Após um extenso período de crescimento, o ano de 2022 revelou-se desafiador para o mercado global de tecnologia, cenário que também se refletiu no Brasil. A conjuntura de inflação elevada, culminando em aumentos nas taxas de juros, criou obstáculos ao acesso a investimentos e compelindo o mercado a explorar novas oportunidades e estratégias para atrair investidores e fomentar um crescimento sustentável.
Uma das tendências em ascensão é o aumento da participação das empresas de tecnologia no desenvolvimento de soluções voltadas para o mercado ESG (sigla em inglês que significa environmental, social and governance). De acordo com projeções da Future Business Insights, estima-se que os investimentos nas áreas de “ambiental, social e governança” alcancem a marca de USD 51 bilhões até 2030. Diante disso, existem incentivos substanciais para que o setor de tecnologia intensifique sua incursão no desenvolvimento de soluções ambientalmente responsáveis e sustentáveis.
Transição ESG da economia: uma oportunidade para empresas de tecnologia
A primeira pergunta que fazemos é: onde exatamente estão localizadas essas oportunidades? A resposta mais evidente reside no mercado B2B, onde empresas diretamente envolvidas na promoção da sustentabilidade têm uma tendência a buscar soluções tecnológicas para realizar tarefas como monitoramento de índices de poluição, emissões de carbono, ou para facilitar o armazenamento e análise de extensas bases de dados ESG. Contudo, o escopo das possibilidades é substancialmente amplo e abarca setores diversos que estão em busca de tecnologias para auxiliar na adesão aos critérios ESG. Isso, por sua vez, cria um mercado em potencial no qual empresas de tecnologia podem oferecer soluções direcionadas a esse processo. É plausível que essa demanda se expanda à medida que a adesão aos princípios ESG ganhe mais tração entre os investidores, um fenômeno que já está em curso.
De acordo com uma pesquisa realizada com aproximadamente 200 empresas brasileiras de diferentes portes e segmentos, aquelas com práticas alinhadas aos pilares ESG registraram uma entrada de 615% maior que o Ibovespa, índice de desempenho da B3.
Órgãos reguladores e autorreguladores, como a CVM e a ANBIMA, estão progressivamente engajados em iniciativas que poderiam eventualmente tornar a adesão a diversos critérios ESG uma obrigação. Esse movimento hipotético teria o potencial de acelerar a transição e, consequentemente, ampliar a busca por soluções tecnológicas que tornassem esse processo mais acessível em termos de custos e mais eficiente em sua execução.
Quais tipos de soluções demandadas pela transição ESG podem ser oportunidades para o mercado de tecnologia?
Os aspectos mais destacados compreendem a utilização de tecnologias como a inteligência artificial (IA), análise de dados em tempo real e a Internet das Coisas (IoT), as quais detêm o potencial de reforçar e acelerar a incorporação das práticas ESG nas estruturas corporativas.
Um tipo de solução que poderá ter grande espaço envolve a garantia de conformidade com políticas ESG. O processo de automação, com a melhora na eficiência da análise e garantia de monitoramento em tempo real que aplicações desenvolvidas a partir de IA, seria importante não apenas do ponto de vista do custo financeiro para a empresa, mas também do custo reputacional de uma eventual acusação de greenwashing.
Outro exemplo alinhado com as exigências enfrentadas pelas empresas no processo de conformidade é o aprimoramento da capacidade de armazenamento, processamento e análise de dados diretamente vinculados às métricas ESG. Surgem soluções que incluem a utilização de inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT) e computação em nuvem para arquivar informações e auxiliar no monitoramento das emissões de carbono da empresa, inclusive mapeando se a rede de fornecedores inclui algum empreendimento em desalinho com as metas de descarbonização.
Também há espaço para produtos que identifiquem, em tempo real, fraudes e ameaças à segurança de seus clientes e colaboradores, garantindo melhores práticas de governança, ou ainda soluções que melhorem o processo de mapeamento de talentos usando critérios que promovam um ambiente plural, sem qualquer restrição ou desigualdade de gênero, raça, entre outros.
Além disso, a atuação do setor de tecnologia em consonância com os pilares ambientais, sociais e de governança não apenas fortalece a posição perante os investidores, mas também contribui para a criação de uma rede de transição sustentável e responsabilidade social.
Esses são apenas alguns exemplos que ilustram como encarar a transição ESG como uma oportunidade de negócio pode ser benéfico para o mercado de tecnologia, e quais tipos de soluções podem atrair atenção, considerando as demandas emergentes das empresas nesse processo. Além disso, a atuação do setor de tecnologia em consonância com os pilares ambientais, sociais e de governança não apenas fortalece a posição perante os investidores, mas também contribui para a criação de uma rede de transição sustentável e responsabilidade social. Em períodos de recursos escassos devido à conjuntura, esse fator se torna particularmente relevante para tomadas de decisão, destacando a ESG como uma oportunidade significativa para o futuro.
Amanda Stelitano é pesquisadora do Instituto Propague e mestranda em Economia Política Internacional pela UFRJ.
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