Com o aumento da responsabilidade corporativa em relação a metas e atividades alinhadas a práticas ESG (sigla para ambiental, social e de governança), empresas do setor financeiro têm encarado um novo desafio no mundo dos negócios sustentáveis: gerar e obter dados de qualidade, precisos e transparentes sobre métricas ESG.
O investimento na melhoria da captação e compartilhamento de uma base de dados ESG é uma estratégia importante para garantir a credibilidade e eficiência do negócio frente a investidores e clientes e para construir uma reputação positiva perante seus colaboradores, consumidores e a sociedade em geral ao evitar casos danosos de greenwashing. Além disso, ajuda a medir o progresso das empresas frente as metas de sustentabilidade global.
Atualmente, a ausência de uma padronização de critérios e métricas para geração e registro de dados ESG afetam os pilares de transparência e confiança para os agentes envolvidos. Um estudo promovido pela IBM comprova essa necessidade, ao apontar que padrões inconsistentes e baixa qualidade de dados associados aos critérios ESG são vistos como as principais barreiras que afastam potenciais investidores e clientes.
A padronização das informações ambientais, sociais e de governança é vista por reguladores, autoridades e representantes corporativos como o possível “divisor de águas” para alavancar o mercado e metas ESG no Brasil e no mundo.
A padronização das informações ambientais, sociais e de governança é vista por reguladores, autoridades e representantes corporativos como o possível “divisor de águas” para alavancar o mercado e metas ESG no Brasil e no mundo. Essa padronização tem como objetivo auxiliar a análise de negócios e tomada de decisão, além de minimizar riscos desnecessários para investidores e clientes.
Padronização de dados ESG: solução e desafios
Para atender a demanda de um mercado mais transparente, tomou-se como objetivo desenvolver uma estrutura de captação e divulgação de métricas e dados ESG por meio de relatórios padronizados, com linguagem comum e atualização constante. Esses padrões facilitam a comparação de informações consistentes e confiáveis relacionadas à sustentabilidade. Com base nesses dados, é possível desenvolver ferramentas de acompanhamento, análises e recursos para os mercados de capitais e empresas.
Assim, a criação de uma linguagem universal e comum, além de metodologias de classificação e identificação para critérios ESG ganhou força entre os principais debates internacionais. Um ecossistema colaborativo entre autoridades monetárias, representantes governamentais e atores do setor corporativo fomentou o desenvolvimento de mecanismos de divulgação e contabilidade para que atores do mercado possam atuar em negócios sustentáveis sem correr riscos reputacionais, de responsabilidade e financeiros.
Dados ESG no mundo: como a padronização avança no cenário internacional?
Para além da mobilização internacional, diversos países têm registrado avanços na preocupação com a transparência e responsabilidade de divulgação dos padrões ESG como forma de garantir um mercado sustentável. O Reino Unido e a China, por exemplo, já desenvolveram suas próprias taxonomias verdes, que nada mais é do que uma classificação de atividades econômicas alinhadas aos pilares ambientais, sociais e de governança em conformidade com as metas globais de sustentabilidade. Além disso, ambos os países também apresentam diversos projetos de incentivo e financiamento para empresas e instituições financeiras se adequarem aos novos padrões ESG.
O Brasil, por sua vez, ainda não possui uma taxonomia sustentável ou padrão oficial para a divulgação de suas métricas e resultados ESG. No entanto, reguladores, atores empresariais e organizações têm amadurecido a proposta e até mesmo um projeto de lei já foi elaborado com esperanças de avançar o tema no debate nacional. Isso não significa que no Brasil não haja divulgação de relatórios ESG no mercado financeiro ou corporativo, mas a ausência de padronização e obrigatoriedade na divulgação e transparência das atividades potencializa o desafio do mercado sustentável.
A conscientização da agenda sustentável, social e de governança nos negócios precisa ser vista como uma oportunidade de benefícios para as empresas e para o fortalecimento do mercado sustentável e não uma barreira de competição e desempenho de agentes do setor financeiro e do ambiente corporativo, principalmente para pequenas e médias empresas. A criação de um conjunto de regras padronizado, transparente e de fácil entendimento para que se tenha noção dos benefícios e oportunidades do alinhamento ESG nos negócios têm tudo para ser a virada de chave para alavancar ainda mais o crescimento e cumprimento das metas de sustentabilidade financeira e corporativa.
Amanda Stelitano é pesquisadora do Instituto Propague e mestranda em Economia Política Internacional pela UFRJ.
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