Assim como aconteceu em outras regiões, a correlação entre o desenvolvimento do setor financeiro e o crescimento econômico vem sendo confirmada na África. Sem uma profunda transformação financeira, a projeção é de que os países africanos continuem atrás de outras nações emergentes em termos de prosperidade econômica.
Embora a digitalização dos serviços bancários e as moedas digitais de banco central (CBDCs na sigla em inglês) tenham começado a se desenvolver em várias partes do continente, é preciso mais para impulsionar uma verdadeira transformação financeira.
Além de fornecer serviços, é necessário que o sistema financeiro tenha a capacidade de intermediar fundos entre investidores e tomadores de empréstimos – assumindo riscos de crédito – para que a mudança do setor e o consequente crescimento sustentável regional sejam possíveis. Afinal, os empréstimos e financiamentos são combustíveis para os setores produtivo e de serviços, porque fortalecem o ambiente de negócios e mantêm a roda da economia girando.
Entretanto, na África, o setor financeiro ainda não conseguiu concretizar plenamente o seu potencial econômico por meio do equilíbrio dessas duas capacidades.
Essa deficiência, por sua vez, acabou contribuindo significativamente para a instabilidade macroeconômica e para as crises financeiras que muitas nações africanas enfrentam. Em artigo veiculado no OMFIF, Udaibir Das, ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e membro do Conselho Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada, discute a importância da transformação financeira do continente.
Para ele, fatores como fricções financeiras, rigidez estrutural, subdesenvolvimento institucional e estruturas inadequadas do sistema financeiro impuseram um estrangulamento à dinâmica de crédito e à estabilidade macrofinanceira regional.
Continente precisa assumir compromissos
Entretanto, Das questiona se o setor financeiro africano está preparado para assumir um papel de maior destaque no crescimento econômico regional.
Ou seja, as instituições financeiras e de governança conseguirão lidar com os novos fluxos financeiros globais e com os riscos que os acompanham, se uma transformação financeira de fato acontecer ali?
Ao analisar a edição 2023 do Índice de Mercados Financeiros Absa África, produzido pelo OMFIF, ele destaca três tendências fundamentais: melhoria das infraestruturas de mercado; aumento das iniciativas ambientais, sociais e de governança; e rápido crescimento das tecnologias digitais e da integração do mercado.
Contudo, a publicação também aponta tendências no sentido contrário, como insuficiências cambiais; fraquezas na gestão do setor externo; e choques externos ao sistema financeiro, tais como a fragmentação geoeconômica e geopolítica.
Nesse cenário convém mencionar que as taxas de juros nas economias avançadas levaram à depreciação da taxa de câmbio, à saída de capitais, bem como ao enfraquecimento das reservas cambiais em toda a África.
Desse modo, Das aponta que o continente deve tomar medidas imediatas para demonstrar o seu compromisso com a transformação financeira e enfrentar os desafios apresentados.
Segundo ele, é preciso aprimorar a capacidade do sistema financeiro de gerir riscos exógenos e abordar explicitamente as ameaças endógenas, bem como afirmar claramente que a governança inadequada de novos recursos, incluindo má conduta financeira ou violação das leis, não será tolerada.
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