Apesar de o dólar norte-americano ser a moeda de reserva internacional, o yuan também vem galgando posições à medida que o comércio dos demais países com a China avança. Atualmente, o yuan está na quarta colocação em participação nos pagamentos globais (3,2%), ainda atrás da libra e do euro, além do dólar, segundo o RMB Tracker da SWIFT de janeiro de 2022. Nesse sentido, uma das apostas dos chineses para aumentar tal participação é o Cross-Border Interbank Payment System (Sistema de Pagamento Interbancário Transfronteiriço, na tradução livre), também conhecido como China Interbank Payment System (Sistema de Pagamento Interbancário da China), o Cips.
Quando esse sistema foi lançado em 2015, alguns analistas de mercado chegaram a afirmar que poderia ser o meio pelo qual a China superaria as barreiras para a globalização do yuan. Entretanto, passados quase sete anos, o Cips ainda opera à margem do SWIFT, código que representa o principal sistema para pagamentos internacionais, que tem como moeda dominante o dólar dos Estados Unidos (EUA).
Porém, isso não quer dizer que o Cips não tenha avançado ou que não tenha potencial para crescer, de modo que é importante saber em que consiste o sistema chinês de pagamentos internacionais.
O que é o Cips?
O Cips entrou em cena com o apoio do Banco Popular da China (PBOC), que o supervisiona. Inicialmente um sistema de pagamentos e liquidação doméstico, passou a permitir transações internacionais em yuan a partir de outubro de 2015, conectando os mercados de compensação onshore e offshore e os bancos participantes.
Antes, a liquidação do yuan além-fronteiras era realizada por meio de um dos bancos de liquidação offshore da moeda em localidades como Hong Kong, Singapura e Londres. Isso também acontecia com a ajuda de um banco correspondente na China continental.
Mas à medida que o comércio e o investimento com o resto do mundo cresceram, o país resolveu expandir o Cips para pagamentos internacionais como um esforço não apenas de reduzir os custos das transações e o tempo de processamento, mas também para aumentar o uso global da moeda local.
Nem mesmo após o yuan passar por um aumento de sua inclusão na cesta de direitos especiais de saque do Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2015 o uso global da moeda chinesa ainda não correspondia ao esperado.
Na verdade, a missão de internacionalizar o uso do yuan começou, ainda em 2009 com foco inicial na liquidação comercial. Contudo, ganhou mais importância depois que o país iniciou a ambiciosa estratégia de desenvolvimento batizada de “Belt and Road” (Cinturão e Rota na tradução direta), que envolve centenas de bilhões de yuans em investimentos chineses no exterior.
Quem usa o Cips?
De acordo com a mídia estatal chinesa, o Cips compensou e liquidou cerca de 80 trilhões de yuans (aproximadamente US$ 12,6 trilhões) em 2021, isso corresponde a uma elevação de 75% em relação ao ano anterior. Em fevereiro desse ano, a CIPS Co. Ltd., a empresa que opera o sistema, informou que 1.288 instituições financeiras em 104 países e regiões estão conectadas. Isso inclui 76 participantes diretos e 1.212 indiretos. Quando tudo começou eram apenas 19 participantes diretos e 176 indiretos de 50 países e regiões.
Entre os participantes indiretos, 936 são da Ásia (incluindo 540 da China), 164 da Europa, 43 da África, 29 da América do Norte, 23 da Oceania e 17 da América do Sul.
Além disso, conforme dados do Qichacha, um provedor chinês de informações que usa fontes oficiais de registro de empresas, o Cips conta com vários bancos internacionais como acionistas, a exemplo do Australia and New Zealand Banking Group, Bank of East Asia, BNP Paribas, Citi, DBS Bank, HSBC e Standard Chartered.
Ademais, a unidade do Standard Chartered Bank Ltd em Hong Kong disse, em comunicado de fevereiro de 2022, que se tornou o primeiro banco estrangeiro qualificado como participante direto do Cips fora da China continental.
Como o sistema funciona?
Os participantes diretos abrem uma conta no Cips e enviam e recebem mensagens diretamente pelo sistema. Enquanto isso, os participantes indiretos têm acesso aos serviços prestados pelo Cips por meio dos participantes diretos.
Contudo, por enquanto, o Cips ainda depende do SWIFT no que tange ao envio e recebimento de mensagens financeiras internacionais. Entretanto, alguns especialistas apontam que ele tem potencial para operar como uma ferramenta independente e possuir uma linha de comunicação própria ligando diretamente as instituições financeiras. No entanto, ainda não se tem um planejamento para que isso aconteça.
Em sua primeira fase, o Cips possibilitava que os participantes fora da China liquidassem transações em yuan diretamente com seus correspondentes chineses entre 9h e 20h, horário de Pequim, em dias úteis, sob um formato de codificação de acordo com a prática internacional.
Contudo, em 2018, de acordo com a Dow Jones Newswires, uma segunda fase do sistema juntou, incialmente, dez bancos chineses e estrangeiros para começar os testes para que o Cips passasse a cobrir horas de trabalho de diferentes mercados de todo o mundo. Ainda no mesmo ano, essa segunda fase já estava em plena operação. Mais recentemente, a operadora, adotou o ISO20022, o padrão global e aberto emergente para mensagens de pagamentos.
Como o Cips se compara ao SWIFT?
Além de uma possível alternativa ao Swift, o Cips também pode ser visto, apontam alguns especialistas, como uma opção ao Clearing House Interbank Payments System (Chips), outro importante sistema de mensagens financeiras internacionais, liderado pelos norte-americanos, com sede em Nova York.
A diferença, defendem bancos e empresas chinesas, é que o Cips pode servir como um sistema de mensagens sem o risco de expor suas informações de transações aos EUA.
Porém, até então, ele se mostra muito menor que o SWIFT, que é usado por 11.000 instituições financeiras em 200 países e regiões, incluindo quase 600 bancos chineses, contra apenas 1.280 instituições financeiras em 103 países e regiões, que é a base do Cips.
Atualmente, a sede do Cips fica no centro financeiro de Shangai, emprega mais de 100 pessoas e possui capital registrado, conforme sua operadora, no valor de 2,38 bilhões de yuans (aproximadamente 375 milhões de dólares).
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