Pagamentos transfronteiriços: o que o futuro reserva?

Apesar das várias iniciativas para aprimorar as transações além-fronteiras, o caminho permanece indeterminado. Contudo, maior eficiência e eliminação de atritos desnecessários são esperados.
Pagamentos transfronteiriços: o que o futuro reserva?
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Equipe Propague
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Tornar os pagamentos transfronteiriços mais rápidos, baratos, transparentes e inclusivos tem motivado uma série de países a buscarem soluções para atender a uma das demandas que mais crescem em todo o mundo. Afinal, a maior mobilidade de pessoas, o fluxo de capitais mais intenso e o comércio internacional online em plena ascensão justificam esse movimento.

Isso se confirma por meio de iniciativas como as que se observam principalmente em regiões emergentes. Na Ásia, em especial na Grande Baía, região com grande relevância econômica e comercial na China; no sudeste asiático, onde se sobressai Singapura; e no Brasil, com os esforços do Banco Central (BC) para lançar o Pix internacional.

Não se pode deixar de mencionar, ainda, o uso da tecnologia blockchain na África com foco em pagamentos internacionais, onde a inovação evolui rapidamente, potencializando novos investimentos e parcerias dentro e fora do continente.

Ao mesmo tempo, uma ação conjunta do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco de Compensações Internacionais (BIS na sigla em inglês) pretende ressignificar os pagamentos transfronteiriços, utilizando, para isso, os atributos das moedas digitais de bancos centrais (CBDCs). A proposta, contudo, defende a independência da tecnologia blockchain.

Além disso, esse conjunto de inovações vem acompanhado de uma transformação no espaço cambial com formas de desdolarização dos pagamentos transfronteiriços, esquentando ainda mais o debate em torno do que o futuro reserva para transações em outras moedas no cenário internacional.

O horizonte a longo prazo dos pagamentos transfronteiriços

Para Edward Dovey, chefe para a região Ásia-Pacífico da RTGS.global, o futuro a longo prazo dos pagamentos transfronteiriços permanece indeterminado.

Em artigo publicado na The Payers, ele conclui que, seja qual for o resultado, o mundo deve esperar uma redução da fricção e uma maior eficiência nas transações, principais objetivos de todas as partes envolvidas, enquanto o dólar americano continua a ser a moeda de reserva mundial, pelo menos no curto e médio prazo.

Entretanto, é preciso estar preparado para um futuro bastante dinâmico, em que a infraestrutura do mercado financeiro possa proporcionar uma liquidação PvP (pagamento versus pagamento na sigla em inglês) para praticamente qualquer conexão monetária, ou seja, entre quaisquer moedas, acrescenta.

Com isso, será possível a liquidação instantânea entre bancos comerciais e centrais, com base na disponibilidade de liquidez em tempo real, sendo algo de que todo o mercado poderia potencialmente se beneficiar.

A saber, o PvP elimina o risco de liquidação cambial porque cria a troca simultânea da propriedade da moeda, que só pode ocorrer depois de ambos os lados terem se movimentado, proporcionando, dessa forma, a garantia de que uma parte continua a possuir os seus fundos até que a sua contraparte cumpra suas obrigações de transferência.

Porém, Dovey avalia que, no caso da troca direta entre duas moedas de mercados emergentes, serão necessários fornecedores de liquidez, além de instituições financeiras que estejam dispostas a entrar neste mercado.

Discussão em torno da desdolarização das transações

Em relação à desdolarização das operações no âmbito dos pagamentos transfronteiriços, Dovey recorda que, a medida que o mundo muda, também se modifica a dinâmica do comércio e das finanças globais. Isso significa que, a medida que os mercados evoluem, outras moedas além do dólar ganham espaço e importância de valor no comércio transfronteiriço.

Dessa forma, já existem sinais de desdolarização na região da Ásia e do Pacífico, com a Índia, por exemplo, que fez seu primeiro pagamento de petróleo bruto aos Emirados Árabes Unidos em rúpias indianas.

Enquanto isso, os países dos BRICS também se manifestaram favoráveis à desdolarização dos pagamentos. Além disso, os bancos na Rússia, Laos, Camboja e Myanmar aumentaram as suas participações em Yuan Renminbi, a moeda chinesa, ao longo da última década.

O que se tem visto, argumenta Dovey, é que as transações com moedas sem a intermediação do dólar dos Estados Unidos têm registrado spreads mais reduzidos, o que os torna mais atrativos para o comércio internacional.

Nesse contexto, o número crescente de participantes no mercado que contempla uma gama mais ampla de divisas contribuiu para a mudança para spreads mais reduzidos nas economias emergentes.

Contudo, ele avalia que a desdolarização não é necessariamente garantida e seria um processo de longo prazo. “Muitos mercados financeiros operam sob o princípio de que se não está quebrado, não conserte”, afirma, uma vez que a liquidez e a eficiência do dólar norte-americano na facilitação dos pagamentos transfronteiriços têm funcionado bem durante décadas.

 

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