Mudanças climáticas: decisores políticos e economistas analisam impactos macroeconômicos da transição

A maior preocupação recai sobre os efeitos da inflação verde, decorrente das políticas destinadas a apoiar a transição para uma economia zero carbono.
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Equipe Propague
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Os riscos e oportunidades para a macroeconomia decorrentes da transição verde estão cada vez mais no radar dos decisores políticos, profissionais de risco e economistas, à medida que se aproximam os prazos para o alcance das metas estabelecidas pelo Acordo de Paris para conter os efeitos das mudanças climáticas.

É o que destaca o Instituto de Política Sustentável do OMFIF, na edição do segundo trimestre de 2024 do seu boletim sobre sustentabilidade. A publicação traz as principais contribuições dos setores público e privado sobre o impacto da inflação verde nos mercados de trabalho e na produtividade, bem como sobre as perspectivas de crescimento global.

Segundo os especialistas consultados, espera-se que as ações para combater as mudanças climáticas resultem em impactos significativos sobre a estabilidade de preços, principalmente tendo em vista choques futuros nas tarifas de energia, insumo que permeia toda a cadeia produtiva.

Na avaliação de Stephane Dees, chefe de economia climática do Banco da França, as políticas destinadas a apoiar a transição para uma economia zero carbono podem levar a mais inflação, ou mais precisamente à inflação verde, que é como os economistas estão denominando esse movimento.

De acordo com ela, o efeito líquido sobre a estabilidade dos preços dependerá tanto da dinâmica expansionista como da contração da oferta e da demanda. Contudo, afirma, se não for devidamente antecipada, a transição verde também poderá levar a uma rápida sucessão de choques, aumentando ainda mais a volatilidade dos preços.

Implicações sobre o mercado de trabalho e os empregos verdes

Ao mesmo tempo, a publicação aponta que a estabilidade de preços também poderá ser indiretamente influenciada por alterações estruturais nas condições do mercado de trabalho. 

A gravidade crescente dos riscos físicos associados às mudanças climáticas representa uma ameaça para milhões de empregos em indústrias dependentes dos ecossistemas em todo o mundo, assim como os trabalhadores alocados em setores que serão mais afetados pela transição para uma economia neutra em carbono.

Nesse contexto, os novos empregos “verdes” buscarão compensar parte dessa diferença. Contudo, explica Joseph Feyertag, investigador político do Instituto de Pesquisa Grantham, existem grandes disparidades dentro e entre os países. 

Dessa forma, na sua avaliação, é crucial que os decisores políticos compreendam esses desequilíbrios, pois os mercados de trabalho excessivamente dependentes de setores altamente emissores de carbono não representam um risco apenas para os governos que tentam atingir metas líquidas zero. São também uma ameaça para os objetivos básicos de preços e estabilidade financeira dos bancos centrais e dos supervisores financeiros.

Custos econômicos das mudanças climáticas são marcados pela heterogeneidade

Ainda de acordo com Feyertag, o impacto nos distintos países e regiões não se dará na mesma medida. Além disso, os custos econômicos decorrentes das mudanças climáticas serão particularmente maiores para os mercados emergentes. 

Afinal, a análise que vem sendo feita é de que a capacidade de financiamento de projetos de mitigação climática é mais limitada nesses países, enquanto a parcela da produção e do emprego concentrada em setores vulneráveis ao clima aumenta os riscos de perturbações na economia.

Em grande parte da Ásia-Pacífico, por exemplo, já se constatou que os impactos das mudanças climáticas apontam para uma queda na trajetória de elevado crescimento da região. 

Segundo relatam Declan Magee, principal economista para as alterações climáticas e desenvolvimento sustentável, e Abdul Abiad, diretor de macroeconomia, pesquisa econômica e impacto no desenvolvimento do Banco Asiático de Desenvolvimento, o milagre do crescimento econômico da Ásia é fruto de um aumento das atividades poluentes.

Ambos argumentam que alcançar os objetivos de desenvolvimento e ao mesmo tempo evitar riscos catastróficos oriundos das mudanças climáticas não pode ser feito sem transformar os padrões de crescimento do continente.

Nesse sentido, acrescenta Marcus Pratsch, responsável pelas obrigações e finanças sustentáveis do DZ BANK AG, facilitar uma mudança estrutural nos motores de crescimento asiático exigirá um pacote de políticas bem formulado e o aumento do financiamento climático é uma alavanca importante nesse contexto.

Conforme Pratsch, ao adotar uma visão mais holística da transição, o setor financeiro desempenhará papel essencial no processo de transformação econômica. 

Ademais, o setor financeiro poderá ter um impacto positivo muito maior na agenda de sustentabilidade global se ajudar a transformar as atividades econômicas menos sustentáveis em mais sustentáveis, em vez de tornar as atividades econômicas já verdes um pouco mais verdes.

Crescimento em ambiente sustentável: é possível?

Em meio aos desafios, o Instituto de Política Sustentável do OMFIF destaca que o paradigma da política climática passou de uma abordagem em que a economia deve ser contida a fim de mitigar as alterações climáticas, para uma visão em que o crescimento e um ambiente sustentável podem coexistir.

Nessa direção, Amiot Marion e Paul Gruenwald, respectivamente o responsável pela economia climática e o economista-chefe global da S&P Global Ratings, observam que as melhorias na eficiência energética e a promessa de inovação na tecnologia verde inspiram otimismo, ajudando a pavimentar o caminho para esse novo cenário promissor.

 

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