Os riscos climáticos estão sendo cada vez mais incorporados à gestão de riscos e às estruturas prudenciais. Nesse sentido, os planos de transição de instituições financeiras, ou não financeiras, têm um crescente papel como fonte de informação para autoridades e investidores avaliarem ameaças à sustentabilidade.
Razão pela qual as organizações estão sujeitas a verificações constantes sobre suas divulgações ESG e, consequentemente, precisam atentar para a credibilidade dos dados divulgados e das declarações feitas publicamente.
Segundo especialistas em sustentabilidade, sem que haja preocupação com essa questão, existe risco reputacional oriundo, especialmente, de acusações de greenwashing.
Portanto, o que se defende é que as organizações devem buscar uma comunicação eficaz sobre sustentabilidade, o que envolve as métricas pertinentes às suas respectivas atividades, como as emissões de gases de efeito estufa, ao mesmo tempo em que cresce a pressão dos investidores e das autoridades por resultados.
Além disso, os analistas de mercado afirmam que inserir a sustentabilidade no foco da estratégia corporativa também traz dividendos financeiros.
A saber, conforme um artigo publicado pela Agência EY, cerca de 70% de um grupo de mais de 500 empresas alinhadas em aprimorar sua performance ambiental relataram que captaram volume de capital acima do esperado em suas iniciativas relacionadas ao clima.
Dessa forma, ações coordenadas em todo mundo, envolvendo autoridades normativas, organismos internacionais e estudiosos, têm buscado melhorar a qualidade dos dados ESG, ao passo que almejam chegar a um denominador comum para os padrões globais de divulgação das ações e resultados sobre sustentabilidade.
Roteiro climático sinaliza próximos passos
Entre as iniciativas recentes, uma das que mais se destacam é o Roteiro do Conselho de Estabilidade Financeira (FSB) para abordar os riscos financeiros associados ao clima.
Um relatório especificando o progresso das ações e áreas que demandam maior atenção em relação à sustentabilidade foi entregue aos ministros das finanças e presidentes de bancos centrais do G20, grupo das vinte maiores economias globais, reunidos em julho deste ano na Índia.
De modo geral, o trabalho se concentra em melhorar a disponibilidade, qualidade e comparabilidade transfronteiriça de dados climáticos e desenvolver estruturas conceituais e métricas para monitorar vulnerabilidades relacionadas ao clima.
Segundo o FSB, há avanços em todos os quatro segmentos do roteiro: divulgações no âmbito das empresas, dados, análise de vulnerabilidades e práticas e ferramentas regulatórias e de supervisão.
No primeiro segmento, por exemplo, a publicação dos padrões finais do Conselho Internacional de Padrões de Sustentabilidade (ISSB) sobre divulgações gerais relacionadas à sustentabilidade e ao clima – servirão como um arranjo global para as divulgações de sustentabilidade e possibilitarão que as publicações de diferentes empresas em qualquer parte do mundo sigam uma base comum.
Para isso, a prioridade, agora, é a validação desses padrões pela Organização Internacional de Comissões de Valores Mobiliários (IOSCO) para que as autoridades adotem, apliquem ou utilizem de maneira robusta e oportuna, refletindo as circunstâncias de cada jurisdição.
Quanto aos dados, o principal objetivo é criar repositórios globais que forneçam acesso aberto e facilitem o uso de métricas que reflitam os riscos relacionados ao clima de forma consistente e confiável em todos o mundo.
No entanto, verificou-se a necessidade de mais trabalho para incorporar os cenários climáticos no monitoramento das vulnerabilidades financeiras e aumentar o conhecimento sobre a propagação transfronteiriça e intersetorial dos choques climáticos no sentido de obter informações sobre a estabilidade financeira.
Promoção da sustentabilidade na cultura organizacional
Em paralelo aos esforços dos reguladores e entidades internacionais em prol da sustentabilidade, especialistas em ESG dentro e fora das empresas também se movimentam para melhorar a qualidade dos dados e promover uma comunicação eficaz e confiável de suas ações ao mercado.
Em uma série de artigos, Katharina Weghmann, líder global da EY em ESG, serviços forenses e de integridade, publicados por meio da Agência EY, é uma das que trabalhou nessa direção.
No mais recente deles, ela aponta como as empresas podem trabalhar para aprimorar os dados que divulgam, assim como o que elas podem fazer pela cultura organizacional nesse aspecto.
Conforme disse, garantir dados confiáveis e perfeitamente mensuráveis é essencial para proteger as empresas de eventuais acusações de greenwashing. Dessa forma, elas devem adotar uma abordagem capaz de identificar os pontos fracos e o potencial de manipulação de dados, criando alertas em toda as áreas das organizações.
Enquanto isso, emenda, deve-se implementar uma estratégia rigorosa de dados e de relatórios com o propósito de dar suporte a uma visão do progresso das corporações em direção a metas e iniciativas para diminuição das emissões de carbono, desenvolvendo, assim, confiança tanto interna como externamente.
E para que se atinja esses objetivos, é preciso que haja uma perspectiva transparente e realista para as questões ESG incentivada em toda a empresa, com o comprometimento de toda liderança, inclusive do CEO.
Ademais, conclui, é importante que essa abordagem não seja apenas centrada nas ameaças ou defesa da organização. Ou seja, também se deve buscar alternativas e inovações que a agenda de sustentabilidade pode oferecer às empresas direcionadas para o futuro.
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