Nos dias atuais, não há mais espaço – e tempo – para pensar em uma economia sustentável sem associá-la a um papel ativo do setor financeiro para financiar uma transição verde e energética. Os bancos de desenvolvimento multilaterais, em especial, têm se destacado como agentes financeiros de impacto pela mobilização de financiamento e conexão com investidores para o desenvolvimento desse tipo de projeto, além de promoverem o diálogo com demais instituições do mercado global para fomentar agendas de mitigação e adaptação, principalmente, em economias emergentes.
Bancos de desenvolvimento da região Ásia-Pacífico, especialmente, têm sido vistos como um grande case de sucesso desse movimento. O Banco Asiático de Desenvolvimento (ADB) – que inclui países com planos de desenvolvimento verde de referência internacional como Singapura e Tailândia – , em especial, aparece como ator significativo no apoio financeiro e de planejamento na expansão da transição para uma economia de baixo carbono. Dessa forma, acompanhar o sucesso de evolução dos projetos pode ser uma forma de tentar replicar boas práticas nos demais mercados emergentes, como o Brasil, e acelerar o alcance de suas metas sustentáveis.
O papel do Banco de Desenvolvimento da Ásia na transição sustentável da região Ásia-Pacífico
No contexto de redução de emissões de gases poluentes, a Ásia é hoje a região com maior volume de emissões de carbono no mundo, sendo, também, uma das regiões mais vulneráveis aos riscos da crise climática e ambiental. Entendendo essa fragilidade e a necessidade de ativamente reduzir as emissões em um curto espaço de tempo, o continente asiático se tornou uma das referências globais em esforços em projetos de adaptação de economia para baixo carbono e, também, em finanças verdes. E muito desse esforço é garantido graças as iniciativas do ADB.
Cumprindo o papel de banco de desenvolvimento, o ADB tem atuado como o elo entre bancos e instituições do mercado financeiro, investidores privados e iniciativas ESG; na promoção de um ecossistema de inovação e sustentabilidade; além de ainda incentivar, entre reguladores e autoridades, a formulação de normativos e instrumentos de padronização para fortalecer o mercado de ativos financeiros verdes. Para alcançar seus objetivos, em 2018, o ADB estabeleceu uma meta de aproximadamente 80 bilhões de dólares para acelerar o financiamento e a transição climática, mas, em 2021, decidiu aumentar para 100 bilhões de dólares em um projeto até 2030.
Desde então, o ADB vem trabalhando em diferentes esferas do meio ambiente, clima e energia para garantir que a utilização de seus recursos e instrumentos financeiros sejam usados para acelerar a transição sustentável e garantir um impacto positivo para o futuro. Só em 2022, foram aproximadamente 31 mil hectares de áreas terrestres, costeiras ou marinhas preservadas e restauradas; redução de quase 30 milhões de toneladas de gases efeito estufa – representando 87% da meta total do plano de redução do banco -; 280 novas infraestruturas de produção de energia em baixo carbono, entre outros.
Além disso, o ADB tem liderado iniciativas como o Mecanismo de Financiamento Inovador para o Clima na Ásia e no Pacífico, a primeira parceria de garantia para o financiamento climático a ser implementada por um banco multilateral de desenvolvimento. Com forte atuação na região Ásia-Pacífico, esse mecanismo tem como objetivo criar uma plataforma para conectar diversos doadores e parceiros públicos e privados que fornecerão garantias para partes das carteiras de empréstimos soberanos do ADB para permitir que ele direcione capital e, consequentemente, aumente o volume de empréstimos para investimentos relacionados a projetos de clima e meio ambiente.
Junto com outras iniciativas de transição energética e infraestrutura de diretrizes de taxonomia e divulgação promovidas pelo ADB em parceria com bancos centrais e instituições financeiras da região, países como Singapura que, hoje, são consolidados como hub de sustentabilidade e inovação conseguem acelerar as ações ESG e se aproximar das metas estabelecidas para o baixo carbono, enquanto outras economias emergentes encontram espaço de crescimento e desenvolvimento em um mercado sustentável, como é o caso do Vietnã que, atualmente, conta com mais de 6 contratos de financiamento de energia limpa promovidos pela ADB.
Protagonismo dos bancos de desenvolvimento: o caso do Brasil
No caso do Brasil, as instituições financeiras de desenvolvimento (IFDs) vêm expandindo seu foco na transição verde e na adaptação a energia limpa nos últimos anos, com destaque para o BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento. Com projetos de parceria como o Fundo Amazônia em atividade há mais de 15 anos e, mais recentemente, o relançamento do Fundo Clima, o BNDES estabelece linhas de crédito para o financiamento de projetos associados ao clima, meio ambiente, redução de emissão de carbono, energia, entre outros. Nesse caso, diferentemente do ADB, o BNDES é um banco de desenvolvimento nacional e conta com o apoio e recursos de fontes governamentais.
Em geral, o potencial de atuação e impacto do BNDES e demais IFDs que compõem o Sistema Nacional de Fomento (SFN) é essencial para o cumprimento das metas da Agenda 2030 e para garantir uma transição sustentável e energética eficiente. Isso porque o SFN é responsável por cerca de 70% do crédito fornecido para investimentos no Brasil, representando um ponto central do setor financeiro que precisa estar alinhado à uma economia de baixo carbono. Então, se o principal eixo para o financiamento de projetos sustentáveis está alinhado à priorização e inclusão da temática em suas estratégias e planos de desenvolvimento, o que o Brasil pode melhorar para garantir o sucesso de suas metas?
É possível que haja espaço para melhorias na maior clareza e definição dos parâmetros e especificação para destino de recursos em projeto de impacto. Um exemplo mais direto seria a ausência de uma taxonomia sustentável padrão para o sistema financeiro brasileiro. A criação de uma taxonomia verde e sustentável padronizada no Brasil é um ponto de debate que vem ganhando força com a demanda por avanços na transição verde, e o caso da Ásia – especialmente a atuação do ADB – pode funcionar como benchmark para ações futuras.
Contando com o direcionamento de diretrizes padronizadas como a Taxonomia Sustentável da Associação das Nações do Sudeste Asiático, o ADB possui uma maior facilidade em identificar projetos e propostas de impacto sustentável, reduzindo o risco de financiamento de iniciativas contrárias aos propósitos da região asiática. Uma vez que os bancos de desenvolvimento nacionais em território brasileiro e bancos de desenvolvimento multilaterais tenham uma diretriz única e estruturada para classificar o desempenho de iniciativas alinhadas à uma economia de baixo carbono, é possível que a transição verde e energética no Brasil avance em novos patamares, garantindo o potencial brasileiro em conquistar espaço nas lideranças globais de sustentabilidade.
Amanda Stelitano é pesquisadora do Instituto Propague e mestranda em Economia Política Internacional pela UFRJ.
@instpropague Bancos de desenvolvimento são a chave para a transição sustentável? Para a região Ásia-Pacífico, sim! #fintok #sustentabilidade #zerocarbono #economiaverde ♬ som original – Instituto Propague
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