Finfluencers e educação financeira: é preciso ter regras do jogo

Regras para finfluencers: democratização da educação financeira e proteção ao consumidor precisam andar juntas
Finfluencers e educação financeira: é preciso ter regras do jogo
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Bruna Cataldo
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Assim, garantir a proteção do consumidor é primordial para que redes sociais realmente sejam consolidadas como um dos principais meios de expansão da educação financeira. 

O crescimento das redes sociais impulsionou um fenômeno conhecido no mundo como finfluencers: produtores de conteúdo que disponibilizam educação financeira em redes sociais para consumo em massa. O fenômeno tem grande potencial de democratizar a educação financeira, mas também pode ser prejudicial. Assim, garantir a proteção do consumidor é primordial para que redes sociais realmente sejam consolidadas como um dos principais meios de expansão da educação financeira. 

Finfluencers no Brasil: o boom da educação financeira digital

No Brasil, a atuação de finfluencers só cresce. A ANBIMA monitora a atuação para o mercado de investimentos – mais afetado pelo fenômeno – desde 2020 e identificou que o alcance cresceu 76% nos 2 anos subsequentes. Mais especificamente, os seguidores de influenciadores de educação financeira ultrapassaram 165 milhões em 2022. A B3 também identificou, em 2020, que 73% dos brasileiros buscam educação financeira no YouTube ou com finfluencers

Diretrizes internacionais ainda destacam que o potencial da oferta digital de educação financeira, incluindo em redes sociais, é enorme. OCDE, IOSCO, Banco Mundial e G20 todos reforçam, pelo menos desde 2016, o papel desse tipo de educação financeira em suas diretrizes sob o argumento da possibilidade de aumentar a escala e diminuir custos. 

Também apontam o potencial da modalidade de melhorar a personalização e – desse modo – conectar melhor com públicos mais diversos. Esse fenômeno foi identificado nos EUA: 78% dos entrevistados pela Forbes que pertenciam a grupos historicamente oprimidos acreditavam ter mais acesso à educação financeira por redes sociais do que seriam capazes de acessar sem elas. 

No entanto, os mesmos documentos apontam riscos: propagação de informações falsas e de baixa qualidade, além de conflitos de interesse. No Brasil, o fato do alcance de finfluencers institucionais e/ou certificados profissionalmente ser bem menor e pouco passar de 40 milhões de seguidores sugere que podemos estar sujeitos a tais problemas, já registrados em outros lugares. Um estudo do Swiss Finance Institute encontrou, por exemplo, que 56% da educação financeira em mídias digitais foi prejudicial ao consumidor contra 28% positivos.

Reguladores se movimentam: finfluencers podem ter que seguir regras para continuar produzindo conteúdo

Esse rápido crescimento dos finfluencers e  potencial impacto negativo está chamando atenção de reguladores. Alguns países já impõem diretrizes para garantir a qualidade das informações compartilhadas no meio de educação financeira digital, como Austrália e Singapura. Outros discutem fazer o mesmo, como Brasil e Reino Unido, que colocaram diretrizes para discussão em 2023. Há ainda casos como dos EUA, que está processando influenciadores que atuam fora das regras existentes para aconselhamento financeiro e já multou  celebridades como Kim Kardashian e Tom Brady.  

Independente da forma de ação, as principais preocupações dos reguladores são comuns: garantir que finfluencers não promovam produtos duvidosos/fraudulentos e que haja divulgação de conflitos de interesse e parcerias comerciais. Também há a intenção de incentivar que influenciadores divulguem suas qualificações para aumentar a transparência. 

No Brasil, o primeiro foco da CVM é tornar obrigatório o alerta sobre material patrocinado por empresas do setor e detenção de posições pessoais. Esse tipo de movimento regulatório, que está ocorrendo a nível global, é positivo. As redes sociais já são vistas como uma forma de aumentar a escala e reduzir custos na oferta de educação financeira, além de serem a preferência do público. 

O que limita a consolidação do modelo, portanto, é justamente a baixa qualidade e falta de proteção do consumidor. Assim, são uma oportunidade, mas é essencial ter regras claras para garantir a integridade do conteúdo e proteger o público contra informações enganosas. Tendo esse ambiente regulatório adequado, finfluencers contribuirão melhor para o crescimento da capacidade financeira da nova sociedade digital.

 

Bruna Cataldo é pesquisadora do Instituto Propague e doutoranda em economia pela UFF.

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