ESG: veja como as instituições financeiras brasileiras divulgam seus indicadores

O grau de maturidade das organizações em relação aos temas tratados nas suas agendas de sustentabilidade demonstra porque não é dada a mesma importância a todos os parâmetros.
ESG: veja como as instituições financeiras brasileiras divulgam seus indicadores
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Equipe Propague
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Os relatórios ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança) trazem métricas e indicadores sobre como as organizações lidam com a sustentabilidade, além de informações sobre impactos gerados para os negócios e a comunidade. Cada vez mais, esse tipo de documento conquista espaço junto com os informativos financeiros no âmbito das divulgações corporativas.

Além de garantir a transparência, os relatórios promovem um volume de informações capaz de orientar e atrair investidores e outras partes interessadas na tomada de decisões com base no desempenho das organizações em relação aos aspectos ESG, porém, o que se observa, é que nem todos os indicadores disponíveis são considerados importantes pelas empresas.

No caso das instituições financeiras, por exemplo, uma pesquisa divulgada pela consultoria EY constatou que as emissões de carbono e a estrutura e diversidade da sua força de trabalho são as duas métricas ESG mais visadas e consequentemente mais reportadas pelos bancos no Brasil.

Por outro lado, a saúde financeira do consumidor; a biodiversidade e o uso da terra; e a saúde e bem-estar dos colaboradores são os três indicadores com menos destaque nos relatórios ESG das instituições financeiras no país.

No que tange outros indicadores, as informações de propósito e engajamento com a comunidade; treinamento, aprendizagem e desenvolvimento; assim como a atração, a retenção e rotatividade de funcionários, começaram a ser reportadas de maneira mais consistente pelas instituições financeiras brasileiras, de acordo com a pesquisa.

Porém, além do desempenho dos indicadores e ausência de orientação na escolha das métricas a serem registradas, outro desafio reflete diretamente na qualidade dos relatórios ESG: a não padronização das informações e classificação utilizadas, ou seja, a ausência do que se convencionou chamar de taxonomia sustentável.

Padrões de divulgação ESG e os reflexos nos relatórios

Para chegar aos resultados sobre o desempenho desses e outros indicadores, a EY analisou 13 instituições financeiras no país, incluindo bancos, seguradoras, cooperativas e gestores de ativos, tomando como base os relatórios divulgados em 2022, com dados referentes ao ano de 2021.

De acordo com Rafael Schur, sócio da empresa e líder do segmento de Mercado de Serviços Financeiros para o Brasil, não é surpresa que “emissões de carbono” seja o indicador mais discutido nos relatórios ESG das instituições financeiras brasileiras.

Isso porque tal critério contempla inventários de emissões; nível de aderência à TCFD (sigla em inglês para força-tarefa sobre divulgações financeiras relacionadas ao clima); e as responsabilidades e metas de carbono alinhadas aos acordos internacionais.

Para o executivo, esse resultado corresponde ao grau de maturidade das instituições financeiras em relação a esse tema específico nas suas agendas ESG. Considerando que as mudanças climáticas se tornaram um tópico central em diversos debates internacionais, incluindo o meio financeiro e corporativo, é natural que esse indicador venha sendo o mais discutido. Além disso, soma-se a chegada da TCFD com seu modelo de divulgação de dados ESG e as recomendações de divulgação da Organização Internacional de Valores Mobiliários (IOSCO) que incentivaram a incorporar aspectos climáticos e ambientais na gestão e planejamento das empresas.

Por outro lado, Schur ressalta que a pauta de biodiversidade ainda é relativamente incipiente na agenda de sustentabilidade das instituições financeiras. Porém, a expectativa é de que as divulgações acerca da biodiversidade cresçam à medida que se aumenta a sensibilização sobre o tema, somado à adesão a estruturas de referência e a implementação de práticas e iniciativas que futuramente serão divulgadas.

Demanda por transparência

Conforme a EY, o estudo segue uma metodologia desenvolvida pela própria empresa, considerando um grupo de mais de 100 indicadores. Entre eles estão as divulgações ESG; informações não financeiras que influenciam o desempenho financeiro das organizações; riscos e oportunidades, e, ainda, partes interessadas como clientes, colaboradores, comunidades e consumidores.

Segundo a consultoria, o desenvolvimento dessa metodologia se baseou nas diversas agendas internacionais que procuram entender a atuação das empresas em sustentabilidade, dando, assim, uma resposta mais efetiva às demandas dos investidores por transparência.

Suportam a metodologia da EY as métricas do Fórum Econômico Mundial (WEF na sigla em inglês); da Coalizão para o Capitalismo Inclusivo (EPIC), um conjunto de parâmetros padronizados e comparáveis para a mensuração de atividades que estabelecem valores de longo prazo e que impactam as partes interessadas; e do Conselho Padrão de Contabilidade de Sustentabilidade (SASB), cuja padronização possibilita que as organizações forneçam divulgações ESG fundamentadas no setor, envolvendo riscos e oportunidades que atingem o valor das empresas.

Confira ainda: ESG gera expectativas distintas entre empresas e investidores

Desafios e oportunidades de melhoria nas divulgações ESG

Ao lado do desempenho dos indicadores ESG no âmbito das divulgações das instituições financeiras no Brasil, a pesquisa também identificou os pontos fortes e as oportunidades de melhoria para os relatórios.

Nesse sentido, uma das maiores dificuldades apontadas pelos entrevistados é a adaptação aos diferentes modelos de publicação existentes.

Dessa forma, as instituições financeiras brasileiras ouvidas no estudo acreditam que a evolução dessa questão deve se favorecer dos progressos obtidos através das discussões no escopo do Conselho Internacional de Padrões de Sustentabilidade (ISSB) e dos requisitos definidos na regulação ESG brasileira, articulada pelo Banco Central, a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Em conjunto, eles exercem influência nos relatórios sobre sustentabilidade e clima, à medida em que adotam conceitos, taxonomias, práticas e uma estrutura de relatório fundamentada no TCFD, atualmente uma referência global.

Taxonomia sustentável e o impulso do Brasil rumo a uma economia mais verde

Citada pelo estudo da EY entre os desafios e oportunidades de aprimoramento dos relatórios ESG, a formulação de uma classificação capaz de orientar não apenas o setor financeiro, mas toda a economia brasileira em direção a um formato mais sustentável e regenerativo, está caminhando para se tornar realidade no Brasil.

Acompanhando uma tendência global que já é realidade em diversos países e regiões, como é o caso do Sudeste asiático, por exemplo, espera-se que o projeto brasileiro caminhe para um futuro próximo. A intenção do governo federal é que as diretrizes gerais da taxonomia sustentável brasileira sejam apresentadas na conferência do clima da Organização das Nações Unidas (COP) em 2028.

Por meio de uma entrevista coletiva, técnicos da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda revelaram que pretendem começar o desenvolvimento da ferramenta já em 2024, com a introdução de um plano de implementação permanente até 2026.

Conforme eles adiantaram, além de mobilizar investimentos e fomentar inovações tecnológicas para esverdear a economia, a meta da taxonomia sustentável brasileira é ter uma estrutura sólida para a produção e divulgação de informações confiáveis relacionadas aos relatórios ESG.

 

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