Desdolarização sinaliza mudanças nas reservas dos bancos centrais

Relatório aponta como os principais gestores de reservas planejam trabalhar motivados pelos movimentos geopolíticos, pela conjuntura econômica global e a ascensão de outras moedas como ativos de investimento.
Desdolarização sinaliza mudanças nas reservas dos bancos centrais
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Equipe Propague
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Entre os temas debatidos na edição 2023 do relatório Global Public Investor (Investidor Público Global, na tradução direta), lançado pelo OMFIF – um fórum independente para bancos centrais, política econômica e investimento público –, a desdolarização da economia internacional ocupa posição de destaque.

De fato, ao longo de 2023, desde que os BRICS sinalizaram a intenção de desenvolver uma moeda comum para suas transações comerciais, reduzindo a dependência do dólar dos Estados unidos, um movimento em torno de uma possível desdolarização ganhou as manchetes dos principais veículos de comunicação.

Por essa razão, o OMFIF se debruçou sobre o tema para construir uma análise de como a geopolítica e a conjuntura econômica poderão moldar a gestão das reservas dos países.

Em linhas gerais, a publicação avalia que, a princípio, é improvável que uma moeda comum dos Brics venha a ameaçar o domínio do dólar. Entretanto, traz projeções importantes a partir de uma pesquisa realizada com 75 gestores, que controlam quase US$ 5 trilhões em reservas.

Dólar poderá perder espaço, mas não o domínio

Segundo o levantamento, cerca de 6% dos entrevistados esperam reduzir suas participações em dólares nos próximos dez anos, comportamento compatível com a lenta tendência de desdolarização que já dura há décadas.

Em média, é prevista uma diminuição da participação do dólar nas reservas totais para 54% no período, face aos atuais 59%.

Como resultado, o relatório aponta que outras moedas serão beneficiadas, passando a ocupar maior relevância nas reservas globais, mas sem ganhar força significativa como ativos tão cedo.

Desdolarização beneficiará reservas em yuan

Entre as moedas que poderão levar vantagem em meio a esse lento processo de desdolarização, estão o yuan e o euro.

No caso da moeda chinesa, em média, os entrevistados esperam que sua participação atinja 6% das reservas globais dentro de dez anos, contra pouco menos de 3% atualmente.

Entretanto, a maioria dos gestores de reservas planeja adotar uma abordagem cautelosa em relação à China. Isso porque a parcela de respondentes que pretende aumentar as participações em yuan nos próximos dois anos caiu para 13%, face a mais de 30% registrados em 2021 e 2022. A maioria citou a falta de transparência do mercado e o atual contexto geopolítico como as principais barreiras ao investimento.

Por outro lado, existe uma grande procura pela moeda a longo prazo. Aproximadamente 40% dos bancos centrais esperam incrementar as suas participações em yuan nos próximos dez anos. O que, de acordo com a publicação, representa uma procura maior do que qualquer outra moeda.

Nesse sentido, os entrevistados afirmaram que a diversificação e o papel crescente da China na economia global são a principal motivação para investir na sua moeda. No geral, a ascensão do yuan nas reservas tende a ser gradual.

Euro também desperta interesse dos gestores de reservas

No que diz respeito ao euro, a moeda vem despertando mais interesse entre os gestores de reservas, com aproximadamente 14% dos bancos centrais esperando elevar as suas participações nos próximos dois anos, em comparação com um valor zero registrado em 2021 e 2022.

A razão para isso é que o aumento das taxas de juros na Europa está tornando os ativos de rendimento fixo em euros mais atrativos.

Além disso, 9% dos bancos centrais esperam aumentar as suas participações em euro nos próximos dez anos, indicando que a moeda poderá desempenhar um papel fundamental nas estratégias de diversificação decorrente do processo de desdolarização em curso em médio e longo prazos.

 

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