O casamento entre inteligência artificial (IA), especificamente IA generativa, e ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) é a mais nova aposta do Banco de Compensações Internacionais (BIS) e alguns de seus parceiros como estratégia no combate às mudanças climáticas.
A iniciativa, batizada de Projeto Gaia, está sendo conduzida pelo Centro de Inovação do BIS juntamente com o Banco Central da Espanha, o Banco Central da República Federal da Alemanha e o Banco Central Europeu (BCE).
A expectativa é de que os resultados obtidos possam auxiliar analistas e supervisores a pesquisar divulgações corporativas relacionadas com o clima e a extrair dados de forma rápida e eficiente, com o suporte da IA generativa, sobre indicadores como emissões totais, emissões de títulos verdes e compromissos voluntários de emissões líquidas de carbono zero.
Estudos recentes, como o publicado pelo Gartner Group, confirmam que IA e ESG podem caminhar juntos liderando as tendências e iniciativas da atualidade.
Isso porque a IA generativa, utilizando algoritmos de aprendizado de máquina, apresenta capacidade de processamento de dados e de análise preditiva avançada, podendo desempenhar um papel essencial na identificação, acompanhamento e redução dos desafios ambientais.
Como a IA generativa fundamenta a iniciativa
A aplicação de IA generativa no projeto tem como base os Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs na sigla em inglês) e consiste em extrair, automaticamente, indicadores relacionados com o clima a partir de relatórios empresariais disponíveis na internet.
Segundo o BIS, esse modelo demonstrou que é possível automatizar a tarefa de identificar indicadores em um grande conjunto de documentos, reduzindo significativamente o esforço manual das avaliações climáticas.
Isso porque os LLMs têm como principal característica entender, memorizar padrões sobre como palavras e frases são comumente utilizadas em conjunto e gerar textos a partir de uma base extensa de dados.
Apesar de já existirem há algum tempo, os LLMs ganharam mais notoriedade depois do aparecimento do ChatGPT.
Ainda de acordo com o BIS, o projeto inclui 20 indicadores-chave de desempenho para 187 instituições financeiras no período 2018-2022. Contudo, novas instituições ou indicadores podem facilmente ser acrescentados sempre que necessário.
Ao avaliar os resultados obtidos, Raphael Auer, chefe do Centro de Inovação do BIS na Europa, comemorou o fato de o Projeto Gaia ter demonstrado o potencial da IA generativa para agilizar as operações dos bancos centrais, sendo capaz de transformar a maneira como as autoridades monetárias trabalham, oferecendo um modelo para um progresso eficiente e baseado em dados.
Ainda segundo ele, a iniciativa é considerada um avanço importante no caminho para a compreensão e adaptação da IA generativa à cultura de inovação do sistema financeiro, pois as aplicações e sinergias potenciais dessa tecnologia são quase ilimitadas.
Busca por dados de qualidade
No relatório de apresentação do projeto, o BIS ressaltou que os bancos centrais, os supervisores e as instituições financeiras em geral precisam de informações disponíveis e de qualidade elevada para analisar os riscos financeiros decorrentes das alterações climáticas. Tal tarefa tem sido difícil dada a falta de padrões globais de relatórios.
Nesse contexto, o Projeto Gaia conseguiu transpor as diferenças nas definições e nos quadros de divulgação entre jurisdições, oferecendo a transparência necessária para facilitar a comparação de informações envolvendo as ameaças financeiras relacionadas ao clima.
“No mundo de hoje, guiado por dados, o desafio vai além de reunir informações, mas também dar sentido a isso, e o Gaia enfrentou a questão, transformando dados não estruturados em percepções acessíveis, capacitando os bancos centrais a transitar melhor pelas complexidades dos relatórios de sustentabilidade”, declarou Joachim Nagel, presidente do Banco Central da República Federal da Alemanha.
Ademais, por conta do seu design flexível, a ferramenta poderá servir de referência para aplicações de IA generativa em uma ampla gama de casos de uso para o setor financeiro.
Desse modo, segundo Agustín Carstens, gerente geral do BIS, o banco e seus parceiros não estão apenas acompanhando o ritmo atual da digitalização, mas também gerando novos insights a partir da IA generativa, possibilitando uma abordagem mais rápida dos riscos emergentes.
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