Finanças globais: África busca discurso coletivo por mais capital externo

Presidentes de Gana, do Quênia e da Zâmbia lideram movimento continental para propor soluções práticas para alavancar a atração de investimentos.
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Equipe Propague
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Mirando a atração de um fluxo mais abrangente de capitais internacionais, a África começa a unir vozes para chamar a atenção do mundo e garantir mais espaço no âmbito das finanças globais.

Enquanto o planeta enfrenta ameaças que vão desde as crises climáticas às tensões geopolíticas, a região se apresenta como uma terra de oportunidades, mas que também pede urgência em ações.

Em artigo publicado pelo OMFIF, Udaibir Das, professor do Conselho Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada e conselheiro do Fórum Internacional para Fundos de Riqueza Soberana, destaca que, cansados de uma arquitetura financeira pública e privada global que sempre colocou o continente de lado, os líderes africanos estão usando sua voz coletiva para propor uma revisão radical das normas financeiras.

Na liderança desse movimento estão, por exemplo, os presidentes de Gana, Nana Akufo-Addo, do Quênia, William Samoei Ruto, e da Zâmbia, Hakainde Hichilema.

Os três uniram forças para propor soluções práticas para alavancar as finanças globais na África, sublinhando a urgência de uma resposta coletiva e o compromisso do continente com a colaboração global.

Esses líderes descrevem exatamente o que pretendem alcançar. Nesse sentido, cinco áreas se destacam, desde a revisão da arquitetura financeira internacional até o estabelecimento de um quadro institucional, jurídico e regulamentar robusto para gerir os riscos macrofinanceiros de novos fluxos financeiros externos.

Para Das, esse apelo global feito por autoridades demonstra que a África está preparada para receber fluxos de capitais internacionais de forma responsável.

Contudo, ele alerta que, embora o continente continue a ser um destino promissor para investimentos em dívidas, ações e fundos, requer um investimento abrangente e não seletivo, sendo necessária, ainda, uma abordagem ousada para que seja explorado o panorama das finanças globais em geral.

Necessidade de investimentos mais amplos e menos seletivos

Quando se refere ao aporte de capital de forma ampla e menos seletiva, Das enfatiza a necessidade de maior financiamento global significativo e capital privado diretamente no continente.

Isso porque, segundo ele, o conjunto financeiro global não é tão dinâmico como muitos consideram, e uma liquidez mais rigorosa e competitiva em todo o mundo vem impactando todos os investimentos transfronteiriços. 

Como resultado, os fluxos de investimentos tornaram-se cada vez mais seletivos e cautelosos. Mesmo os grandes mercados emergentes, como a China e a Índia, estão experimentando uma preferência pelos fluxos de investimento em carteira em detrimento do investimento direto. 

No entanto, especificamente no caso africano, Das destaca que o foco deveria estar na compreensão dos seus interesses e na razão pela qual foram negligenciados até então pelas finanças globais, o que pede um olhar diferenciado por parte dos mercados externos.

Afinal, existem lacunas a preencher no setor primário e no acompanhamento do ritmo das indústrias futuristas, como as energias renováveis, o hidrogênio verde, a inteligência artificial, os veículos elétricos e os semicondutores, diferentemente do que já ocorre no restante do mundo.

A importância de uma abordagem continental no panorama das finanças globais

Ainda de acordo com Das, apesar dos progressos alcançados nos últimos anos nas esferas regionais – comunidades econômicas, Zona de Livre Comércio Continental Africana e o Programa para o Desenvolvimento de Infraestruturas –, a África continua a apresentar um imenso potencial para alavancar mais plenamente os mecanismos financeiros no âmbito do continente.

Nesse sentido, uma abordagem continental permitiria que a África reunisse recursos, partilhasse infraestruturas e colaborasse em projetos de grande escala. 

Além disso, a integração da produção e de mercados poderiam ser melhor aproveitadas para gerar economias de escala. 

Ademais, como bloco unificado, o continente seria capaz de negociar melhores condições em acordos comerciais, financeiros e de investimento internacionais. 

“A negociação coletiva fortaleceria a África em comparação a países individuais que negociam isoladamente. Uma visão continental também proporcionaria uma oportunidade para mecanismos de rede de segurança contra crises e permitiria a partilha de riscos entre diversas economias – reduzindo a vulnerabilidade a choques localizados”, argumenta Das.

Por fim, uma abordagem continental se justifica porque vários estudos já revelaram que África é a região mais desconectada quando medida pelo movimento de bens, serviços, pessoas e informação.

Nesse cenário, o continente também pode implementar soluções internas para ajudar a promover o fluxo de investimentos e financiamentos, como estimular o comércio interafricano e desenvolver redes regionais de transportes, redes energéticas e de conectividade digital. Isso não só atrairia financiamento de fontes regionais e internacionais, mas também promoveria o crescimento global a longo prazo.

Todos esses esforços, afirma o professor, posicionariam estrategicamente a África no cenário econômico internacional, fazendo com que as finanças globais fossem mais receptivas.

 

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