O potencial do Open Finance pode estar em risco devido aos custos tecnológicos?

Barreiras financeiras no caminho do Open Finance: a necessidade de investimentos em tecnologia e os custos elevados para novos participantes são pontos que podem limitar seu sucesso.
O potencial do Open Finance pode estar em risco devido aos custos tecnológicos?
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Morgana Tolentino
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O Open Finance Brasil completou dois anos no início de 2023 e, apesar do pouco tempo de funcionamento, o ecossistema tem mostrado tendência animadora de crescimento, batendo recorde de consentimentos e figurando como uma das prioridades das instituições financeiras para este ano. Contudo, ainda é necessário estar atento a barreiras que podem prejudicar o potencial da política. 

Nesse sentido, um ponto de atenção é o alto investimento em tecnologia necessário para entrar no ecossistema e processar a crescente quantidade de dados. Tal fator pode acabar sendo um obstáculo às instituições entrantes – para as quais a participação no Open Finance é voluntária –, as afastando do ecossistema e prejudicando o objetivo inicial de estimular a competição no mercado.

Open Finance Brasil comemora dois anos com resultados animadores

O futuro do setor financeiro promete ser altamente tecnológico e o open finance é parte crucial desse cenário. O desenvolvimento de um sistema aberto promete resolver um problema que se estende há muito tempo no mercado: o monopólio informacional que cria barreiras à entrada e atuação no setor. Uma vez que o usuário ganha o direito de compartilhar seus dados com qualquer instituição, todas estarão em pé de igualdade para fazer ofertas mais apropriadas para cada cliente. 

A ideia é que isso incentive a entrada de novos participantes no mercado, estimulando a competição e promovendo inovação no setor. Visando esses objetivos, o Banco Central lançou o Open Finance que, em dois anos, já contava com a participação de mais de 15 milhões de clientes e algo próximo a 800 milhões de chamadas de APIs por mês, em média. Os resultados são positivos ao ponto de um estudo da Open Banking Excellence em parceria com a universidade de Oxford ter indicado o Brasil como líder no cenário global de open finance.

Assim, os números de adesão são animadores para o início de um projeto de alta complexidade considerado uma “revolução do sistema financeiro” e a expectativa é de aumento dessa adesão com o passar do tempo. Entretanto, o aumento do engajamento de clientes significa o compartilhamento de um número cada vez maior de informações. Isso requer um aumento de investimentos tecnológicos, o que pode ser um entrave ao potencial competitivo do projeto. 

Open finance: entraves freiam ganhos de competição?

O ganho de maturidade do ecossistema representa um crescimento na quantidade de dados compartilhados, o que aumenta a importância da capacidade de armazenamento e processamento desses dados, exigindo investimentos em tecnologia para garantir eficácia e segurança nesse processo.

O desenvolvimento do open finance, à primeira vista, pode representar uma ligeira vantagem para novos entrantes, sobretudo fintechs, com modelos de negócios altamente baseados em novas tecnologias financeiras e análise de dados. Contudo, o ganho de maturidade do ecossistema representa um crescimento na quantidade de dados compartilhados, o que aumenta a importância da capacidade de armazenamento e processamento desses dados, exigindo investimentos em tecnologia para garantir eficácia e segurança nesse processo.

Caso não haja ações específicas para lidar com essa questão, um possível efeito colateral é que possíveis novos entrantes acabem se afastando do ecossistema. Isso porque o investimento em capacidade computacional e cibersegurança exige robustos aportes de capital e, considerando o poder financeiro dos grandes players do mercado financeiro, essa necessidade de altos investimentos pode acabar se tornando uma vantagem para os incumbentes e uma barreira à entrada e atuação dos novos players.

É importante ainda lembrar que esses grandes players também contam com largas bases de clientes estabelecidos, a confiança de muitos desses clientes e uma ampla expertise na análise de dados financeiros, resultados de longos anos em atuação no mercado. 

A preocupação que fica, então, é da possibilidade de que o nível de investimento necessário para participar do open finance se torne uma barreira para a entrada dos participantes voluntários, comprometendo o crescimento e o amadurecimento do ecossistema e limitando o seu potencial de estimular competição.  É necessário, portanto, que essa questão esteja presente nos debates acerca do modelo de governança e no desenvolvimento das normativas do Open Finance Brasil, por exemplo, a fim de garantir que a política gere os benefícios esperados sem, obviamente, descuidar da segurança do ecossistema.

 

Morgana Tolentino é pesquisadora do Instituto Propague e doutoranda em economia pela UFRJ.

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