Futuro dos pagamentos: caminhos para adequação à era digital

A modernização da infraestrutura da qual depende grande parte da economia global está em andamento. Além da atualização do modelo existente, adoção de moedas digitais e tokenização estão no radar.
Futuro das CBDCs: foco precisa estar nos consumidores e empresas, diz especialista
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Equipe Propague
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Um novo relatório publicado pelo OMFIF (sigla em inglês para Fórum Oficial de Instituições Monetárias e Financeiras), aponta que players do mercado, reguladores e empresas de tecnologia estão prontos para tornar os pagamentos, principalmente os internacionais, adequados à era digital. Nesse sentido, dois caminhos são possíveis para o futuro dos pagamentos: a evolução, por meio da atualização transformadora da infraestrutura existente; ou a revolução, o que remete a um grande salto através da adoção de moedas digitais e tecnologias relacionadas, como a tokenização.

“A probabilidade é que esses dois caminhos funcionem juntos”, projeta Clive Horwood, editor-chefe do OMFIF. Ele argumenta que os players do setor, entre eles provedores de pagamentos e bancos, trabalharam duro para transformar a atual infraestrutura de pagamentos. “O progresso está sendo feito em um ritmo que sugere um futuro melhor para os pagamentos, mesmo que tecnologias mais revolucionárias não correspondam às expectativas”, fala.

Em segundo lugar, acrescenta, as empresas do setor também estão trabalhando em estreita colaboração com os bancos centrais e uma nova geração de empresas de tecnologia está pronta para explorar o potencial das moedas digitais de banco central (CBDCs, na sigla em inglês) e stablecoins dentro do que se prevê para o futuro dos pagamentos. “Além disso, as iniciativas relacionadas à blockchain estão entrando em operação e os avanços da tokenização devem acelerar ainda mais o desenvolvimento de soluções”, conclui.

De todo modo, Horwood expõe que, embora existam grandes oportunidades decorrentes da reengenharia de infraestruturas de pagamentos globais com o auxílio de novas tecnologias, elas só se concretizarão se houver parcerias entre os setores público e privado para garantir a interoperabilidade do sistema e o alinhamento regulatório transfronteiriço.

Desafios para o futuro dos pagamentos

No relatório, é destacado que o progresso na modernização da infraestrutura, que hoje é considerada cara, lenta e pesada, está em andamento. O caso destacado é o dos pagamentos internacionais, que há muito têm desafios maiores do que seus equivalentes domésticos. Afinal, esses podem envolver, além dos custos financeiros, vários fusos horários, regulamentações e jurisdições, o que acaba por frustrar o cliente com atrasos nos prazos de pagamentos e falta de clareza sobre as taxas.

Não à toa, aponta que o G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) fez do aprimoramento dos pagamentos internacionais uma prioridade, enfatizando o papel que esse progresso poderia ter na obtenção de serviços mais rápidos, baratos, transparentes e inclusivos, que trariam benefícios generalizados para cidadãos e economias em todo o mundo.

Alguns desses desafios foram ilustrados por um relatório publicado por Oliver Wyman e JP Morgan em 2021, no qual se constatou que as empresas globais gastaram US$ 120 bilhões em taxas de transação para facilitar pagamentos internacionais em 2020, o que equivale a uma taxa média de US$ 27 por operação, excluindo custos de câmbio. Além disso, também identificou que o tempo médio de liquidação para transações transfronteiriças era de dois a três dias.

Como consequência, o Financial Stability Board (Conselho de Estabilidade Monetária) publicou um relatório preliminar em 2021 onde indica um roteiro para um melhor sistema global de pagamentos internacionais, auxiliando, dessa forma, no que pode vir a ser o futuro dos pagamentos.

No documento são destacados a necessidade de uma visão conjunta dos setores público e privado para melhorar os pagamentos internacionais; a coordenação os marcos regulatórios e de supervisão; a melhoraria das infraestruturas e acordos de pagamentos existentes; o aumento a qualidade e o processamento dos dados; e a exploração do potencial de novas infraestruturas e acordos de pagamento, incluindo moedas digitais, tokenização e tecnologias relacionadas.

Principais conclusões

Após análise do contexto do mercado, os autores e colaboradores do relatório publicado pelo OMFIF indicam conclusões sobre o futuro dos pagamentos que abordam questões como o papel potencial das moedas digitais nos pagamentos internacionais; a atualização da infraestrutura de pagamentos na era digital; pagamentos por atacado; tokens; remessas internacionais e o equilíbrio entre regulação e inovação. Alguns destaques foram:

CBDCs e stablecoins

Os bancos centrais têm a oportunidade de tomar a iniciativa e o dever de garantir que, qualquer que seja a solução de pagamento que se torne dominante, eles ainda sejam capazes de cumprir seus mandatos e preservar a estabilidade financeira.

Tokenização

Com a arquitetura de governança correta, a tokenização pode ajudar a combater a lavagem de dinheiro, a fraude e o financiamento do terrorismo, mas demanda um equilíbrio entre privacidade e supervisão.

Infraestrutura

A inovação tecnológica generalizada em transações bancárias reconfigurou as partes de front-end e back-end do sistema de pagamentos, bem como os próprios trilhos sobre os quais os pagamentos se movem.

Remessas internacionais

A padronização global das remessas transfronteiriças P2P permitiria maior concorrência, reduziria o custo das remessas e permitiria que os formuladores de políticas compartilhem as melhores práticas. No entanto, isso é difícil por conta dos diferentes níveis de desenvolvimento digital e financeiro entre os países, dentre outros motivos.

Pagamentos por atacado

Os sistemas de pagamentos de alto valor estão em processo de migração para os padrões ISO 20022, abrindo caminho para dados estruturados mais ricos, para mais interoperabilidade e melhor processamento direto.

Segurança cibernética

A infraestrutura do sistema global de pagamentos tem 20 anos ou mais e inclui componentes projetados muito antes de a segurança cibernética ser uma ameaça. Em vez de tentar fortalecer esses sistemas, os formuladores de políticas devem considerar aceitar que é a infraestrutura subjacente, e não os regulamentos, que deve mudar.

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