Real digital: BC debate CBDC brasileira, smart contracts e o dinheiro programável

Especialistas avaliam a viabilidade e o potencial da CBDC e possíveis metodologias de integração com o universo das finanças descentralizadas.
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Equipe Propague
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Com o intuito de fomentar o lançamento no Brasil de uma CBDC (sigla em inglês para Moeda Digital do Banco Central), prevista para os próximos anos e que já vem sendo chamada de real digital, o Banco Central (BC) vem realizando uma série de webinários a fim de debater as diretrizes gerais para a sua emissão e operação, assim como as possíveis tecnologias para a sua implementação. Em um quarto encontro virtual, realizado no fim de setembro, o BC abordou a integração do real digital com os smart contracts (contratos inteligentes na tradução livre para o português), as finanças descentralizadas (DeFi) e ainda a Internet das Coisas (IoT).

Segundo o consultor do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do BC, Mardilson Queiroz, o desafio de uma CBDC brasileira é ir além dos sistemas atualmente existentes no banco. “Nos temos boas soluções para o sistema de pagamentos, porém existem algumas questões que precisam de respostas. Que ganhos podemos obter e como alcançar esses objetivos no desenvolvimento da nossa moeda digital”, adiantou.

Conforme disse, “é preciso ver qual o potencial e a viabilidade de possíveis metodologias de integração com os smart contrats e com a tecnologia DeFi e ainda a função de programabilidade do real digital”.

Vale destacar que, em outras ocasiões, a autoridade monetária brasileira já havia sinalizado que o real digital está sendo concebido como um tipo de token nativo de um sistema de pagamentos digitais programáveis, viabilizados por meio de smart contrats e da tecnologia Defi, em um ambiente regulado e disponível para qualquer pessoa ou empresa.

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O real digital e o “pagamento futuro”

Segundo Kondic, da B3, um aspecto importante na implementação do real digital é o ganho de eficiência e a possibilidade de se criar processos mais robustos e ao mesmo tempo simplificados, capazes de eliminar a necessidade de reconciliação das transações, gerando, dessa forma, mais conexões instantâneas entre os participantes do mercado financeiro. “Isso significa facilitar ainda a inclusão de novas pessoas nesse mercado e no sistema de pagamentos devido exatamente à facilitação desse processo”.

Nessa direção, Viriato, da Parfin, complementou que se tem observado uma grande oportunidade de ganhar eficiência no mercado financeiro por meio das blockchains.  “Vamos ter a chance de conectar a blockchain com a internet das coisas e o dinheiro programável de uma forma impressionante. Hoje em dia, quando temos cada vez mais ativos sendo transformados em tokens, tornando-se instrumentos financeiros, e moedas digitais sendo criadas, a CBDC se faz necessária para poder permitir mais fluidez na troca de valores de bens e serviços ou ativos tokenizados em moeda digital. Mesmo com stablecoins é importante que tenhamos uma CBDC, o que deverá aumentar ainda mais a segurança e o processo de transformação de ativos em tokens. Acredito que essa será a próxima fronteira”, afirmou.

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Real digital como dinheiro programável

De acordo com Shailee, diretora de Contas, Vendas e Estratégias da Consensys, enquanto se debate a implementação do real digital, a ideia do dinheiro programável já é uma realidade. “Vemos moedas como o Bitcoin e o Ethereum que provam que é possível ter dinheiro programável. E isto se dá, na verdade, por conta dos smart contracts, que rodam dentro da blockchain. Por meio desses contratos inteligentes temos uma coleção de códigos que possuem um saldo e que podem ser enviados em transações através da tecnologia DeFi. Assim, estamos vendo cada vez mais o uso dos smart contracts, com vários tipos de critérios, programados em diversos níveis e camadas de segurança dentro da blockchain”, destacou.

Já em termos de aplicações para o dinheiro programável e os smart contracts, Kondic aponta para os pagamentos, entregas, transações B2B e em cadeias complexas de suprimentos. “Nessas aplicações, o dinheiro digital pode ser programado para que tenhamos o pagamento no recebimento dos produtos e transações de entrega versus o recibo de pagamento. Isto será um grande avanço na eficiência dos negócios, com significativa redução da necessidade de reconciliação e operacionalidade das transações”, explicou.

Outra aplicação para o dinheiro programável e os smart contrats, disse, pode surgir no pagamento de dividendos. “Quando os dividendos são um percentual do lucro, o seu cálculo e respectivo pagamento podem ser programados automaticamente. Isso pode trazer simplificação e diminuir as barreiras entre as empresas e o público”, justificou.

“Além disso, podemos ter ainda sua a aplicação para o cálculo e pagamento de salários, comissões e bônus, o que também pode ser programado por meio dos smart contracts para processamento instantâneo. O mesmo pode acontecer para o pagamento de serviços, para formatação de arranjos bancários, negociações internacionais entre outras possibilidades. Ainda vamos ver muitas aplicações que poderão ser criadas e desenvolvidas e, dessa forma, avançarmos nessa direção”, complementou.

Impulso para inovação nas finanças globais

Durante o debate, Shailee Adinolfi, da Consensys, chamou a atenção para o fato de que a união entre CBDCs, a exemplo do real digital, e o mundo financeiro descentralizado, notadamente as blockchains e a tecnologia DeFi, que se tornaram populares por conta principalmente das criptomoedas, tende a ser um grande “combustível” para a inovação das finanças globais.

Ao mesmo tempo, ela avaliou que essa conexão possibilitará que as pessoas tenham mais confiança nesse ecossistema financeiro emergente, “pois o uso do dinheiro físico está diminuindo cada vez mais e precisamos de formas mais seguras para poder fomentar essa nova geração de pagamentos. “Mas para que isso ocorra, é fundamental que o real digital seja interoperável, de arquitetura aberta, com padrões que permitam o setor privado desenvolver soluções para pagamentos em tempo real, com programabilidade e diferentes formas de composição”, defendeu.

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