Greenwashing: investidores desconfiam de relatórios empresariais

Para 87% dos investidores globais esses documentos podem conter apropriações indevidas relacionadas às questões ambientais por parte das organizações.
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Equipe Propague
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O relatório Global Investor Survey (Pesquisa Global de Investidores na tradução direta) edição 2022, divulgado em dezembro pela consultoria PwC, não deixa dúvidas sobre o quanto a sustentabilidade é uma prioridade para os investidores e como eles percebem os desafios atuais. Prova disso é que uma das questões que mais chama a atenção é a desconfiança sobre as práticas de greenwashing.

Segundo a publicação, cerca de 87% dos investidores em escala global creem que os relatórios apresentados pelas companhias podem conter greenwashing. Quando se olha para a realidade nacional, essa parcela é ainda maior, com 91% dos investidores brasileiros preocupados de que esses documentos contenham apropriações indevidas relacionadas às questões ambientais por parte das organizações.

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Em outras palavras, uma parcela expressiva desse público olha para os relatórios das companhias e percebe que as informações ali divulgadas não refletem a realidade dentro das empresas. O que ganha ainda mais força diante do presente cenário, mostra a pesquisa, quando a sustentabilidade afeta prioridades, decisões e estratégias, assim como as avaliações que os investidores fazem sobre como as empresas estão respondendo às questões climáticas.

O relatório da PwC é fruto de entrevistas realizadas entre setembro e outubro de 2022, com 227 investidores e analistas em 43 territórios globalmente. Os entrevistados eram predominantemente investidores institucionais, principalmente analistas (38%) e gerentes de portfólio ou diretores de informação (34%).

Além disso, suas aplicações cobriam uma variedade de classes de ativos, abordagens de investimento e horizontes de tempo, com ativos sob gestão variando de US$ 500 milhões a US$ 1 trilhão ou mais.

Por que o greenwashing preocupa?

Na avaliação dos respondentes da pesquisa, a possível presença de greenwashing nos relatórios das companhias pode estar associada ao fato de elas estarem assumindo compromissos acima de suas capacidades. Isso também pode estar acontecendo por elas estarem colocando iniciativas que não tenham tanta relevância para os seus negócios como prioridade. Como resultado, isso acaba se refletindo no escopo dos documentos divulgados ao mercado.

Esse contexto, expõe o estudo, é descrito como um risco de sustentabilidade e de oportunidades para as empresas, influenciando investidores na hora de decidir alocar capital em determinada organização.

Nesse sentido, destaca o relatório, os investidores deixam claro o desejo de que as empresas mantenham um foco nítido na inovação e no desempenho financeiro, mas essas questões devem caminhar lado a lado com as ações para reduzir emissões de gases de efeito estufa.

Até porque, segundo os investidores ouvidos, nos próximos cinco anos, eles esperam que as ameaças decorrentes das mudanças climáticas e cibernéticas (incluindo hacking e desinformação) aumentem consideravelmente. Desse modo, eles veem espaço para as empresas se tornarem mais eficazes tanto na gestão dos riscos relativos ao clima como na inovação, assim como na divulgação de seus esforços.

O que deve ser prioridade para as empresas

Além do foco em inovação e desempenho financeiro, o relatório lista outras prioridades atuais e futuras para os negócios, segundo os investidores, o que inclui resultados ambientais, sociais e de governança (ESG na sigla em inglês).

Em ordem de importância, 83% dos entrevistados afirmaram que a prioridade máxima dos negócios deve ser o desenvolvimento de produtos, serviços e formas de atuação inovadoras. Isso porque, eles afirmam que inovar pode ajudar as empresas a controlar os riscos climáticos, e ainda os cibernéticos, e até mesmo abrir novas oportunidades de mercado para que elas se movimentem rapidamente.

Na sequência, com 69%, apareceu a necessidade de manter um desempenho financeiro lucrativo, seguido de segurança de dados e privacidade (51%), governança corporativa eficaz (49%) e rodadas de redução de emissões de gases de efeito estufa (44%).

Sustentabilidade, greenwashing e regulação

Um fator-chave que impulsiona o interesse dos investidores pela sustentabilidade e a preocupação em relação ao greenwashing é o risco regulatório. A saber, aproximadamente 78% deles disseram que o gerenciamento de riscos regulatórios é um fator importante para incluir a sustentabilidade em suas decisões de investimento.

A propósito, esse quesito perde apenas para as demandas dos clientes de que seus portfólios tenham um olhar ESG mais específico (82%).

No entanto, muitos dos entrevistados também veem ações governamentais direcionadas como uma forma de encorajar ações corporativas em sustentabilidade. De acordo com o estudo, mais da metade (54%) vê os impostos sobre atividades insustentáveis como uma forma eficaz de motivar a mudança, e o mesmo número considera desejáveis a divulgação e transparência exigidas pelo governo.

Ao mesmo tempo, os subsídios para iniciativas empresariais alinhadas com as prioridades climáticas do governo não estão muito abaixo, considerados eficazes por 48% dos investidores.

Dessa maneira, as descobertas feitas pelo estudo da PwC destacam a importância de as empresas demonstrarem aos investidores como elas mantêm uma governança forte sobre o risco regulatório e contra a prática de greenwashing.

Isso significa tanto acompanhar as mudanças no cenário regulatório e se preparar para atendê-las, como também investir em suas funções de conformidade, legais e de risco para garantir que eles tenham os recursos, talentos e capacidades para gerenciar a mudança.

 

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