Transição verde ainda enfrenta falta de incentivos para financiamento

O diagnóstico das barreiras ainda presentes para se tratar de uma transição verde foi debatido na Conferência Global de Financiamento da Transição realizada em Singapura.
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Equipe Propague
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Segundo estimativa apresentada na Conferência Global de Financiamento da Transição, cuja edição de 2023 teve sede em Singapura e aconteceu em novembro, serão necessários US$ 126 bilhões adicionais em financiamento para transição verde a nível mundial, a partir de agora até 2050.

Organizada pelo OMFIF, pelo Grupo SGX e pela Bolsa de Valores local, o evento contou com o debate de especialistas sobre as barreiras ainda presentes no assunto. O embaixador Majid Al Suwaidi, principal negociador dos Emirados Árabes Unidos sobre alterações climáticas, energia e sustentabilidade, afirma que o anúncio do montante necessário para a transição veio acompanhado de um alerta sobre a necessidade de uma grande reforma do sistema financeiro, sem a qual será impossível alcançar uma economia de baixo ou zero carbono.

Além disso, para o embaixador, o financiamento da transição verde deve ser mais inclusivo em relação ao formato atual, visando apoiar, principalmente, os países mais vulneráveis.

Nesse sentido, é preciso estabelecer mais mercados voluntários de carbono e movimentar capital privado em grande escala. Além disso, os bancos multilaterais de desenvolvimento deverão trabalhar em conjunto se quiserem mobilizar mais capital para a questão climática.

Entretanto, conforme observou Emma McGarthy, chefe do Instituto de Política Sustentável do OMFIF, tais objetivos enfrentam a barreira da falta de incentivos, que impede, como consequência, o progresso do financiamento da transição verde.

Em artigo publicado no OMFIF, ela reforça que, sem ferramentas e produtos financeiros adequados e sem a colaboração intensa dos proprietários de ativos, não haverá caminhos e nem estratégias claramente viáveis para essa transição.

O papel dos decisores políticos no incentivo e apoio ao financiamento

McGarthy também destaca os apelos dos conferencistas para que governos e decisores políticos desenvolvam, implementem e reportem seus próprios planos, a fim de fornecer apoio mútuo e incentivo ao financiamento da transição verde.

Sobre isso, ela expôs as observações de Ma Jun, fundador e presidente do Instituto de Finanças e Sustentabilidade, e Satoshi Ikeda, diretor de finanças sustentáveis da Agência de Serviços Financeiros do Japão, em um painel centrado no papel dos reguladores.

Na avaliação desses executivos, embora a Europa seja um exemplo de elevado grau de regulamentação das finanças verdes, existem lacunas na mobilização de incentivos, diferentemente do caso da China. Isso porque, segundo Jun, o Banco Popular da China já vem trabalhando para criar mecanismos com o objetivo de reduzir os custos de financiamento para projetos de maior risco que apoiam a transição verde e, assim, impulsionar a alocação de capital.

Esses recursos podem ser aplicados tanto exclusivamente pelo setor privado como em parceria com o setor público, sobretudo no caso das economias emergentes, como acrescentou Leong Wai Leng, diretor executivo e chefe na Ásia da Caisse de dépôt du Québec.

Em adição, de acordo com McGarthy, Joachim von Amsberg, conselheiro especial do presidente do Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas, salientou que o financiamento misto só não atingiu uma maior escala de investimento nos países emergentes devido à ausência de especificação de preços e de mercados de carbono, o que significa que há pouco incentivo, desfavorecendo a transição verde.

De acordo com ele, a complexidade dos projetos de infraestrutura e as condições de alto risco nesses mercados conduzem à falta de investimento privado, o que mostra a necessidade, portanto, do investimento misto.

Outras barreiras à transição verde

Por fim, a Conferência Global de Financiamento da Transição revelou uma dinâmica positiva: os mercados financeiros sustentáveis estão crescendo, as políticas estão sendo implementadas e o capital está sendo movimentado. Contudo, é fundamental considerar os obstáculos a transpor para promover a transição verde global, como a necessidade de um volume muito maior de incentivos para financiamento.

Além desse obstáculo, podem ser citados o acesso aos dados e a comunicação, que continuam a ser um desafio, assim como a proliferação de grande número de normas, quadros e taxonomias que surgiram para apoiar a transição verde.

De acordo com McGarthy, como resultado, as empresas ainda relatam muita dificuldade para divulgar as emissões adequadamente, e nas corporações emergentes existe uma enorme lacuna entre as informações divulgadas e o que é necessário para atingir as metas líquidas de zero carbono.

 

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