Embora em estágios distintos, a digitalização financeira vem alcançando quase todos os países. Nos pagamentos não poderia ser diferente, sendo este um dos segmentos mais beneficiados nesse processo. Domesticamente já bem resolvidas, o foco é cada vez maior nas transações transfronteiriças, visando a operações mais rápidas, transparentes e com menor custo.
Nesse sentido, diversos estudos e experiências se destacam, mas a mais recente, capitaneada pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS na sigla em inglês) e sete bancos centrais, vem ganhando mais visibilidade, visto que almeja uma grande reformulação da infraestrutura global de pagamentos por meio da tokenização.
Batizada de Projeto Agorá, a iniciativa pretende superar as deficiências dos pagamentos transfronteiriços atualmente existentes, tendo como base a construção de uma plataforma única conectando moedas digitais de banco central (CBDCs) e formas tokenizadas de depósitos em dinheiro de bancos comerciais.
Juntamente com o BIS, participam do projeto as autoridades monetárias da França (representando o Eurosistema), Japão, Coreia do Sul, México, Suíça e Inglaterra, além do Federal Reserve Bank (FED) de Nova Iorque.
Além disso, essas instituições deverão conduzir a experiência em parceria com um grande grupo de empresas financeiras privadas, reunidas por meio do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), que possui 400 membros de 60 países.
Como a plataforma pretende abordar os pagamentos?
Segundo o BIS, o experimento é ancorado na construção de um livro-razão unificado, por meio do qual os participantes do projeto vão investigar como os depósitos tokenizados de bancos comerciais podem ser integrados com CBDCs de atacado.
Em outras palavras, trata-se de uma plataforma financeira central público-privada, capaz de aprimorar a operação do sistema monetário, fornecendo novas soluções de pagamentos através de contratos inteligentes e programabilidade do dinheiro, mantendo, paralelamente, uma estrutura de dois níveis.
Ainda de acordo com o BIS, os contratos inteligentes deverão viabilizar novas formas de liquidação, desbloqueando transações até então inviáveis ou pouco práticas, beneficiando indivíduos e empresas.
Como resultado, a plataforma em teste procurará transpor as principais ineficiências estruturais na maneira como os pagamentos ocorrem na atualidade, especialmente as operações internacionais, que trazem uma série de desafios.
Entre eles, é possível citar: requisitos legais e técnicos distintos; horários de funcionamento e fusos horários variados; e a maior complexidade na realização de controles de integridade financeira (por exemplo, contra lavagem de dinheiro e verificação de clientes), que hoje são muitas vezes repetidos diversas vezes para a mesma transação, dependendo da quantidade de intermediários envolvidos.
Para a condução do projeto, o BIS informou que, em breve, lançará um edital de manifestação de interesse para instituições financeiras privadas aderirem à iniciativa, com o IIF atuando como intermediário na convocação dos bancos privados.
Tokenização avança mais no Brasil do que em outros países
Enquanto o BIS, assim como outras entidades, explora o potencial da tokenização nos pagamentos, o Brasil vem se colocando em posição de destaque no contexto internacional. É o que revela um novo estudo da Adyen, uma empresa de pagamentos de origem holandesa.
Conforme o estudo, a adesão das empresas brasileiras às novas tecnologias ganha destaque, com 25% adotando a tokenização nos pagamentos, índice 56% acima do resultado global que é de apenas 16%. Além disso, 72% das organizações já usam a inteligência artificial para prevenir fraudes nas transações.
Já quando se considera os indivíduos, 31% das pessoas entrevistadas estão preferindo realizar pagamentos digitais, percentual também superior ao dado global que é de 27%.
Os números divulgados são uma prévia da edição 2024 do Relatório de Varejo, publicado anualmente pela empresa, e que foram recentemente apresentados à imprensa especializada.