Lideranças empresariais e políticas em todo o mundo reconhecem a importância da Inteligência Artificial (IA) e o seu poder de transformar praticamente todas as áreas da vida cotidiana das pessoas e da atividade econômica.

Dessa forma, nada mais natural que diversos países engajem no debate da regulamentação dessa tecnologia, tanto em nível nacional como global, em busca de uma harmonia que garanta a segurança dos usuários e a conformidade com as leis.

Isso porque, embora os ganhos potenciais da IA possam ser impressionantes, os riscos potenciais caminham em paralelo, trazendo questionamentos sobre se a tecnologia ajudará ou prejudicará a sua adesão às regras de cada jurisdição.

No caso do setor financeiro, por exemplo, a questão ganha relevância quando se avalia o avanço dos pagamentos em tempo real – não só domésticos, mas sobretudo transfronteiriços – e, consequentemente, dos crimes financeiros, que crescem na mesma medida, como fruto da ação dos cibercriminosos.

Como resultado, é consenso entre especialistas e governos a necessidade de se intensificar os esforços na procura por um equilíbrio entre as prováveis vantagens e eventuais ameaças do desenvolvimento da IA.

Como a IA ajuda, mas também dificulta, a luta contra fraudes

Até que uma regulamentação seja aprovada, o debate no setor de pagamentos é sobre como lidar com uma tecnologia tão rápida como a IA e como ela afetará, entre riscos e recompensas, a busca pela conformidade.

Em artigo publicado na plataforma Fintech Futures, Claire Huddleston, diretora de vendas e marketing da Clear Junction, contribui para a discussão da questão.

Segundo ela, enquanto a IA traz diversos benefícios para bancos e fintechs, a tecnologia também pode servir de combustível para fraudadores. Nesse sentido, ela menciona como ferramentas – a exemplo do ChatGPT – são manipuladas para se voltar contra o sistema financeiro, criando perfis falsos de usuários e atraindo consumidores e funcionários para que cedam dados sensíveis.

Com a conectividade em tempo real aumentando o volume de transações e, ao mesmo tempo, abrindo vias para a ação de fraudadores, bancos e fintechs precisam ir além das abordagens reativas de prevenção a crimes financeiros e adotar esforços proativos e preventivos.

Isso se torna ainda mais relevante à medida que mais operações acontecem além-fronteiras, afinal, diferentemente dos pagamentos domésticos, os pagamentos internacionais apresentam maior risco de contraparte e câmbio, de lavagem de dinheiro, “conhecimento do cliente” (KYC na sigla em inglês) e triagem de sanções.

Assim, é normal que a IA esteja sendo usada como ferramenta para automatizar e agilizar processos de prevenção de fraude e verificação de identidade.

Por fim, Huddleston afirma que, em 2022, os gastos com conformidade em relação a crimes financeiros aumentaram quase 14% ante 2021, atingindo US$ 57 bilhões para os Estados unidos (EUA) e Canadá juntos, segundo estudo da LexisNexis Risk Solutions. No Reino Unido, esses custos alcançaram 34 bilhões de libras (19% a mais).

Em busca de um desenvolvimento seguro

Ampliando o debate para além do setor de pagamentos, encontrar um equilíbrio entre as vantagens e ameaças decorrentes da aplicação de modelos de IA tem feito com que mais e mais países se alinhem em direção a um desenvolvimento seguro da tecnologia.

Entre as iniciativas mais recentes, que obteve notoriedade devido à quantidade e ao tamanho das economias envolvidas, está uma declaração assinada por um grupo de 28 nações.

No documento, EUA, União Europeia, China, Brasil, entre outros, concordaram em identificar os riscos de segurança relacionados à IA. Eles consideraram a questão uma preocupação compartilhada entre eles e se comprometeram a construir, conjuntamente, um entendimento científico fundamentado em evidências acerca das ameaças.

Além disso, a declaração deixa evidente o receio desses países sobre a gravidade dos danos em potencial, deliberados ou não intencionais, oriundos das habilidades mais relevantes dos modelos de IA.

De acordo com eles, principalmente devido ao ritmo acelerado e incerto da IA e do volume de investimentos realizados, é urgente a compreensão dos riscos em potencial e desenvolvimento de medidas para combatê-los.

Nesse sentido, os signatários reforçaram, ainda, a necessidade de um diálogo inclusivo a partir de debates internacionais. Dessa forma, eles pretendem assegurar a obtenção das recompensas trazidas pela IA e a segurança dos usuários, garantindo, assim, que a tecnologia possa ser aproveitada para o bem comum.

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