para qualquer destinatário, em qualquer lugar do mundo. 

Também é importante notar que a implementação da Finternet como futuro do sistema financeiro internacional não só poderia transformar as transações de hoje em operações mais eficientes, como também abre um mundo de novas possibilidades de produtos e serviços financeiros, totalmente baseados no modelo digital e de economia tokenizada.

Contudo, para que essa expectativa se torne realidade, alguns desafios ainda precisam ser superados. Por um lado, o cenário tecnológico necessário para alcançar esse futuro já existe e está melhorando rapidamente, mas ainda é preciso avançar sobretudo no processo de robustez desses sistemas, na sua interoperabilidade e no processo de tokenização da economia.

Um ponto ainda mais sensível é o desenvolvimento de um modelo jurídico-legal para garantir a segurança e a privacidade das transações financeiras no contexto da Finternet

Desafios para o sucesso da Finternet como futuro do sistema financeiro

Do ponto de vista do BIS, o modelo DLT consegue resolver parte dos problemas de governança utilizando uma camada com regras de conformidade automatizadas por meio de contratos inteligentes, entrelaçando os requisitos legais e regulatórios na própria estrutura de cada token.

Assim, cada token poderia ser mantido com os mais altos padrões de segurança, conformidade legal e transparência, sustentados por um modelo de governança que equilibra os princípios regulatórios pré-estabelecidos. Nesse sentido, outro ponto importante é a auditabilidade, permitindo a verificação rigorosa da conformidade e da integridade em toda a linha, garantindo a adesão às estruturas legais e regulamentares.

Contudo, para que todo esse aparato tecnológico possa ser usado em favor da conformidade legal, é necessário, antes, o desenvolvimento dessa estrutura legal, regulatória e de governança robusta. Parte desse aparato pode ser construído utilizando normas nacionais vigentes, mas alguns pontos precisam evoluir a nível global, exigindo colaboração entre as autoridades públicas locais, as instituições do setor privado e as organizações internacionais. 

Somente assim a Finternet gozará de confiança por parte dos consumidores e das empresas, e da sociedade como um todo, possibilitando o sucesso dessa visão de futuro, com ganhos de eficiência sem comprometer a segurança e a privacidade das transações financeiras.

 

Morgana Tolentino é pesquisadora do Instituto Propague e doutoranda em economia pela UFRJ.

Veja mais:

Agenda tecnológica do Banco Central mira tokenização da economia

Serviços de nuvem no sistema financeiro e o papel do banco central

A Inteligência Artificial como bem de utilidade pública: um imperativo global

Todos os produtos

Quer se
aprofundar mais?

Com uma linguagem simples de entender, as análises do Instituto Propague vão te deixar por dentro dos principais temas do mercado.

Leia agora!