Pagamentos internacionais: plataforma multi-CBDC pode moldar futuro das moedas digitais soberanas

Descobertas de um projeto liderado pelo BIS podem ajudar na formação de futuras alianças entre bancos centrais regionais, favorecendo ainda a adoção de um amplo acordo internacional para CBDCs.
Pagamentos internacionais: plataforma multi-CBDC pode moldar futuro das moedas digitais soberanas
Data
Autor
Equipe Propague
Produto
Compartilhar

No momento em que mais de uma centena de países trabalha em direção a uma moeda digital soberana, o uso das moedas digitais de banco central, as CBDCs, para pagamentos internacionais pode se tornar uma realidade. A proposta ganha importância especialmente quando muitos governos buscam alternativas para sistemas de pagamentos centralizados como o SWIFT. E ainda quando grandes economias, a exemplo dos Estados Unidos (EUA) e da União Europeia (UE) que antes se mostravam reticentes, lançam, respectivamente, versões digitais do dólar e do euro e necessitam de mais segurança na tomada de decisão.

Tudo graças aos resultados de um programa piloto liderado pelo Centro de Inovação do Banco de Compensações Internacionais (BIS) em Singapura em parceria com os bancos centrais da Austrália, Malásia, África do Sul e a Autoridade Monetária de Singapura, bem como com vários bancos comerciais. A saber, eles desenvolveram dois protótipos para uma plataforma compartilhada que poderia permitir pagamentos internacionais usando moedas digitais emitidas por vários bancos centrais.

Além de utilizar várias moedas, a plataforma também foi concebida a fim de facilitar as transações transfronteiriças com potencial para reduzir custos e aumentar a velocidade. Ao mesmo tempo, o projeto procurou se aprofundar em questões como governança, segurança e as tecnologias necessárias para que isso acontecesse. Questões essas que desencadeiam uma série de preocupações entre governos em todo o mundo.

Desafios para os pagamentos internacionais

De acordo com o Centro de Inovação do BIS, o projeto lançou três questões críticas para a viabilização de pagamentos internacionais por meio de CBDCs:

  1. Quais entidades terão acesso para realizar transações com CBDCs emitidas pela plataforma?
  2. Como o fluxo de pagamentos internacionais poderia ser simplificado de acordo com as regulamentações de cada jurisdição?
  3. Quais arranjos de governança seriam justos e poderiam dar aos países a segurança necessária para compartilhar informações financeiras?

Nesse sentido, a entidade relata que as soluções práticas voltadas para resolver esses problemas foram validadas por meio dos dois protótipos desenvolvidos. Dessa forma, chegou-se à conclusão de que uma plataforma multi-CBDCs era tecnicamente factível. Afinal, os experimentos provaram que as propostas de design utilizadas para resolver os problemas de acesso, regulamentações locais e de governança foram eficazes.

Para tanto, explica o BIS, o projeto foi organizado em três fluxos de trabalho: um focado em requisitos funcionais e de design e os outros dois voltados para fluxos técnicos simultâneos que resultaram nos dois protótipos em diferentes plataformas tecnológicas. Uma delas foi a Corda, uma plataforma de blockchain com código aberto que permite a interoperabilidade de diversas aplicações na mesma rede. Já a segunda plataforma testada foi a Partior, tecnologia também baseada em blockchain, mas que visa tornar a compensação e liquidação digital mais eficiente.

Formação de alianças globais e regionais

Segundo Andrew McCormack, que comanda o Centro de Inovação do BIS em Singapura, o projeto Dunbar levou a descobertas importantes sobre o estabelecimento e a governança de grupos CBDC regionais e internacionais. Assim como formas de fornecer a segurança e a confiança necessárias a fim de convencer os bancos centrais a registrar passivos em uma plataforma compartilhada que eles não controlam totalmente.

“Uma plataforma compartilhada é o método mais eficiente para conectar pagamentos internacionais, mas também o modelo mais difícil de alcançar”, disse em comunicado. Acrescentando que as principais preocupações relacionadas à confiança e ao controle compartilhado podem ser tratadas através de mecanismos de governança postos em prática por meios tecnológicos sólidos, lançando, desse modo, as bases para a criação de futuras plataformas regionais e globais.

Ainda de acordo com ele, o detalhamento do projeto e as conclusões estão em um relatório com o objetivo de apoiar os esforços do G20 para tornar os pagamentos internacionais melhores, especialmente pela exploração de uma dimensão internacional de design das CBDCs.

Entretanto, não é de agora, observam os analistas de mercado, que o BIS vem pressionando para que as CBDCs possam tanto garantir que sejam compatíveis entre si, a fim de facilitar os pagamentos internacionais, quanto para combater a ameaça que acredita que as stablecoins representam à estabilidade financeira.

Vale recordar que antes dessa plataforma multi-CBDC, Suíça e França, apoiados pelo BIS, experimentaram remessas internacionais tendo em vista um euro digital. Agora, acreditam alguns especialistas, as descobertas do projeto Dunbar podem auxiliar na adoção de um acordo internacional para CBDC entre os países do G20. Principalmente os EUA e os países membros da UE, que apesar das recentes declarações do presidente do FED, Jerome Powell, e da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, apresentam um histórico de demora sobre os projetos e criação de suas respectivas CBDCs.

Veja também:

Futuro dos pagamentos: caminhos para adequação à era digital

Moedas digitais vão transformar pagamentos internacionais, segundo pesquisa do BIS

CBDC: o que falta para uma ampla adoção?

CBDCs em 2022: os planos dos bancos centrais para consolidar suas moedas digitais

Pagamentos digitais: Eurosystem aprova novo sistema de supervisão incluindo criptoativos

Todos os produtos

Quer se
aprofundar mais?

Com uma linguagem simples de entender, as análises do Instituto Propague vão te deixar por dentro dos principais temas do mercado.

Leia agora!