Mudanças climáticas: de acordo com a ONU, metas zero carbono para 2050 já estão desatualizadas

Novo relatório do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alerta para a necessidade de revisão de prazos e metas. Nesse contexto, o Rio de Janeiro ganha protagonismo com lançamento de centro de pesquisa do clima.
Mudanças climáticas: de acordo com a ONU, metas zero carbono para 2050 já estão desatualizadas
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Equipe Propague
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Os esforços empreendidos até agora para alcançar a meta de uma economia zero carbono em 2050 parece não terem sido suficientes. Embora seja uma afirmação forte e difícil de assimilar ante o quanto já se promoveu a questão, os principais especialistas climáticos pedem uma ação mais rápida, segundo o mais recente relatório do Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Divulgado em 20 de março de 2023, o documento expõe que antes de olhar para 2050, como muitas cidades, estados e países têm feito, as metas de curto prazo para diminuir a poluição provocada pelos gases de efeito estufa devem ser uma prioridade muito maior e há pouquíssimo tempo para alcançá-las.

O IPCC alerta que as emissões dos gases que causam as mudanças climáticas precisam alcançar o limite máximo até 2025 para que, a partir do pico, a neutralização e descarbonização seja mais rápida e direcionada. Dessa forma, evita-se que o aquecimento global exceda um limite crítico.

Nesse contexto, o secretário geral da ONU, António Guterres, afirma que as nações mais ricas, responsáveis pela maior parcela da poluição, precisam seguir um cronograma mais rápido do que países economicamente emergentes.

Tanto que, na mesma data da divulgação do relatório, ele sugeriu uma agenda de aceleração em relação às mudanças climáticas ao G20, grupo das 20 maiores economias mundiais, pedindo às nações mais desenvolvidas que aumentem suas metas zero carbono para o mais perto possível de 2040, o que estaria mais condizente com a realidade, e não mais para 2050.

Esse novo relatório, por sua vez, sintetiza os avanços resultados do trabalho colaborativo do IPCC e as nações participantes, ao mesmo tempo que analisa as necessidades de revisão e atualização dos prazos e metas de combate à crise climática.

Etapas incrementais devem ser uma prioridade para conter as mudanças climáticas

O relatório anterior, elaborado em 2018, já afirmava que os efeitos das mudanças climáticas piorariam demasiadamente se o aquecimento global ultrapassasse a marca de 1,5 grau. Contudo, cinco anos depois, o que se observa é que as emissões de gases de efeito estufa seguem em disparado.

Por conta do aumento do nível do mar e maior recorrência de catástrofes climáticas, agora se sabe que a crise climática é mais generalizada e urgente do que originalmente previsto e que o prazo para estabilizar o aquecimento global em 1,5 grau está praticamente se extinguindo, afirmam os especialistas.

Segundo o IPCC, a temperatura da superfície terrestre subiu cerca de 1,09 grau entre 2011 e 2020, na comparação com 1850 e 1900, e as reduções de emissões globais projetadas até 2030, mesmo se os países seguirem as metas acordadas antes da COP26, não serão suficientes para assegurar o aquecimento abaixo de 1,5 grau.

Por isso, o relatório de 2023 dá mais ênfase a etapas incrementais para conter as mudanças climáticas de imediato do que o projetado para 2050. Na prática, isso significa cortes mais profundos nas emissões de carbono e gases efeito estufa, diminuído não pela metade, mas, na verdade, em pelo menos 60% o seu lançamento na atmosfera em relação aos níveis de 2019 já entre 2030 e 2035.

Além disso, fica claro que não se pode reduzir as emissões sem livrar o planeta de sua dependência de combustíveis fósseis, substituindo-os o quanto antes por fontes de energia mais limpas.

Como já reforçado por Guterres e pelo mais recente relatório do IPCC, para que essas etapas incrementais sejam bem sucedidas e as metas de neutralização e controle das mudanças climáticas, o comprometimento das autoridades mundiais é fundamental para acelerar os resultados antes de 2050.

Aceno positivo que vem do Brasil

As discussões referentes ao tema tendem a se intensificar nos próximos 12 meses que antecedem a COP28, em Dubai, exigindo ações mais urgentes dos países e representantes presentes para enfrentar os desafios que se colocam para os negócios, as finanças e formuladores de políticas.

Nesse contexto, mais uma vez, o Brasil vem se destacando positivamente em relação às suas responsabilidades individuais para o alcance das metas coletivas. Após reforçar um posicionamento ativo e promissor na agenda ambiental internacional na COP27, o Brasil ganhou atenção graças ao novo centro de pesquisa e inovação sobre mudanças climáticas recém-lançado na cidade do Rio de Janeiro, o Climate Hub Rio.

A proposta é uma ação da Prefeitura do Rio de Janeiro, em parceria com a Universidade de Columbia para desenvolver um ambiente voltado para tratar das questões climáticas globais, beneficiando-se, ao mesmo tempo, da perspectiva regional, visto que o Rio possui uma geografia que enfrenta muitos desafios e, como resultado, as descobertas podem originar soluções para diversas partes do planeta.

Com esse propósito, o Climate Hub Rio trabalhará com foco em quatro eixos:

  1. Ensino, envolvendo os professores da Universidade de Columbia;
  2. Convocação, provendo uma programação em torno de diversas questões sobre o clima, como transição energética, uso da terra e equidade climática.
  3. Rede, desenvolvendo conexões para incrementar as pesquisas e, especialmente, aumentar a divulgação no exterior do trabalho e resultados alcançados pelo Hub; e
  4. Ação, a fim de impactar as políticas climáticas locais, nacionais e internacionais através da rede da Universidade de Columbia.

O Climate Hub Rio entra para o conjunto de iniciativas que a cidade do Rio de Janeiro vem desenvolvendo para se tornar uma referência global na transição climática, verde e energética. Em 2022, inclusive, foi anunciado o desenvolvimento de uma bolsa de valores verde no Rio de Janeiro, com objetivo de colocar a cidade na rota de atenção dos principais mercados de carbono do mundo e atrair investidores com potencial de financiamento para garantir uma transição verde eficiente e justa, dentro dos prazos recomendados pela ONU.

 

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